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Dono da Rodrimar depõe, cai em contradição e coloca versão de Temer em xeque

Depoimento de empresário contradiz versão dada por Temer à PF - Leonardo Benassatto/Reuters
Depoimento de empresário contradiz versão dada por Temer à PF Imagem: Leonardo Benassatto/Reuters

Do UOL, em Brasília

31/03/2018 15h36

O depoimento do empresário do grupo Rodrimar Antônio Celso Grecco contradisse a versão do presidente Michel Temer (MDB) sobre os encontros que os dois mantiveram nos últimos anos. Grecco foi preso durante a deflagração da Operação Skala, na última quinta-feira (29), e disse que conversou com Temer sobre demandas de sua empresa no setor portuário. O problema é que, à Polícia Federal, Temer disse que nunca conversou sobre o tema com o empresário.

A Operação Skala investiga as suspeitas de que Temer tenha recebido vantagens indevidas em troca de favorecer empresas do setor portuário. 

A Rodrimar é uma das operadoras do Porto de Santos. Na última quinta-feira, 13 pessoas foram presas pela Polícia Federal depois de a PGR (Procuradoria-Geral da República) pedir autorização ao STF (Supremo Tribunal Federal). Além de empresários do setor portuário, foram presos dois amigos do presidente Temer: o advogado e ex-assessor de Michel Temer, José Yunes, e o coronel da PM aposentado João Batista Lima. 

yunes e temer - Zanone Fraissat - 21.jun.2013/Folhapress - Zanone Fraissat - 21.jun.2013/Folhapress
José Yunes com Temer, em 2013: amizade de mais de 50 anos
Imagem: Zanone Fraissat - 21.jun.2013/Folhapress

Na decisão do ministro do STF Luís Roberto Barroso, relator do inquérito que apura o caso, Grecco é suspeito de ser o “principal articulador” entre os interesses de empresas do setor portuário e o grupo político do presidente Michel Temer.

Em depoimento prestado à PF nesta semana, Grecco disse que se encontrou com Temer quando ele ainda era vice-presidente e que conversou sobre um projeto de adensamento (integração) de três áreas concedidas à Rodrimar no Porto de Santos para a construção de um terminal de celulose da Eldorado, empresa que pertencia ao grupo J&F, então comandado pelos irmãos Joesley e Wesley Batista.

Segundo Grecco, o governo federal estava barrando a transferência da área para a Eldorado Celulose.

Grecco disse aos policiais que após essa conversa, Temer disse que avaliaria o pedido. “A resposta do presidente foi simplesmente: vou ver o que vou fazer”, afirmou o empresário. 

O depoimento de Grecco à PF nesta semana contradiz a versão dada por Temer à PF em janeiro deste ano, quando ele respondeu, por escrito, a uma série de 50 questionamentos feitos pela investigação relativa ao caso.

A PF perguntou a Temer qual era o nível do relacionamento entre o presidente e Grecco e se os dois já haviam se encontrado para tratar de assuntos relativos ao setor portuário. Numa das respostas, Temer negou ter falado sobre esse tema com o empresário.

“Estive com ele, rapidamente, em duas ou três oportunidades, sendo que jamais tratei de concessões para o setor portuário”, disse.

Em outra pergunta, a PF questionou se Temer havia se encontrado com Grecco fora do ambiente de trabalho e se o empresário havia feito algum pedido ao presidente.

Novamente por escrito, Temer admitiu ter se encontrado com Grecco durante uma festa de aniversário, mas negou ter recebido algum pedido feito pelo empresário. “Nenhum pedido me foi formulado por ele, nem nesta e nem em ocasião nenhuma”, disse Temer.

Empresário cai em contradição

A contradição às respostas de Temer não é a única decorrente do novo depoimento de Grecco à PF.

Ao afirmar que conversou com o presidente sobre demandas do grupo Rodrimar, Grecco contradisse a si próprio. Em dezembro do ano passado, o empresário admitiu ter se encontrado com Temer, mas negou que tivesse conversado com o então vice-presidente sobre demandas do setor portuário.

"Nessa ocasião, foi apresentado por (Rodrigo) Rocha Loures para o senhor Michel Temer e, entretanto, não conversaram sobre as questões do setor, tendo tratado apenas de amenidades naquela oportunidade”, diz um trecho do depoimento de Grecco à época.

Rodrigo da Rocha Loures é o ex-assessor de Temer que foi preso em 2017 durante a Operação Patmos, deflagrada após o acordo de delação premiada de executivos do grupo J&F. Rocha Loures foi flagrado carregando uma mala com aproximadamente R$ 500 mil entregue por emissários das empresas dos irmãos Batista.

Rocha Loures é filmado com mala com R$ 500 mil

UOL Notícias

Outro lado

A reportagem do UOL enviou questionamentos à defesa do presidente Michel Temer e às assessorias de imprensa do grupo Rodrimar e do Palácio do Planalto. 

O Palácio do Planalto informou que o posicionamento de Temer sobre o assunto seria o mesmo divulgado ontem por meio de nota oficial, na qual o presidente volta a negar que a Rodrimar tenha sido beneficiada pela MP (medida provisória) dos Portos. "O fato é que a Rodrimar não se encaixa neste parágrafo, neste artigo, no todo do decreto ou na sua interpretação", diz um trecho da nota. 

O Planalto também ataca a investigação conduzida pela PGR.

“Sem ter fatos reais a investigar, autoridades tentam criar narrativas que gerem novas acusações. Buscam inquéritos arquivados duas vezes pelo Supremo Tribunal Federal, baseados em documentos forjados e já renegados formalmente à justiça, e mais uma vez em entrevista à revista Veja deste final de semana”, disse outro trecho da nota. 

Até a última atualização desta matéria, nem a defesa de Temer e nem a assessoria do Grupo Rodrimar responderam aos questionamentos feitos pela reportagem.