Posse de Bolsonaro tem banheiros escassos, falta d'água e desmaios
O combinado na posse de Jair Bolsonaro era que não se levassem bebidas e que a organização forneceria água. O público fez sua parte. A organização, não.
No meio da tarde, as torneiras secaram nos postos espalhados pela Esplanada dos Ministérios. Até os copos plásticos acabaram.
O GSI (Gabinete de Segurança Institucional) estima que ao menos 115 mil pessoas acompanharam a posse de Bolsonaro.
"No momento em que o povo vai prestigiar o político que elegeu com seu voto é desrespeitado. Água é o mínimo", reclamou Sonia Maria Ramalho, 53, que viajou a Brasília em uma caravana de Londrina (PR).
Além da falha no fornecimento de água, não havia banheiros em número suficiente. Também não houve preocupação com cadeirantes --uma mulher contou à reportagem que precisou ser carregada. A infraestrutura precária resultou em vários desmaios.
Sonia Ramalho acrescentou que não havia guichês de atendimento prioritário para gestantes, idosos e pais com crianças pequenas para pegar água ou ir ao banheiro.
Quando os postos de distribuição de bebidas foram reabastecidos, houve aglomeração. Pessoas suadas e com sede cercaram o local sem formar fila e valeu a lei do mais forte por alguns minutos.
"Focaram somente no presidente. Fizeram tudo para a segurança de Bolsonaro e esqueceram de providenciar o mínimo para o povo", afirmou a integrante da caravana.
Nádia Vieira Soares, 45, moradora de Poté (MG) acompanhou a posse ao lado de Sonia e estava descontente com a situação dos banheiros. Protestou que o mau cheiro era percebido a metros de distância. Thalia Kieslla, 19, e moradora de São Luis (MA), desistiu de ir ao banheiro e tomar água por causa da situação.
"O banheiro estava nojento, a fila era muito demorada. Coisa de meia hora. Também queria água, mas, se tomasse água, não conseguiria me segurar, seria obrigada a ir ao banheiro", afirmou.
Emily Cristina Santos, 27, estava na mesma caravana que Thalia e foi direta sobre como lidou com a falta de infraestrutura. "Passei o dia segurando o xixi. Já são 18h, estou indo embora e não fui ao banheiro desde que cheguei aqui."
Cadeirante precisou ser carregada
Ana Lúcia Moraes, 48, foi preparada para sofrer. Cadeirante, disse que tinha certeza de que passaria por momentos vexatórios durante a posse. Contou ter acertado na previsão.
"Chegar [à frente do Congresso] foi difícil. Precisei vir pelo gramado porque era proibido ir por outro lugar. Quando tinha calçada, o desnível era alto. Precisava ficar no colo de alguém para colocarem minha cadeira [elétrica e pesada] sobre o piso."
A servidora pública também ficou chateada porque não reservaram nenhum espaço para portadores de deficiência assistirem à passagem do presidente em carro aberto. Como é paraplégica, ficou em um nível abaixo de outras pessoas que se enfiaram na frente dela e não viu nada.
"Já estou acostumada com estas coisas e a ser carregada. Mas é sempre péssimo. Ninguém gosta."
"Era melhor ter visto na televisão"
Por um lado, o esquema de segurança da posse de Jair Bolsonaro (PSL) garantiu a integridade do presidente e a blindagem de autoridades e chefes de Estado. Mas também levou à exaustão o público que compareceu à praça dos Três Poderes nesta terça-feira (1º), em Brasília.
O esgotamento era visível sobretudo ao fim da solenidade, quando uma multidão se retirou ao mesmo tempo e teve que caminhar sob sol escaldante em um espaço delimitado por grades e cordões de isolamento. A cada cem metros, era comum ver pessoas, sobretudo mulheres e idosos, passando mal ou até mesmo desmaiando.
A falta de condições adequadas de alimentação e hidratação contribuiu para que os postos de socorro do Corpo de Bombeiros ficassem cheios.
Responsável por organizar a festa, o GSI impôs regras rígidas ao público e vetou o ingresso com bolsas, mochilas, garrafas e outros itens. Dessa forma, muitas pessoas acabaram não levando suprimentos necessários para encarar a maratona da posse.
Além disso, houve casos de pessoas que não conseguiram passar pela revista com frutas, ainda que acondicionadas em sacos plásticos transparentes, como determinou o GSI.
O argumento era que elas poderiam virar armas na mão de possíveis manifestantes e serem lançadas em direção ao Planalto. Os organizadores não notaram, no entanto, que havia várias pedras portuguesas soltas pelo chão da praça dos Três Poderes.
"A gente comprou sanduíche e biscoito, mas chegamos aqui muito cedo [por volta das 9h] e ficamos várias horas no sol. Acho que tinha que ter trazido mais comida, mas ficaria complicado porque não pode entrar de mochila", afirmou Renata Barbosa, 27, que precisou levar a amiga para atendimento. Ela havia se sentido mal pouco depois do primeiro pronunciamento de Bolsonaro.
"Se a próxima posse for assim, e espero que seja o Bolsonaro de novo, eu não venho. O evento já acabou, eles podiam ter retirado as grades para melhorar o fluxo. Isso que aconteceu aqui é até perigoso para essas pessoas", reclamou Marcelo Fernandes, que caminhou com a multidão no final da solenidade. "Era melhor ter visto na televisão", completou.
O trecho mais sofrível para os espectadores da posse se deu entre a praça dos Três Poderes e o Palácio do Itamaraty. Os apoiadores de Bolsonaro subiram em marcha lenta a ladeira que margeia o Congresso Nacional, e o sol era forte mesmo às 18h30. Durante o trajeto, a reportagem observou pelo menos dois casos de mulheres que passaram mal.
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