Plano de anistia de Bolsonaro coloca as manguinhas de fora
Valdemar Costa Neto, o dono do Partido Liberal, levou ao baralho da sucessão interna das casas do Congresso Nacional a carta da anistia de Bolsonaro. "Vamos colocar isso na mesa, sim", disse Valdemar ao Globo. "Tanto na eleição da Câmara quanto na do Senado."
Com 102 deputados, o PL é o maior partido da Câmara. No Senado, dispõe da segunda maior bancada, com 13 representantes. A ideia é que essa tropa marche para o colo dos candidatos que se dispuserem a desfraldar a bandeira da anistia do capitão na sucessão de Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, cujos reinados terminam em fevereiro.
O plano de anistia surge no Congresso com as manguinhas de fora quase três meses depois de Bolsonaro ter exibido a musculatura de sua liderança na Avenida Paulista. Busca-se o perdão criminal e político, com o cancelamento da inelegibilidade do capitão.
A proposta de reabilitação eleitoral de Bolsonaro é absurda. Na seara criminal, a ideia de um perdão preventivo é aberração jamais vista. Deveria ser vista apenas como uma confissão de culpa de quem tratava a trama golpista como uma ficção.
Bolsonaro e o alto-comando do golpe dizem que não tentaram virar a mesa da democracia, anulando o resultado das urnas de 2022. Se acreditassem em si mesmos, estariam tranquilos, à espera das sentenças absolutórias do Supremo Tribunal Federal. Como os fatos mostram o contrário, tramam bloquear no Legislativo os veredictos incontornáveis do Judiciário.
Em fevereiro, discursando na paulista, Bolsonaro havia esboçado suas pretensões: "O que eu busco é a pacificação, é passar uma borracha no passado", "É buscar uma maneira de nós vivermos em paz, não continuarmos sobressaltados". O capitão pronunciou um vocábulo desconhecido dos seus lábios: "Conciliação".
"É, por parte do Parlamento brasileiro, uma anistia para aqueles pobres coitados que estão presos em Brasília", discursou Bolsonaro. "Nós não queremos mais que seus filhos sejam órfãos de pais vivos. A conciliação. Nós já anistiamos no passado quem fez barbaridades no Brasil. Agora nós pedimos a todos 513 deputados, 81 senadores, um projeto de anistia para que seja feita justiça em nosso Brasil".
A certa altura, Bolsonaro juntou-se aos "pobres coitados" na fila do perdão: "Nós não podemos concordar que um poder tire do palco político quem quer que seja." Valdemar retoma agora a pregação: "O Bolsonaro está inelegível por uma fala, por um encontro", diz, evocando a reunião de 2022 com embaixadores. Refere-se ao banimento das urnas por oito anos, decretado pelo TSE, como "um absurdo".
Costuma-se dizer que certos políticos têm duas caras. Bolsonaro tem três personalidades. A de "conciliador", que exibe quando lhe convém, é uma alegoria sem amparo na realidade. Agora mesmo, em meio ao dilúvio do Rio Grande do Sul, o bolsonarismo inunda as redes sociais de mentiras e maledicências aviltantes.
A personalidade criminosa, que Bolsonaro já tinha, foi potencializada. A limpinha, que pensa que ainda pode ter, dependeria de uma capitulação coletiva. O Brasil inteiro precisaria se condenar para que o capitão fosse liberado de suas culpas. O Datafolha mostrou em março que 63% dos brasileiros não gostam da ideia de grudar uma anistia no 8 de janeiro.
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