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Pastor diz que Cabral pediu para que ele e missionária assinassem "doação" de sala de cinema

Cabral está preso preventivamente desde novembro - Fabio Motta/Estadão Conteúdo
Cabral está preso preventivamente desde novembro Imagem: Fabio Motta/Estadão Conteúdo

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

03/11/2017 15h33

Após o Ministério Público ter aberto um inquérito para investigar a instalação de uma sala de cinema na Cadeia Pública José Frederico Marques, onde estão detidos o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) e outros presos ligados à operação Lava Jato no Rio de Janeiro, um pastor que teria cedido o equipamento afirmou que ele e uma missionária foram convencidos pelo político a assinarem um termo de doação de equipamentos eletrônicos para a penitenciária.

Em nota divulgada nas redes sociais, o pastor Carlos Alberto de Assis Serejo, da Igreja Batista do Méier, e seu advogado Heckel Garcez Rodrigues Ribeiro dizem que o religioso e a missionária Clotilde de Moraes se reuniram com o ex-governador na biblioteca do presídio, quando o próprio Cabral pediu que eles assinassem um termo de uma doação que não existiu, porque o equipamento já se encontrava na penitenciária.

De acordo com a Seap (Secretaria de Administração Penitenciária), a doação do equipamento foi assinada por Serejo, pelo pastor Cesar Dias de Carvalho e pela missionária. Os três afirmaram representar a Igreja Batista do Méier e a Comunidade Cristã Novo Dia. O presidente do templo do Méier, João Reinaldo Purin Junior, no entanto, negou a ação e disse em vídeo divulgado pelo Facebook ser o único capaz de autorizar doações desse tipo.

Segundo a defesa de Cabral, a denúncia é falsa e trata-se de um “boato”.

De acordo com o pastor, ele e a missionária foram chamados pelo ex-governador para ir à biblioteca durante um culto do pastor Cesar no dia 27 de dezembro. "O detento expôs a necessidade de que um representante de instituição religiosa ou filantrópica assinasse documento de doação de alguns equipamentos eletrônicos (TV, DVD e home theater) que, segundo Cabral, já estavam no local, a fim de legitimar o uso destes pelos presos", afirma a nota.

A nota informa ainda que, "segundo a fala de Sérgio Cabral, o diretor da entidade prisional teria alegado que o uso de todos os equipamentos só poderia ser oficializado caso houvesse o documento de doação. O preso solicitou ajuda e falou que era só assinar o papel, e esse favor foi feito! O foco jamais foi beneficiar exclusivamente o preso Sérgio Cabral. Jamais se compactuaria com quaisquer decisões que contrariassem as leis ou os valores cristãos."

O advogado do pastor defende que seu cliente foi induzido ao erro e não tinha noção do que estava ocorrendo quando assinou o documento, sendo que os dois foram “manipulados por um homem ardiloso cuja vida traduz a sua astúcia e o poder de manobra para conseguir o que almeja”.

A Seap (Secretaria de Administração Penitenciária) informou que suspendeu o benefício das TVs em celas e recreação esportiva dos detentos por 30 dias e também a autorização da referida igreja de executar trabalho missionário em todas as unidades prisionais.

A sala de cinema, cuja montagem estava em conclusão, teria uma TV de LED smart de 65 polegadas com wifi, avaliada por R$ 9 mil a R$ 14 mil; um Blu-ray Player 3D que custa de R$ 10,6 mil a R$ 12 mil; e um aparelho de som receiver de 5.1 canais e 435 watts, avaliado em cerca de R$ 3 mil. Também teria um acervo inicial de 160 DVDs.

O controle da cinemateca do presídio seria feito por outro preso na Operação Lava Jato. Trata-se de Wilson Carlos Carvalho, ex-secretário de Governo de Cabral, condenado a 45 anos de prisão por corrupção. A cada três dias no local, cuidando dos DVDs e do tempo que cada preso passaria assistindo aos filmes, teria abatido um dia da sua pena.

O acesso dos internos à videoteca seria determinado pelo diretor da prisão, responsável por estabelecer dias e horários para os presos de cada galeria usufruírem do benefício. Ninguém teria acesso todos os dias, diz a Seap.

O MP apura a eventual prática de crimes contra a administração pública e falsidade ideológica ou material. Segundo a instituição, a situação também está sendo analisada pela Promotoria de Justiça responsável pela Tutela Coletiva de Defesa da Cidadania da capital. Será apurado eventual ato de improbidade administrativa. (Com Estadão Conteúdo)

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