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"Até quando vão me perseguir", diz Lula sobre ação da polícia na casa do filho

7.out.2017 - O ex-presidente Lula participa do encontro "Mulheres do PT", em Brasília - Mateus Bonomi/Folhapress
7.out.2017 - O ex-presidente Lula participa do encontro "Mulheres do PT", em Brasília Imagem: Mateus Bonomi/Folhapress

Do UOL, em São Paulo

16/10/2017 18h19Atualizada em 16/10/2017 21h53

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou publicamente, pela primeira vez, nesta segunda-feira (16), sobre a ação de busca e apreensão realizada pela Polícia Civil na residência do seu filho mais velho, Marcos Cláudio Lula da Silva, na última quarta (11), em Paulínia, no interior de São Paulo.

Lula afirmou tratar-se de “mais uma ação de perseguição contra ele” e que, até agora, não ouviu nenhum pedido de desculpas. “Até quando vão me perseguir?”, questionou o ex-presidente em discurso realizado nesta tarde a militantes do PT em Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo.

A ação de busca e apreensão tinha autorização da Justiça. Uma denúncia anônima levou os policiais até o local. A suspeita era de que haveria drogas e armas no local. Porém, nada foi encontrado. A Secretaria de Estado da Segurança Pública afastou o delegado Rodrigo Luís Galazzo, responsável pela ação.

Lula afirmou que é investigado há três anos e que até agora nenhuma prova contra ele foi encontrada, ao contrário de outros políticos. “Já encontraram dinheiro do Aécio [senador Aécio Neves, do PSDB], do Serra [senador José Serra, do PSDB], do Geddel [ex-ministro Geddel Vieira Lima], do Temer [presidente Michel Temer, do PMDB].”

“Já invadiram a minha casa, agora invadiram a casa do meu filho. Levantaram o colchão que eu durmo e não encontraram nada. Deviam ter a humildade de pedir desculpas”, completou Lula em referência à ação feita pela Polícia Federal no seu apartamento em São Bernardo do Campo, em 2016.

Segundo o ex-presidente, o delegado mentiu para conseguir autorização da Justiça para a ação de busca e apreensão. “Ele [Galazzo] disse que tinha arma pesada e droga lá [residência de Marcos Cláudio]. A juíza deu autorização para entrar. Ele não encontrou nada e não teve a coragem de pedir desculpas”, disse.

Lula se diz vítima de uma estratégia de opositores para impedi-lo de concorrer às eleições de 2018. “Eles dizem: ‘Vamos todo dia abrir um processo contra o Lula’. Mas eu desafio o Moro [juiz federal Sergio Moro], o Ministério Público Federal, a Polícia Federal, a comprovar que o Lula desviou um real”, disse.

Lula aproveitou o encontro com militantes para criticar o programa do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), que vai distribuir alimento reprocessado para a população mais pobre da capital. O programa Alimento para Todos prevê a distribuição de um composto, feito com base em alimentos que não seriam vendidos.

“O prefeito de São Paulo resolveu na semana passada que o povo pobre tem que comer ração. Eu já vi muita coisa desse prefeito, mas mandar fazer ração igual a de cachorro e fazer o pobre comer aquilo é não respeitar os pobres do Brasil”, disse.

A ação de Doria já foi alvo de polêmica anterior. Ele, inclusive, já rebateu as críticas, alegando falta de conhecimento. "Aqui você tem alimentos que seriam jogados no lixo e que são reaproveitados, com toda a segurança alimentar. São liofilizados [desidratados a baixa temperatura para conservação] e transformados em um alimento completo”, disse em vídeo na rede social.

Estádio do Corinthians

Aos militantes do PT presentes no ato, Lula afirmou que agora terá de prestar depoimento sobre o estádio do Corinthians. A obra foi feita pela Odebrecht e a suspeita do Ministério Público é de superfaturamento e pagamento de propina.

“Toda vez que aparece alguém para cuidar dos pobres, eles querem derrubar. Todo dia tem alguma coisa contra mim. A última agora é que vou ter que prestar depoimento sobre o estádio do Corinthians”, afirmou o ex-presidente.

A arena do Corinthians foi construída entre 2011 e 2014, quando foi palco da abertura da Copa do Mundo. Custou R$ 1,2 bilhão, quase 50% acima da estimativa inicial do projeto, de R$ 820 milhões.

O patriarca da família Odebrecht, Emílio, que também é presidente do conselho de administração da empreiteira que leva o seu nome, afirmou em acordo de delação premiada que o estádio construído pela empreiteira para o Corinthians foi uma espécie de presente ao ex-presidente Lula, torcedor do time.

Para Emílio, o agrado foi uma retribuição à ajuda que o ex-presidente deu ao grupo nos oito anos em que o petista comandou o país, de 2003 a 2010. Sob governos do PT, de 2003 a 2015, o faturamento do grupo Odebrecht multiplicou-se por sete, de R$ 17,3 bilhões para R$ 132 bilhões, em valores nominais.

"Aécio Neves está colhendo tempestade"

À noite, ao falar para militantes petistas em Guarulhos, também na Grande São Paulo, Lula afirmou que não aceitará “sacanagem jurídica” dos opositores para impedi-lo de concorrer à Presidência da República no ano que vem. “Vamos fazer um jogo honesto. Eles que venham para a rua debater. Quem ganhar leva. Estou disposto a qualquer debate, com quem quer que seja”, disse.

O ex-presidente citou as derrotas para os ex-presidentes Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso e disse que sabe perder eleições, ao contrário dos seus opositores. “Eles perderam uma para a Dilma [Rousseff] e o seu Aécio [Neves, senador do PSDB afastado] criou este clima de ódio que está no Brasil hoje. O seu Aécio plantou vento e está colhendo tempestade”, disse Lula.

Aécio Neves foi afastado de seu mandato por decisão da Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal), que também determinou seu recolhimento noturno, em um dos inquéritos contra o senador. Para esta terça-feira (17), está marcada uma votação no Senado em que os parlamentares decidirão se mantêm ou não as medidas cautelares aplicadas ao tucano pelos ministros do Supremo.

Acusações contra Lula

Lula é réu em seis ações na Justiça. Duas das ações tramitam na Justiça Federal do Paraná, sob responsabilidade do juiz Sergio Moro. Outras quatro tramitam na Justiça Federal do Distrito Federal, sendo que uma delas, a que apura suposto crime de obstrução de Justiça, está em fase final para julgamento.

Sob Moro, Lula é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro nos casos envolvendo o pagamento de supostas propinas nos casos do sítio em Atibaia (SP) e do terreno para a construção da nova sede do Instituto Lula e do apartamento vizinho ao onde o ex-presidente mora atualmente em São Bernardo do Campo (SP).

O petista ainda é alvo de outros três processos no Distrito Federal: um por tráfico de influência e outro por venda de Medida Provisória de incentivos fiscais a montadoras, ambos na Operação Zelotes; e um sobre liberação de empréstimos do BNDES, na Operação Janus.

O petista já foi condenado em primeira instância no caso do tríplex de Guarujá (SP). A defesa do ex-presidente recorreu e o caso agora é analisado no TRF (Tribunal Regional Federal) da 4ª Região, em Porto Alegre, a segunda instância da Lava Jato.

O ex-presidente nega todas as acusações. No caso do tríplex, do sítio e do terreno e apartamento, a defesa do ex-presidente afirma que não há provas de que a propriedade dos imóveis seja de Lula ou que ele tenha aceitado propina em troca de atos de ofício enquanto ocupava a Presidência da República. Nos outros casos em tramitação no Distrito Federal, Lula nega as acusações.