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Cabral critica Pezão e se exime de culpa por caos financeiro do RJ: "Essa crise não é minha"

Cabral chega em interrogatório no RJ - Pedro Teixeira/ Agência O Globo - Pedro Teixeira/ Agência O Globo
5.dez.2017 - Cabral chega com biografia de Nelson Mandela à 7ª Vara Criminal Federal
Imagem: Pedro Teixeira/ Agência O Globo

Hanrrikson de Andrade e Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

05/12/2017 17h19

O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB), preso e condenado em ações penais da Operação Lava Jato, fez nesta terça-feira (5) críticas ao governo de seu sucessor, Luiz Fernando Pezão (PMDB), e disse não ter qualquer responsabilidade quanto à crise financeira vivida pelo Estado nos últimos anos.

"Essa crise não é minha, não", declarou ele, em interrogatório na 7ª Vara Federal Criminal conduzido pelo juiz Marcelo Bretas, responsável em primeira instância pelas ações da Lava Jato no Rio.

Cabral, que renunciou ao cargo de chefe do Executivo fluminense em abril de 2014, afirmou a Bretas ter deixado o governo com salários pagos em dia e com "dinheiro em caixa". Pezão, que era vice de Cabral, vem atrasando os vencimentos de servidores desde o fim de 2015 --o 13º do ano passado, por exemplo, até hoje não foi quitado.

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O ex-governador disse ainda que, "infelizmente, esse governo atual foi incapaz de manter o teleférico [do Complexo do Alemão, na zona norte carioca] funcionando" e que, em sua opinião, foi ineficaz ao não garantir uma boa gestão do estádio do Maracanã, reformado ao custo de mais de R$ 1 bilhão para a Copa do Mundo de 2014. Também mencionou os carros das polícias Civil e Militar, que, segundo Cabral, estão "caindo aos pedaços".

A obra do Maracanã é justamente o objeto da ação penal que demandou a audiência desta terça. O processo apura formação de cartel e fraudes a licitações da reforma do estádio e também das obras de urbanização do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) em grandes favelas do Rio.

De acordo com o MPF (Ministério Público Federal), a empreiteira Delta pagou propina a Cabral e a outros agentes públicos para integrar consórcios que venceram licitações realizadas pelo Executivo fluminense.

Confira a íntegra do depoimento de Cabral desta terça (5)

UOL Notícias

Foram denunciados à 7ª Vara Federal Criminal (RJ), em 19 de abril deste ano, Cabral, Cavendish, o ex-subsecretário de Obras do Estado Hudson Braga e outras 17 pessoas. Pezão não é réu no processo.

A reportagem do UOL procurou a assessoria de imprensa do governo fluminense que informou que não comentará as críticas de Cabral a Pezão.

Cabral e Pezão - Luiz Roberto Lima/Futura Press - Luiz Roberto Lima/Futura Press
Pezão e Cabral se abraçam em inauguração de UPP em 2012
Imagem: Luiz Roberto Lima/Futura Press

O anel: "1ª parcela" de propina X "presente de puxa-saco"

Ainda no interrogatório de hoje, Cabral afirmou que o anel comprado pelo empreiteiro Fernando Cavendish, ex-dono da Deltra Construções, foi um "presente de puxa-saco" e que a joia foi devolvida em 2012, três anos depois do aniversário de sua mulher, Adriana Ancelmo.

O ex-chefe do Executivo fluminense disse que Cavendish é um "pobre sujeito desesperado" e que teria medo de voltar para a cadeia. Atualmente, Cavendish cumpre prisão domiciliar.

"Ele me deu a oportunidade de dizer agora para o senhor que ele é um mentiroso", disse a Bretas.

Em tom de revolta, Cabral reconheceu ter recebido o agrado, mas disse que o certame para reforma do estádio só foi realizado um ano após o aniversário da mulher. "A licitação só foi feita em agosto de 2010", comentou.

"Esse pobre sujeito desesperado vai mudando a versão dele de acordo com os interesses da acusação", completou ex-governador.

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UOL Notícias

Procurada pelo UOL, a defesa de Cavendish disse que não irá se manifestar sobre as declarações de Sérgio Cabral.

Em depoimento na segunda (4), na mesma ação penal, o empreiteiro, que era amigo próximo do ex-governador, contou que estava em Nice, na França, comemorando o aniversário de Adriana Ancelmo com a sua mulher e Cabral, quando o ex-governador o levou a uma loja de joias.

"Estou presenteando a minha esposa e gostaria que você pagasse", teria dito Cabral, na versão do empresário.

O empreiteiro aceitou, pagou pela joia, que custou 220 mil euros (cerca de R$ 846 mil em valores atualizados) e ostentava um diamante de quatro quilates, e ponderou que aquilo precisaria de uma contrapartida.

Meses depois, a sua empresa foi escolhida para entrar no consórcio do Maracanã. "Deixei claro que não era um presente. Acabou sendo um anel de compromisso", afirmou.

"Comprei a joia e, na sequência, acertei o Maracanã. Não foi um presente, foi um negócio", completou.

O valor da joia, disse o empreiteiro, foi amortizado posteriormente, nos valores das propinas supostamente pagos pela empreiteira ao ex-governador. Ao todo, Cavendish estima ter pagado cerca de R$ 3,5 milhões em propina a Cabral na obra do Maracanã. O diamante acabou sendo a primeira parcela desse valor.

A defesa de Cabral disse, por meio de nota, que "Cavendish mudou o seu discurso, para que um anel usado para bajular o ex-governador em 07/2009, fosse prova de propina numa licitação realizada mais de um ano depois". O advogado Rodrigo Roca reforçou que o presente foi devolvido em 2012, quando Cabral declarou a inidoneidade da Delta no Estado.

Além do ex-governador, a Justiça ouviu hoje o ex-secretário de Governo de Cabral Wilson Carlos e o ex-secretário de obras Hudson Braga, também presos preventivamente em Benfica. Enquanto Wilson Carlos preferiu ficar em silêncio, Braga passou seu depoimento negando qualquer conhecimento de cartel ou propina nas obras do Estado.

Ex-executivo da Delta, Paulo Meríade Duarte negou nesta terça ter qualquer envolvimento no suposto cartel formado por empreiteiras para participar de obras do Estado. "Eu não deveria estar aqui. Fui incluído em uma denúncia em que não tive participação de nada. Não fiz tratativas com ninguém do governo, nunca fiz isso", afirmou.