Ex-diretor da Riotrilhos diz que recebeu propina de R$ 2,6 mi por obra do metrô
O ex-diretor de engenharia da Riotrilhos (Companhia de Transportes sobre Trilhos do Estado do Rio) Heitor Lopes de Sousa Junior admitiu ter recebido propina de até R$ 2,6 milhões de ao menos três empresas integrantes do consórcio de construção da linha 4 do metrô do Rio. Ele prestou depoimento na tarde desta quinta-feira (19) ao juiz Marcelo Bretas, na 7ª Vara Federal Criminal do Rio, primeira instância da Lava Jato no Estado, na ação penal da operação Tolypeutes.
Além da Carioca Engenharia, ele afirmou que a Queiroz Galvão e a Odebrecht também pagaram propinas --ele é réu por corrupção e lavagem de dinheiro apenas em relação à primeira; as duas últimas não eram investigadas no processo. Ele disse que recebeu até R$ 2,6 milhões em propina intermediada por Marcos Vidigal, delator e ex-diretor de contratos da Odebrecht. Sousa Junior está preso desde março.
“Existiu a propina, em nenhum momento solicitei. Não sei ao certo, mas foi um valor entre R$ 800 mil, R$ 2,3 milhões, R$ 2,4 milhões, R$ 2,5 milhões, no máximo R$ 2,6 milhões. Tenho por volta de R$ 2,5 milhões na conta e deixo à disposição da Justiça para reembolso ao Estado”, afirmou.
“Quem me fez a proposta foi o [ex-executivo] Marcos Vidigal, que me procurou e disse que tinha direito a um percentual. A primeira vez eu recusei e disse: ‘se quiser fazer algo, aceitaria que você indicasse a minha empresa para fazer alguns prédios’. Passou-se uma semana, Vidigal disse que não era possível, que tinha que ser daquela maneira [propina]. Eu não quis saber quanto era, ele concordou e assim foi feito.”
“Não conheço ninguém dessas empresas. Não pedi, não discuti, só com o Marcos Vidigal, que entregava um pacote de dinheiro”, continuou. Ele relatou também que a Carioca Engenharia deixou de pagar menos propina e não honrou compromisso”, “O Marcos Vidigal pediu para ir atrás, mas não fui”, declarou.
Demonstrando arrependimento, Sousa Junior tenta negociar delação premiada, mas ela foi recusada. “Tentei ao máximo acertar minha delação, disse que [o recebimento de propina] foi até março, mas foi até setembro de 2014. Eu me confundi nas datas. Não me preocupei com datas e valores”, declarou.
Apesar de ter dito que recebeu até R$ 2,6 milhões no começo do depoimento, Sousa Junior se comprometeu diante do juiz Bretas a fazer a devolver R$ 6 milhões. A informação foi posteriormente confirmada ao UOL pela defesa. Nenhuma contrapartida foi negociada no depoimento. Também não há acordo de delação premiada em andamento, segundo a defesa, que disse que a intenção do ex-diretor da Riotrilhos “era contar tudo” na audiência de hoje.
A reportagem do UOL procurou as empreiteiras citadas. A Carioca Engenharia disse que não vai comentar.
A Odebrecht respondeu que está colaborando com a Justiça no Brasil e nos países em que atua. "Já reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas, assinou um Acordo de Leniência com as autoridades do Brasil, Estados Unidos, Suíça, República Dominicana, Equador e Panamá, e está comprometida a combater e não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas”, afirmou a empresa, por meio de nota.
Operação Tolypeutes
A ação foi aberta por ordem de Bretas, com base no acordo de leniência da Carioca Engenharia. A investigação apura R$ 5,4 milhões em propinas e 31 transferências para empresas de Sousa Junior.
Investigações apontaram que suposto esquema de propinas e lavagem de dinheiro na Secretaria de Estado de Obras do Rio de Janeiro (que consistia na cobrança de propina das empreiteiras envolvidas nos bilionários contratos de obras civis) repetia-se em contratos de construção do Metrô Linha 4, sob gestão da Secretaria Estadual de Transporte e na Companhia de Transportes sobre Trilhos do Estado do Rio de Janeiro (Riotrilhos).
Em março, a PF prendeu Sousa Junior, então diretor de Engenharia da Riotrilhos, e Luiz Carlos Velloso, ex-subsecretário de Transportes do Estado do governo Sérgio Cabral e que, à época da detenção, era subsecretário de Turismo do Governo do Rio.
Na decisão, o juiz Marcelo Bretas indicou uma possível ocultação de patrimônio do ex-diretor da RioTrilhos, interceptada por meio de um grampo da Polícia Federal.
"O monitoramento telefônico de Heitor Lopes, também autorizado depois da deflagração da denominada Operação Calicute, demonstrou que o investigado parece estar atuando para ocultar seu patrimônio, como se extrai de sua conversa com a requerida Patrícia Gomes Cavalcante, gerente do Banco Santander Select, agência Copa Posto V, em que recebe orientação para utilizar previdência privada a fim de que tal valor fique protegido de possível bloqueio judicial”, escreveu o juiz.
Na audiência desta quinta-feira, o réu disse que não tentou ocultar patrimônio nas gravações feitas pela PF, mas apenas transferir renda para a mulher dele.
A operação foi batizada de Tolypeutes, gênero do animal conhecido como tatu-bola. Trata-se de uma referência ao "Tatuzão", equipamento utilizado nas escavações das obras do metrô.
Orçada em R$ 9,6 bilhões, a construção da nova linha do metrô do Rio sofreu atrasos e quase foi paralisada por falta de recursos. A inauguração aconteceu no dia 30 de julho, uma semana antes da abertura dos Jogos Olímpicos.
A Linha 4 tem 16 km de extensão e liga os bairros de Ipanema, na zona sul, e Barra da Tijuca, na zona oeste da capital fluminense.
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