Jereissati lamenta Aécio réu; petista diz que tucano virou "bode expiatório" contra seletividade da justiça
O presidente nacional do PSDB, Tasso Jereissati (CE), classificou como “triste” a decisão da 1ª Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) desta terça-feira (17) que transformou o senador Aécio Neves (PSDB-MG) em réu pelos crimes de corrupção passiva e obstrução de justiça.
“É triste, mas não temos o que discutir. Não é bom para o país, não é bom para a instituição, não é bom para ninguém você ver um homem público ser levado à condição de réu”, disse o ex-presidente do PSDB.
A declaração foi dada horas depois de a 1ª Turma do STF aceitar a denúncia feita pela PGR (Procuradoria-Geral da República) contra Aécio Neves. O senador mineiro virou réu no processo em que é acusado de ter pedido R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, do grupo J&F, e de ter tentado obstruir o andamento de processos que tramitam contra ele.
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Jereissati disse que, apesar de Aécio ter se transformado em réu, sua posição dentro do PSDB não muda. “Não muda nada. Ele tem sua vida lá (no partido) enquanto for julgado. Até o dia em que for julgado, ele terá sua vida (partidária) normal”, disse o senador, que não afirmou se concordava ou não com a decisão do STF que transformou o colega em réu.
Já o senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) classificou como acertada a decisão do STF. “A minha avaliação é a de que o STF julgou adequadamente para que o senador possa se defender. Nenhum de nós está acima da lei. A decisão do Supremo foi tecnicamente adequada”, afirmou. Para o tucano, os diálogos gravados entre Aécio e Joesley Batista (que fazem parte do acordo de delação premiada da J&F) “são graves”.
“Os fatos são extremamente graves. O diálogo estabelecido (entre Aécio e Joesley) é extremamente inadequado. Mas o senador não está sendo condenado. Ele está apenas sendo transformado em réu. Terá todo direito à defesa. A presunção de inocência é um direito fundamental para cada um de nós”, afirmou.
A pré-candidata da Rede a presidente, Marina Silva, disse via Twitter que "as graves denúncias contra o senador Aécio Neves pelos crimes de corrupção passiva e obstrução à justiça precisam ser apuradas e julgadas com celeridade e rigor." Ainda segundo ela, que apoiou a candidatura de Aécio no segundo turno da eleição presidencial de 2014, "ninguém pode ficar impune sob o manto do foro privilegiado".
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) também avaliou que a decisão do STF foi correta e que uma eventual rejeição da denúncia levantaria suspeitas sobre o empenho da Corte no combate à corrupção. “Era uma posição já esperada. Se a primeira turma do STF não se posicionasse dessa forma, isso comprometeria a condução de investigações, a imparcialidade do processo. Se não fosse dessa forma, seria um sinal péssimo para o combate à corrupção no país”, afirmou.
Justiça seletiva?
Para a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), a decisão do STF que transformou Aécio em réu é uma tentativa do Poder Judiciário de evitar a impressão de que a Justiça atua de forma seletiva contra políticos de esquerda como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso em Curitiba após ser condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex no Guarujá (SP).
“A impressão que eu tenho, vou ser bem sincera, é de que a Justiça corre para tentar tirar esse caráter de seletividade [...] Em relação ao Aécio não tenho nem o que dizer. Eu lamento muito ele estar lá no Senado, ainda. [É] alguém que foi pego numa gravação, envolvido em questões extremamente graves”, afirmou a senadora.
O senador Humberto Costa (PT-PE), que também está em Curitiba, disse que as provas contra Aécio Neves são fartas e que a transformação dele em réu não significa que há um “pré-julgamento” em relação ao tucano.
O petista diz ainda que a decisão sobre Aécio não invalida o argumento de que a Justiça seria seletiva e trataria petistas e tucanos de forma diferenciada e deu a entender que Aécio poderia se transformar num “bode expiatório” do PSDB.
“Há poucos dias, nós vimos o [ex] governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), ter uma denúncia gravíssima de R$ 10,5 milhões pra sua campanha que teriam sido doados pela Odebrecht, e essa apuração foi para São Paulo, na Justiça Eleitoral. Eu acredito que é impossível que uma grande empresa, pelos belos olhos do governador, dê R$ 10,5 milhões de caixa 2 pra uma campanha. Então a gente vê que talvez no caso de Aécio ele tenha sido utilizado por essa articulação toda ou pela mídia como uma espécie de bode expiatório”, afirmou.
Costa citou a decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça) que enviou uma investigação sobre o pagamento de caixa 2 a campanhas de Geraldo Alckmin à Justiça Eleitoral e não à Justiça Federal de São Paulo, onde ela seria conduzida pela equipe do MPF (Ministério Público Federal) dedicada aos casos da Operação Lava Jato.
* Com informações de Ana Carla Bermúdez, do UOL em Curitiba
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