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Janaina vê obra de Deus em votação recorde: Devo ter algo grande pra fazer

A deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP) está em seu primeiro cargo eletivo e teve votação recorde - Carine Wallauer/UOL
A deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP) está em seu primeiro cargo eletivo e teve votação recorde Imagem: Carine Wallauer/UOL

Aiuri Rebello

Do UOL, em São Paulo

14/03/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Parlamentar mais votada, Janaina Paschoal vê missão divina em seu caminho na política
  • Postura independente por vezes coloca parlamentar contra colegas, correligionários e até eleitores

"Eu não sabia nem se seria eleita, creio que nenhum humano pode imaginar receber 2 milhões de votos", afirma a deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP) sobre a votação que a elegeu para uma cadeira na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) -- ela é deputada de SP mais votada desde pelo menos a redemocratização.

Católica fervorosa, Janaina acredita que "Deus deve ter algo muito grande para eu fazer". Apesar disso, ela ainda não sabe o que é, mas acredita que está no caminho certo. "Saberei no momento certo. É muito voto para uma pessoa só."

Referências religiosas são constantes nos discursos, postagens nas redes sociais e entrevistas de Janaina. Seu clássico "discurso da cobra", feito em um ato pelo impeachment no Largo São Francisco, em São Paulo, é um exemplo disso. Bastante exaltada e girando uma bandeira do Brasil sobre a cabeça, Janaina fez inúmeras referências religiosas para explicar a importância do processo.

A fala viralizou nas redes sociais e a repercussão "assustou" a deputada, mas não fez com que ela mudasse seu jeito espontâneo, passional e autêntico de falar em público. No lançamento de sua candidatura à presidência da Alesp em fevereiro, por exemplo, chorou pelo menos duas vezes enquanto ouvia discursos de colegas elogiosos a si. Na hora de falar, em diversos momentos subiu o tom de voz e crispou a postura, com olhos bem abertos e fala emocionada.

Apesar da religiosidade arraigada -- em seu perfil no Twitter, aparece junto a uma imagem de Cristo -- Janaina não se vê como "xiita". Acredita no estado laico e no respeito e convivência pacífica entre todas as religiões. Isto posto, alfineta a esquerda. "Não pode haver imposição, nem de uma religião em especial, nem do ateísmo, como vinha ocorrendo nos últimos anos."

"São Paulo precisa muito de mim"

13.mar.2019 - A deputada estadual Janaina Paschoal (PSL_SP) disputa a presidência da Alesp  - Carine Wallauer/UOL - Carine Wallauer/UOL
A deputada estadual Janaina Paschoal (PSL_SP) disputa a presidência da Alesp
Imagem: Carine Wallauer/UOL

Janaina foi alçada à condição de celebridade política como coautora do pedido de impeachment que culminou na cassação do mandato de Dilma sem nunca ter participado de eleições ou se envolvido com política antes. Explica que demorou a decidir-se em concorrer a um cargo nas eleições -- chegou a ser convidada para vice na chapa do presidente Jair Bolsonaro (também do PSL) e negou. Quando optou por se candidatar, resolveu tentar uma vaga na Alesp, para não obrigar sua família a mudar completamente de vida - ela é casada e tem dois filhos.

Apesar de ter ficado famosa e sofrer ameaças desde a época do impeachment, Janaina tenta não mudar a rotina. Vive no mesmo apartamento de antes, pratica esportes em uma academia perto de casa, mantém um escritório com as irmãs, dá aulas na Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo), assiste os filhos em casa e anda sem motorista ou segurança. Até o momento, ela não usa os serviços de um assessor de imprensa pessoal e mantém enxuta a equipe que comporá seu futuro gabinete.

"Não decidi entrar na política por mim, mas pelo país", afirma. Na assembleia paulista, a deputada teve de cara uma amostra das nuances e dificuldades que enfrentará com seu estilo na vida parlamentar. Candidata à presidência da Casa e integrante da maior bancada (o PSL tem 15 deputados, mais que todos os outros partidos), não deve ver seus mais de dois milhões de votos converterem-se em capital político lá dentro.

Parece determinada, mas também frustrada com a situação. Apesar de ter entrado em uma Casa que ela mesma chama de "túmulo da política" -- na Alesp, a mesa diretora é historicamente definida em acordo entre os partidos, as votações são feitas por aclamação e praticamente qualquer decisão parte de um consenso entre as lideranças das legendas -- Janaina diz não se arrepender de estar lá.

"Não estou arrependida, São Paulo precisa muito de mim e o que ocorre aqui impacta o resto do país. Minha vida nunca foi fácil. Sou otimista, mas também sou realista. Vamos enfrentar o que precisa ser enfrentado."

Críticas a correligionários

Janaina não tem "papas na língua", inclusive para desancar correligionários, elogiar ou lamentar decisões do governo, ministros e políticos em geral.

No Twitter, rede social onde conta com 297 mil seguidores e faz postagens diárias, comenta sempre assuntos atuais do noticiário sem receio de desagradar colegas ou mesmo eleitores. A independência de postura e ideias vem sendo sua marca registrada na sua curta vida política até o momento.

Achou a ideia do ministro da Educação de filmar as crianças na escola cantando o hino "ruim"; pede dia sim, dia não a cabeça do ministro do Turismo acusado de plantar um laranjal nas candidaturas femininas do PSL em Minas Gerais; e lamentou a morte do neto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de meningite na semana passada.

O estilo independente a faz adorada por eleitores, respeitada por correligionários e detestada pelos rivais. "Quem acha que faz política sozinho, baseado apenas em suas convicções, não dura nesse ramo. Ela é muito boa mas política é composição, é saber chegar a acordos com os adversários, o resto é gritaria", afirma um deputado estadual tucano que pede para não ser identificado na reportagem pois mantém boas relações com a deputada e não gostaria de desagrada-la com as declarações.

6 PERGUNTAS PARA JANAINA PASCHOAL

O que é ser conservador hoje?

Ser um conservador é manter o que está bom e ter coragem de mudar o que está ruim.

A senhora pretende disputar a Prefeitura de São Paulo nas eleições do ano que vem?

Não serei candidata a prefeita. Ninguém precisa se preocupar comigo.

Quais seus planos para o mandato?

Eu tenho vários planos para a Presidência da Casa. Além de tornar a Alesp independente, quero que as decisões sejam tomadas em Plenário e não pelo Colégio de Líderes. Hoje, não há proporcionalidade e falta transparência, pois a população não sabe quem votou e como votou. Se não vencer, apresentarei os projetos que anunciei durante a campanha... já estou trabalhando neles.

Qual seus planos na política?

Só seguirei na política, se concluir que sou mais útil dentro do que fora. Não decidi entrar por mim, mas pelo país. Não tenho planos definidos para o futuro.

Existem excessos no âmbito da chamada "extrema-direita"?

Eu acredito que os extremos sempre estão errados. As questões, em regra, são complexas e devem ser analisadas em suas nuances. Os exaltados do lado da direita estão, na verdade, reagindo aos exaltados da esquerda, que dominaram por muito tempo, na política e entre os formadores de opinião. Creio que haverá uma acomodação.

Existe espaço para a religião no Estado Laico?

O Estado Laico é aquele que fomenta a boa convivência das várias religiões. Não pode haver imposição, nem de uma religião em especial, nem do ateísmo, como vinha ocorrendo nos últimos anos.

PERFIL

Nome: Janaina Conceição Paschoal

Idade: 44 anos

Profissão: Advogada

Estado Civil: Casada

Filhos: 2

Religião: Católica

Time do coração: Corinthians

Patrimônio total declarado: R$ 2.395.439,93

Partido: PSL

Cargo: Deputada estadual por SP