Relator de denúncia contra Temer é descendente de José Bonifácio e teve R$ 8 mi em emendas aprovadas
“Sr. Presidente, voto ‘sim’, a favor das instituições e do progresso do Brasil”, declarou em plenário o deputado federal Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) no último 2 de agosto, ao rejeitar a primeira denúncia apresentada pela PGR (Procuradoria-Geral da República) contra o presidente Michel Temer (PMDB) por corrupção passiva.
Menos de dois meses depois, Andrada será novamente confrontado com uma peça contra Temer. Desta vez, entretanto, o deputado foi incumbido da tarefa de relatar a seus pares um parecer sobre a segunda denúncia em desfavor do peemedebista por organização criminosa e obstrução de Justiça na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) na Câmara dos Deputados.
Como relator do caso, que também inclui os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), ele será responsável por elaborar um relatório a favor ou contra a peça do ex-procurador-geral Rodrigo Janot. A apresentação do documento acontecerá após as falas de membros da comissão e dos advogados dos acusados.
Deputado mais velho em atividade na Câmara, Andrada tem 87 anos e está no 10º mandato consecutivo na Casa, depois de ser eleito para o posto pela primeira vez em 1979. Descendente de José Bonifácio de Andrada, Patriarca da Independência e tutor do imperador Dom Pedro II, o parlamentar representa a quinta geração de um clã que começou a trajetória parlamentar em 1821, ainda nas Cortes Portuguesas, em Lisboa, segundo reportagem do Congresso em Foco.
Nas primeiras eleições diretas pós-ditadura, em 1989, vencidas por Fernando Collor de Mello, Bonifácio de Andrada compôs a chapa do PDS (hoje PP) como vice de Paulo Maluf na disputa pela Presidência. Maluf é amigo de Temer e tem defendido que o presidente é inocente de todas as acusações feitas.
Andrada iniciou sua vida política como vereador de Barbacena (MG), aos 22 anos. Antes de ser tornar deputado federal pela primeira vez, em 1979, ainda filiado ao Arena, o parlamentar foi deputado estadual da Assembleia Legislativa de Minas Gerais por quatro ocasiões, entre 1959 e 1975.
Entre 1987 e 1988, o agora relator da denúncia contra Temer na CCJ participou, assim como o presidente, da Assembleia Constituinte que originou a atual Constituição brasileira. Ele defendia a implementação do parlamentarismo, mas foi derrotado.
Em 2015, ele se elegeu para seu 10º mandato consecutivo na Câmara após receber 83.628 votos dos mineiros.
Em uma das raras manifestações no plenário da Casa --em 2017, apenas sete foram registradas no sistema da Câmara--, Andrada fez longo discurso defendendo que o STF (Supremo Tribunal Federal) cometeu ato inconstitucional ao decretar a prisão do deputado federal Celso Jacob (PMDB-RJ), em julho desse ano.
"Hoje é o deputado Celso Jacob. Amanhã poderá ser qualquer outro dos nossos colegas que no momento esteja na mesma situação, dentro da vida jurídica e judicial do país", declarou.
R$ 8 mi em emendas
De acordo com levantamento da ONG Contas Abertas, Andrada conseguiu o empenho de R$ 8.019.780 em emendas impositivas em junho e julho deste ano. O período coincide com as datas de tramitação da primeira denúncia contra Temer na Câmara. A época foi também a de maior autorização de empenhos de emendas para os parlamentares.
O Planalto sempre negou que exista conexão entre a liberação com a busca de apoio pela rejeição da denúncia.
Embora o deputado mantenha um alto padrão de vida, reportagem da Folha indica que ele tem uma dívida de R$ 107 milhões com a União.
Defesa de Temer e críticas ao PT
Em publicações nas redes sociais e em seu blog, Andrada já afirmou que a delação da JBS ao Ministério Público trouxe “insegurança jurídica ao país”. O acordo de colaboração premiada dos executivos da empresa é justamente o ponto principal da denúncia contra Temer por obstrução da justiça.
Em outro texto dois dias após a rejeição da primeira denúncia em plenário, Andrada afirmou que críticas a Temer eram “desrespeitosas e sem concordância real com os fatos, visando prejudicar a imagem do Presidente da República”.
Em um trecho, o deputado decano diz que “na verdade os brasileiros estão cansados das lembranças negativas do governo do PT. Por isso, o povo olhava as informações contra Temer com desinteresse, observando no presidente uma personalidade que pode trazer ao País estabilidade e crescimento da economia”. Em seguida, elogiou as reformas propostas pelo Planalto, como a trabalhista, como “novas perspectivas de desenvolvimento”.
Redes sociais
Bonifácio de Andrada mantém perfis nas principais redes sociais e se mostra ativo nelas. No Facebook, por exemplo, ele relata os trabalhos da Câmara e a atuação como deputado, sempre com fotos, quando possível.
Em algumas imagens, é possível vê-lo ao lado do alto escalão do PSDB, como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e de ministros de Temer, inclusive Moreira Franco, acusado na segunda denúncia e alvo de seu futuro parecer.
Outras fotos incluem Andrada com o ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, e um integrante da chamada “tropa de choque” do presidente, deputado Carlos Marun (PMDB-MS).
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.