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Preso em casa, Odebrecht diz ter achado e-mails contra ex-presidente da Petrobras

Odebrecht entregou e-mails à Lava Jato em processo em que é réu junto com Bendine - 15.dez.2016 - Giuliano Gomes/Folhapress
Odebrecht entregou e-mails à Lava Jato em processo em que é réu junto com Bendine Imagem: 15.dez.2016 - Giuliano Gomes/Folhapress

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

12/02/2018 14h41

Em prisão domiciliar desde dezembro do ano passado, o ex-presidente do grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht, disse ao juiz federal Sergio Moro que encontrou documentos que embasariam, segundo ele, a acusação contra Aldemir Bendine, ex-presidente da Petrobras.

Bendine é réu acusado de corrupção, lavagem de dinheiro, organização criminosa e embaraço à investigação. Segundo a força-tarefa da Operação Lava Jato no MPF (Ministério Público Federal), Bendine recebeu R$ 3 milhões da Odebrecht para que a empreiteira não fosse prejudicada em futuras contratações. Ele nega.

Segundo Odebrecht, desde que passou a cumprir prisão domiciliar, ele teve acesso a dados de seu computador que haviam sido apreendidos pela PF (Polícia Federal). “Assim, somente após a progressão de regime o colaborador teve pleno acesso ao conteúdo de seu computador e pôde realizar buscas por elementos de corroboração dos fatos relatados no acordo”, diz a defesa do empresário, que firmou acordo de colaboração com o MPF.

Odebrecht anexou ao processo 47 páginas de mensagens eletrônicas ligadas ao ex-presidente da Petrobras.

Condenado em dois processos na Lava Jato com penas que, somadas, passam de 28 anos de reclusão, Odebrecht deixou a prisão em Curitiba após dois anos e meio após acerto com autoridades. Atualmente, o empresário --que também é réu no processo de Bendine-- cumpre detenção domiciliar em sua casa na capital paulista.

Segundo o empresário, “considerando o grande volume de dados”, ele priorizou a busca por elementos relacionados às ações penais em andamento. Entre elas, está a de Bendine. 

Mensagens

Em um dos e-mails entregues por Odebrecht, datado de janeiro de 2015, há registro de uma troca de mensagens, iniciada por um executivo da empreiteira com Marcelo Odebrecht, intitulada “Bendine (Dida) lhe procurou”. Odebrecht disse que conversou com ex-presidente da Petrobras, que queria “tomar um café” com ele. O empresário, então, citou que “haviam algumas pendências”.

No mesmo período, Odebrecht pediu que passassem a ele “as pendências com o BB [Banco do Brasil], ainda que aparentemente o foco dele [Bendine] já seja outro”. “Preciso dos pontos de nossa agenda no BB (que ainda dê para ele resolver antes de sair)”. Bendine assumiu a Petrobras em fevereiro do mesmo ano, após seis anos como presidente do Banco do Brasil. Ele era considerado, segundo executivos da empreiteira, o “‘coordenador’ para uma saída da crise”.

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Entre as conversas apresentadas também está uma que fala sobre a escolha de um local para encontro entre Odebrecht e o ex-dirigente da Petrobras: um escritório de advocacia. O ex-presidente da empreiteira disse que, como se falaria de “algo transparente”, poderia até ser no escritório de Bendine na capital paulista. Um executivo da empreiteira afirmou, então, que o risco de vazamento na casa de Odebrecht seria menor e que, se fosse no escritório de Bendine, correria “aquele risco de estar agendado”.

Optou-se, então, por um escritório de advocacia. Odebrecht fez uma exigência: “além de ser algum escritório de confiança, tem que ter um acesso discreto (ideal dois acessos)”, disse na mensagem de março de 2015. Ao ser interrogado por Moro, em novembro do ano passado, Odebrecht disse que os encontros no escritório de advocacia eram “na surdina”. "Era um encontro escondido, se combinava de um entrar por um lado, um pelo outro. Caracteriza que havia por trás um pedido indevido”.

Bendine renunciou ao cargo de presidente da Petrobras em maio de 2016. Em julho de 2017, ele foi preso preventivamente pela Polícia Federal por ordem de Moro. A defesa do ex-presidente da Petrobras ainda não se manifestou a respeito dos e-mails de Odebrecht.

A Moro, o ex-presidente da Petrobras disse que o processo em que é réu é "piada" e chamou Odebrecht de "calhorda".

O processo já está em sua etapa final, com as partes fazendo suas últimas manifestações. A Lava Jato já indicou seu desejo de que Bendine seja condenado à prisão. A defesa de Bendine ainda vai apresentar seu posicionamento. Após essa etapa, Moro dará sua sentença.

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