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Como Carlos Marun, defensor de Cunha, se tornou articulador político de Temer

Temer recebeu Carlos Marun (PMDB-MS) no Palácio do Planalto em janeiro - Marcos Corrêa - 25.jan.2017/PR
Temer recebeu Carlos Marun (PMDB-MS) no Palácio do Planalto em janeiro Imagem: Marcos Corrêa - 25.jan.2017/PR

Gustavo Maia e Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

12/12/2017 04h00

A cada notícia envolvendo o presidente Michel Temer (PMDB), o deputado Carlos Marun (PMDB-MS) era presença praticamente garantida diante das câmeras e microfones das equipes de reportagem no Salão Verde da Câmara. Ele empostava a voz rouca, puxava os 'erres' do sotaque gaúcho e engatava a defesa do correligionário --e amigo.

Na manhã desta segunda-feira (11), lá estava Marun mais uma vez, mas agora a notícia era ele. Dois dias antes, no sábado (9), o Palácio do Planalto anunciara seu nome oficialmente como o novo ministro da Secretaria de Governo, no lugar do tucano Antonio Imbassahy (BA). A partir desta quinta (14), data marcada para a sua posse, ele será o responsável pela articulação política da gestão Temer.

Desde o ano passado, o deputado se consolidou como um dos porta-vozes informais do presidente no Congresso e integrante da chamada “tropa de choque” de Temer, ao lado dos deputados Beto Mansur (PRB-SP) e Darcísio Perondi (PMDB-RS). Corpulento e expansivo, gosta de alardear que está sempre “à disposição” do aliado, que o recebe para frequentes reuniões.

Na votação da segunda denúncia oferecida pela PGR (Procuradoria-Geral da República) contra Temer, em outubro, Marun não conteve a felicidade com o novo resultado favorável ao presidente e a extravasou dançando e cantando em pleno plenário da Câmara. Conseguiu irritar até o cantor Benito di Paula, autor da música que ele parodiou no momento de comemoração, e, "decepcionado”, fez questão de gravar um vídeo-resposta ao artista.

Marun canta e dança durante arquivamento de denúncia contra Temer

TV Folha

Marun demonstra ser movido a polêmicas e embates. Em seu primeiro mandato como deputado federal, ele se notabilizou por defender causas impopulares. A primeira delas atendia pelo nome de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). No dia em que foi empossado na Câmara, em 1º de fevereiro de 2015, o deputado deu um dos 267 votos que renderam a Presidência da Casa ao peemedebista carioca.

Da ascensão à cassação de Cunha, em setembro do ano passado, Marun se destacou como um dos seus mais fiéis aliados. No ocaso do correligionário, foi o único parlamentar a usar a palavra para sair em sua defesa. "Não vou para onde o vento vira", declarou, na ocasião. "Sou uma pessoa que tem coerência."

Marun e Cunha - Luis Macedo/Câmara dos Deputados - Luis Macedo/Câmara dos Deputados
12.set.2016 - No dia de sua cassação, Cunha conversa com Marun no plenário da Câmara
Imagem: Luis Macedo/Câmara dos Deputados

A proximidade com “o Eduardo” o levou ao Complexo Médico-Penal em Pinhais, no Paraná, onde Cunha está preso desde 19 de outubro de 2016. A “visita natalina de caráter solidário”, como definiu Marun, ocorreu no dia 30 de dezembro e foi paga com verbas da Câmara. Após a repercussão do episódio, o deputado devolveu os R$ 1.242,62 gastos com hospedagem e passagens aéreas.

Em março desse ano, a condenação de Cunha pelo juiz federal Sergio Moro rendeu críticas de Marun, que externou sua “preocupação” com o fato de “índios” estarem na cadeia enquanto “caciques do petrolão” circulavam pelo Brasil e até pelo exterior.

Mesmo seus oponentes políticos mais ferrenhos reconhecem, ironicamente, que não podem acusá-lo de deslealdade. No Congresso, é um dos alvos mais frequentes da oposição, e costuma rebater com provocações.

Em um bate-boca recente com o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) na CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) da JBS, da qual é relator, Marun foi chamado de “bate-pau” e “lambe-botas” de Temer. Aos gritos, rebateu acusando o interlocutor de ser “vira-lata da banda podre do MP (Ministério Público)”.

O anúncio de seu nome como relator da comissão levou os senadores Ricardo Ferraço (PSDB-ES) e Otto Alencar (PSD-BA) a deixar o colegiado, sob justificativa de que a CPI seria uma “farsa” e “chapa-branca”. As saídas dão mostras de como é difícil ficar indiferente a Carlos Marun.

Durante o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), da qual foi entusiasta e articulador na Câmara, chegou a discutir aos gritos com o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) por causa da ordem da lista de chegada na comissão especial que tratou do processo, chamando-o de “comunista golpista”.

Carlos Marun - Ailton Freitas/O Globo - Ailton Freitas/O Globo
11.abr.2016 - Marun (de camisa branca, à esquerda) discute na comissão especial que analisou pedido de impeachment de Dilma
Imagem: Ailton Freitas/O Globo

A ênfase nos ataques é a mesma das defesas. Desde que a delação de executivos do grupo J&F atingiu Temer, Marun passou a dizer que o presidente foi “vítima de um complô” e que a divulgação do áudio da conversa entre o aliado e o empresário Joesley Batista era um “crime contra o país”, além de mirar sua artilharia para a cúpula do Ministério Público Federal e o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot.

A confiança que goza de Temer é tanta que Marun, advogado de formação, foi o escolhido para fazer sua defesa oral na reunião do Conselho Federal da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) que decidiu formular um pedido de impeachment contra o presidente.

"Temer foi vítima de um complô", defende Marun

redetv

Ascensão meteórica

Se comparada com a trajetória de outros políticos que ocupam ministérios de Temer, a ascensão de Marun na esfera federal foi meteórica. Ele passará a integrar o núcleo duro da gestão do governo federal menos de três anos depois de chegar a Brasília, e ficará em um gabinete no quarto andar do Palácio do Planalto, um acima do ocupado pelo presidente.

Carlos Eduardo Xavier Marun nasceu há 57 anos em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, onde se formou em engenharia civil pela UFRGS, mas construiu sua carreira política no Mato Grosso do Sul, onde cursou direito.

Na Câmara, foi vice-líder do governo e hoje ocupa o mesmo posto da bancada do PMDB. Em abril desse ano, por indicação do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tornou-se procurador parlamentar da Câmara, e tem como função defender os deputados no exercício do mandato “quando atingidos em sua honra ou imagem perante a sociedade”. Também em 2017, ele presidiu a comissão especial que discutiu a reforma da Previdência.

Marun é integrante da Frente Parlamentar da Agropecuária, mais conhecida como bancada ruralista, da Câmara. Ao todo, o grupo conta com 250 parlamentares e é um dos mais poderosos do Congresso ao conseguir pautar assuntos de seu interesse.

Antes de chegar ao Congresso Nacional, Marun foi vereador da capital (2005-2006) sul-mato-grossense e, depois, deputado estadual, por dois mandatos (2007-2015). Em 2002, tentou, mas não conseguiu alçar um voo mais alto. Ficou em 4º lugar na disputa pelo governo do Estado, pelo PTB, com 22.488 votos (2,13% dos válidos).

Marun foi também secretário municipal de Assuntos Fundiários e presidente da Empresa Municipal de Habitação de Campo Grande, além de comandar a Secretaria Estadual de Habitação.

Devido à proximidade com o tema da habitação, tendo, inclusive, sido presidente do Fórum Nacional de Secretários de Habitação e Desenvolvimento Urbano, ele chegou a ser especulado como o novo ministro das Cidades meses atrás, quando a saída de Bruno Araújo (PSDB-PE) já era dada como certa. O tucano deixou a pasta no dia 13 do mês passado.

Na época, Marun oficialmente negou que tivesse sido sondado, mas, a aliados, afirmou que não descartaria assumir uma pasta do governo Temer. No mês passado, ele chegou a ser anunciado como substituto de Imbassahy por engano.

Desde então, ele já era chamado de ministro por colegas nos corredores da Câmara. “Só se for ministro de eucaristia”, respondia, com um sorriso no rosto.