Das denúncias à guerra com Carlos Bolsonaro, 9 momentos da "crise Bebianno"
Depois do caso Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL) investigado por movimentações financeiras atípicas encontradas pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), o núcleo do governo Bolsonaro e sua sigla, o PSL, foram atingidos diretamente por um novo escândalo: as candidaturas laranjas do partido durante as eleições do ano passado.
O novo episódio coloca no centro das discussões um dos principais nomes do PSL e do governo, o secretário-geral da Presidência, Gustavo Bebianno. Além de atual ministro palaciano, ele foi o coordenador-geral da campanha eleitoral de Bolsonaro em direção ao Planalto e braço direito do então candidato à Presidência.
O UOL lista abaixo nove momentos chave desta nova crise no governo.
1 - As primeiras denúncias contra o PSL
Reportagem da Folha mostrou em 10 de fevereiro que o grupo de Luciano Bivar, atual presidente do PSL, criou uma candidata laranja em Pernambuco, que recebeu do partido R$ 400 mil de dinheiro público a quatro dias da eleição de 2018. Maria de Lourdes Paixão, de 68 anos, concorreu a deputada federal e foi a terceira maior terceira maior beneficiada com verba do partido de Bolsonaro em todo o país, mas teve apenas 274 votos.
A prestação de contas dela, que é secretária administrativa do PSL do estado, sustenta que 95% do valor recebido foram gastos para imprimir 9 milhões de santinhos e cerca de 1,7 milhão de adesivos em uma gráfica. No entanto, a reportagem da Folha visitou os endereços indicados por Maria de Lourdes e não encontrou sinais de que ali tenha funcionado o estabelecimento indicado. O responsável formal por autorizar repasses dos fundos eleitorais eleitoral e partidário foi Gustavo Bebianno, então presidente em exercício do PSL.
O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio (PSL), também foi alvo de denúncia: enquanto deputado, patrocinou um esquema de candidaturas laranjas em Minas Gerais que direcionou verbas públicas de campanha para empresas ligadas ao seu gabinete na Câmara.
Após indicação do PSL de Minas, o comando nacional do partido repassou R$ 279 mil a quatro candidatas, o que representa o percentual mínimo exigido pela Justiça Eleitoral (30%) para destinação do fundo eleitoral a mulheres candidatas.
2 - Empurra-empurra de Bebianno e Bivar
Depois das denúncias, iniciou-se o conflito entre Luciano Bivar e Gustavo Bebianno, respectivamente presidente licenciado e presidente em exercício do PSL à época da eleição.
Bivar atribuiu a Bebianno a decisão sobre o repasse de dinheiro público à candidata laranja de Pernambuco, mas o ministro negou ter sido o mandante da transferência. À rádio CBN, Bebianno disse que nunca viu Maria de Lourdes.
3 - O recado de Mourão: "problema do partido"
Conhecido nesse início de mandato por não se furtar a comentar nada referente ao governo, o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) afirmou na terça-feira (12) que a investigação da Polícia Federal sobre suspeita de "candidatura laranja" no PSL é um "problema do partido" e não atinge diretamente o governo Bolsonaro.
O presidente pertence ao PSL, mas [isso] não tem nada a ver com a campanha dele. Então é problema do partido. O partido que se explique
General Hamilton Mourão, vice-presidente
4 - A defesa de Bebianno e as conversas com Bolsonaro
Em entrevista ao jornal O Globo na última terça, Gustavo Bebianno negou que houvesse crise no governo e afirmou ter falado três vezes com o presidente Jair Bolsonaro somente naquele dia. Ele negou novamente ter qualquer responsabilidade sobre o repasse de R$ 400 mil à candidata Maria de Lourdes Paixão.
5 - A nova denúncia e o gelo de Bolsonaro pós-alta
Nova denúncia apresentada em reportagem da Folha nesta quarta (13) mostrou que Bebianno liberou R$ 250 mil para a candidatura de uma ex-assessora, que por sua vez repassou parte da verba para a mesma gráfica de fachada utilizada por Maria de Loudes Paixão. A candidata Érika Siqueira Santos, que trabalhou como assessora do partido diretamente com Bebianno, tentou uma vaga na Câmara dos Deputados e obteve apenas 1.315 votos.
A denúncia foi publicada horas antes de Jair Bolsonaro receber alta do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. De volta a Brasília, ele retomou sua agenda de trabalho e se reuniu com três de seus ministros no Palácio da Alvorada, em Brasília. Gustavo Bebianno, porém, não foi recebido pelo presidente em meio à crise.
6 - A explosão de Carlos e o áudio
Ontem, um dos filhos do presidente, vereador Carlos Bolsonaro, desmentiu a versão de Bebianno, do dia anterior, de que teria conversado com o presidente. "Ontem estive 24h do dia ao lado do meu pai e afirmo: 'É uma mentira absoluta de Gustavo Bebbiano que ontem teria falado 3 vezes com Jair Bolsonaro para tratar do assunto citado pelo Globo e retransmitido pelo Antagonista'", escreveu Carlos em seu Twitter.
O vereador ainda publicou um áudio em que o presidente diz a Bebianno que "está complicado conversar". "Não vou falar, não vou falar com ninguém, somente o essencial", disse Bolsonaro. A divulgação da conversa deflagrou o momento mais crítico da crise, provocando até mesmo críticas de integrantes importantes do PSL como a deputada federal Joice Hasselmann.
7 - O retuíte de Bolsonaro em prol do filho
Após se calar durante toda a tarde sobre a guerra aberta entre Carlos e Bebianno, o próprio presidente retuitou em sua conta na rede social o post do filho com o áudio da conversa.
Já em entrevista à Record, gravada pela manhã e exibida à noite, Jair Bolsonaro declarou claramente que era mentira que teria conversado com Bebianno na terça.
8 - O ultimato de Bolsonaro: possível demissão
Ainda na entrevista veiculada pela Record TV, Jair Bolsonaro indicou que, caso Bebianno, seja responsabilizado no caso das candidaturas laranjas do PSL, será demitido. A entrevista foi gravada de manhã, poucos minutos antes de o presidente receber alta médica.
"Se estiver envolvido e, logicamente, responsabilizado, lamentavelmente, o destino não pode ser outro a não ser voltar as suas origens", declarou Bolsonaro.
9 - O "fico" de Bebianno
Poucos minutos após a declaração de Bolsonaro para a Record TV, uma entrevista com Gustavo Bebianno foi publicada no blog da jornalista Andréia Sadi, no G1. O ministro afirmou que não pedirá demissão, porque considera não ter feito nada de errado, e disse não entender o comportamento de Carlos Bolsonaro.
Eu não entendo. Enquanto ministro de estado, eu vou manter a minha postura, a liturgia inerente à função, e não comento esse tipo de coisa
Gustavo Bebianno
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