'Consciência tranquila', diz Flávio Bolsonaro sobre finanças de ex-assessor
O deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) voltou a negar neste sábado (8) vínculo com movimentações financeiras consideradas atípicas de um ex-assessor que trabalhou em seu gabinete parlamentar.
Por meio de sua conta no Twitter, o filho mais velho do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) afirmou sobre o caso citado do ex-assessor Fabrício José Carlos de Queiroz: "Continuo com minha consciência tranquila, pois nada fiz de errado. Não sou investigado. Agora, cabe ao meu ex-assessor prestar os esclarecimentos que se fizerem necessários ao Ministério Público".
Entenda o caso
Queiroz é policial militar e trabalhava como motorista e segurança de Flávio Bolsonaro na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), cargo do qual foi exonerado em 15 de outubro deste ano.
O ex-assessor teve movimentações financeiras consideradas "atípicas" pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras). Um relatório sobre as transações foi anexado a uma investigação do MPF (Ministério Público Federal).
Ligado ao Ministério da Fazenda, o Coaf é o órgão responsável por monitorar e receber informações dos bancos sobre transações suspeitas ou atípicas. Pela lei, os bancos devem informar qualquer transação que não siga o padrão do cliente.
O que diz a investigação
Segundo o relatório da Coaf, revelado pelo jornal "O Estado de S. Paulo", Queiroz movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017.
A comunicação do Coaf não significa que haja alguma irregularidade na transação, mas mostra que os valores movimentados, ou o tipo de transação envolvida, não seguiram o padrão esperado para aquele tipo de cliente.
O Coaf foi informado das movimentações de Queiroz pelo banco porque elas seriam "incompatíveis com o patrimônio, a atividade econômica ou a ocupação profissional e a capacidade financeira" do ex-assessor parlamentar. Na folha de pagamentos da Alerj de setembro consta que Queiroz recebeu R$ 8.517 de remuneração, ganho que acumulava com rendimentos mensais de R$ 12,6 mil da Polícia Militar.
O relatório também cita que foram encontradas na conta transações envolvendo dinheiro em espécie, embora Queiroz exercesse uma atividade cuja "característica é a utilização de outros instrumentos de transferência de recurso".
Cheque à primeira-dama
Uma das transações citadas no relatório do Coaf é um cheque de R$ 24 mil destinado à futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro. A compensação do cheque em favor de Michelle aparece na lista de valores pagos pelo policial militar.
"Dentre eles, constam como favorecidos a ex-secretária parlamentar e atual esposa de pessoa com foro por prerrogativa de função - Michelle de Paula Firmo Reinaldo Bolsonaro, no valor de R$ 24 mil", diz o relatório do Coaf.
Ex-assessora de Jair Bolsonaro é filha do PM
Outra transação apontada no relatório sobre as movimentações financeiras do policial militar são transferências bancárias entre contas dele e de sua filha, Nathalia Melo de Queiroz. Nathalia, até o mês passado, era assessora lotada no gabinete do deputado federal e agora presidente eleito, Jair Bolsonaro.
Nathalia é citada em dois trechos do relatório. O documento não deixa claro os valores individuais das transferências entre ela e seu pai, mas junto ao nome de Nathalia está o valor total de R$ 84 mil.
A filha do policial foi nomeada em dezembro de 2016 para trabalhar como secretária parlamentar no gabinete de Bolsonaro na Câmara dos Deputados. Ela foi exonerada do cargo no dia 15 de outubro, mesma data em que seu pai deixou o gabinete de Flávio.
Por que o Coaf chegou ao PM?
O relatório do Coaf foi anexado pelo Ministério Público Federal à investigação que deu origem à Operação Furna da Onça, que levou à prisão dez deputados estaduais da Alerj, em novembro.
Flávio Bolsonaro não estava entre os alvos da operação. Seu ex-assessor foi citado na investigação porque o Coaf mapeou, a pedido dos procuradores da República, todos os funcionários e ex-servidores da Alerj citados em comunicados sobre transações financeiras suspeitas.
O MPF não confirmou se o relatório vai levar a investigações contra o ex-assessor ou contra Flávio Bolsonaro. Em nota, o MPF afirmou que, em relação a deputados que não estavam entre os alvos da Furna da Onça, "tem por política não confirmar tampouco negar se eventualmente estão investigados ou podem vir a ser".
"Como o relatório relaciona um número maior de pessoas, nem todos os nomes ali citados foram incluídos nas apurações, sobretudo porque nem todas as movimentações atípicas são, necessariamente, ilícitas. A íntegra do documento foi juntada aos autos para confirmar que não houve edição após envio pelo Coaf", afirma a nota do MPF.
O que dizem os Bolsonaro?
Após serem reveladas as constatações do Coaf, Flávio Bolsonaro defendeu o antigo assessor e disse não ter conhecimento nada que "desabonasse sua conduta".
"Fabrício Queiroz trabalhou comigo por mais de dez anos e sempre foi da minha confiança. Nunca soube de algo que desabonasse sua conduta. Em outubro foi exonerado, a pedido, para tratar de sua passagem para a inatividade. Tenho certeza de que ele dará todos os esclarecimentos", escreveu o senador eleito em sua conta no Twitter, na quinta-feira (6).
Flávio disse na tarde desta sexta (7) que cobrou explicações do ex-motorista. "Hoje o Fabrício Queiroz conversou comigo. Ele me relatou uma história bastante plausível e me garantiu que não teria nenhuma ilegalidade nas suas movimentações", afirmou. "Assim que ele for chamado ao Ministério Público, vai dar os devidos esclarecimentos."
Na sexta, Jair Bolsonaro também se manifestou e disse ao site "O Antagonista" que o cheque de R$ 24 mil para Michelle Bolsonaro foi feito pelo pagamento de uma dívida.
"Emprestei dinheiro para ele em outras oportunidades. Nessa última agora, ele estava com um problema financeiro e uma dívida que ele tinha comigo se acumulou. Não foram R$ 24 mil, foram R$ 40 mil. Se o Coaf quiser retroagir um pouquinho mais, vai achar os R$ 40 mil”, afirmou o presidente eleito ao site.
Em entrevista a jornalistas na sexta, o futuro ministro da Justiça, Sergio Moro, não respondeu a perguntas sobre o relatório. O Coaf, hoje ligado ao Ministério da Fazenda, deverá ficar subordinado a Moro na pasta da Justiça. A mudança é uma das inovações propostas pelo futuro ministro com a intenção de aprimorar o combate à corrupção.
*Com Estadão Conteúdo
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