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Mourão diz que discurso de Bolsonaro foi "geral"; oposição vê fala "vazia"

Presidente Jair Bolsonaro após discursar no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça - Fabrice COFFRINI / AFP
Presidente Jair Bolsonaro após discursar no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça Imagem: Fabrice COFFRINI / AFP

Gustavo Maia e Luciana Amaral

Do UOL, em Brasilia

22/01/2019 16h01Atualizada em 22/01/2019 16h12

O vice-presidente, Hamilton Mourão (PRTB), elogiou nesta terça-feira (22) o discurso de Jair Bolsonaro (PSL) feito mais cedo no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, mas admitiu que a fala foi "geral". Ao mesmo tempo, porém, Bolsonaro foi criticado pela oposição, que classificou o discurso como superficial e "vazio".

Questionado sobre o desempenho de Bolsonaro em sua primeira viagem internacional, Mourão disse que a fala refletiu o pensamento do novo governo.

"Excelente. Maravilhosas as palavras do presidente. De acordo com tudo aquilo que nós estamos pensando e buscando para inovar o nosso país, e que a gente tenha um rumo melhor", falou.

Indagado acerca de críticas de que Bolsonaro não teria se aprofundado como o ideal em propostas e explicações, além de ter proferido um discurso relativamente curto, Mourão afirmou ser natural que detalhamentos não sejam dados em um evento como Davos.

"Detalhamento...isso é particular, né? Lá o cara fala no geral, né? A coisa no geral. O detalhado é quando você vai discutir com o Congresso [Nacional]. Aí tem que ser detalhado", justificou.

Após ter se posicionado algumas vezes de maneira contrária a ambientalistas, Bolsonaro fez um discurso com ênfase na defesa do meio ambiente. Ele disse que o Brasil estará sintonizado com o mundo perante a busca da preservação do meio ambiente e ressaltou que o desenvolvimento tem de ser sustentável, sem deixar de reforçar que o Brasil dá um bom exemplo para o mundo quanto a áreas de natureza preservadas. 

Meio ambiente tem que estar casado com desenvolvimento

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"O meio ambiente tem que estar casado com o desenvolvimento, nem para um lado, nem para outro. Nós temos o agronegócio, que é de conhecimento de todos, então a parte da agricultura ocupa menos de 9% do território nacional. A pecuária, aproximadamente 25%. Hoje, 30% do Brasil são florestas. Então, nós damos, sim, exemplo para o mundo. O que pudermos aperfeiçoar, nós o faremos. E nós pretendemos estar sintonizados com o mundo na busca da diminuição de CO2 e na preservação do meio ambiente", declarou.

Ao ser indagado sobre as declarações a favor do desenvolvimento sustentável por parte de Bolsonaro, Mourão falou "[é o] Acordo de Paris. Acordo de Paris". Questionado então se o Brasil continuará no acordo, uma vez que a saída do país foi cogitada durante a campanha eleitoral, o presidente em exercício falou que o governo não deixará de tratar do meio ambiente. 

"Às vezes alguns ruídos acontecem, mas a gente não pode fugir dessa questão ambiental, da questão do clima. E o presidente [Bolsonaro] tem plena consciência disso aí e deixou claro no discurso dele", afirmou.

Crítico contumaz de Bolsonaro, o senador Roberto Requião (MDB-PR) apontou que o pronunciamento do presidente foi "vazio", apesar de ter sido escrito por vários ministros, como disse Bolsonaro.

"Em Davos Bolsonaro deu o seu melhor, se mais não disse é porque mais não tinha para dizer. O que queriam? Em 6minutos em Davos Bolso deu o que tinha para dar!", escreveu o emedebista, em dois tuítes.

Um dos vice-líderes da bancada do PT na Câmara, o deputado federal Carlos Zarattini (SP) compartilhou o link de uma análise que apontava que o discurso surpreendeu pela "superficialidade" e questionou, com ironia: "essa é a repercussão que o 'mercado' esperava?".

Candidato do PSOL à Presidência nas eleições do ano passado, Guilherme Boulos ironizou a fala dizendo que Bolsonaro lembrou "aquele aluno que vai pra prova sem estudar e responde todas as perguntas com a mesma resposta".

Em outra mensagem publicada no Twitter, o coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) destacou um trecho do discurso no qual o presidente disse que as relações internacionais do Brasil serão "dinamizadas" pelo chanceler Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores, "implementando uma política na qual o viés ideológico deixará de existir".

"Ele está falando do ministro que diz que aquecimento global é invenção marxista?", questionou Boulos. O tuíte foi acompanhado pela hashtag #Danger4World, que em tradução livre para português significa "perigo para o mundo".

Para a deputada federal eleita Joice Hasselmann (PSL-SP), aliada de Bolsonaro, o discurso do presidente foi "um grande aceno aos investidores", como menções a reformas e ao combate à corrupção.

Ela apontou que a imprensa questionou a falta de detalhamento dos planos, mas rebateu: "ué, queriam que o presidente anunciasse na Suíça o que deve ser anunciado no Brasil?".

Para o senador Humberto Costa (PT-PE), que é líder da minoria no Senado, o discurso de Bolsonaro em Davos "dá a exata dimensão da sua figura: pequena, acuada e medíocre". "Que seu governo seja breve como sua fala", desejou o petista, no Twitter.

Cotado para assumir o Ministério do Meio Ambiente durante a transição governamental, o agrônomo e ex-deputado federal Xico Graziano classificou o discurso como "curto e grosso", e aproveitou para atacar a oposição.

Na opinião de Graziano, a fala "não agradou àqueles que adoram falas rebuscadas". "Lembro que em 2010 o Fórum de Davos premiou [o ex-presidente] Lula como o 'Estadista do Ano'. Lula era especialista das palavras fáceis, aquele lero-lero enganoso que viciou a política", escreveu.

De Davos, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) disse que o pai mostrou, ao abrir o fórum, "que a expectativa do nascimento de um novo Brasil não está só nos brasileiros, mas também na comunidade internacional". "Vamos adiante", escreveu.

O terceiro filho mais velho do mandatário brasileiro viajou para a Suíça com a comitiva presidencial e vai participar de um painel no evento.

Confira a íntegra do discurso de Bolsonaro em Davos

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