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Medo da Lava Jato fez empresa do coronel Lima fechar contas, diz MPF

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

21/03/2019 19h44Atualizada em 21/03/2019 19h51

Uma das empresas investigadas por suspeita de receber dinheiro de propina no esquema supostamente comandado pelo ex-presidente Michel Temer (MDB) fechou uma conta bancária 11 dias depois de o MPF (Ministério Público Federal) denunciar a quadrilha que desviava recursos da Eletronuclear. Segundo a força-tarefa da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro, a conta foi fechada devido aos avanços das investigações sobre a estatal.

Um relatório de informação financeira produzido pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) mostrou que, no dia 12 de maio de 2015, a PDA Projetos e Direção Arquitetônica fechou sua conta no Kirton Bank S.A, em São Paulo.

A empresa pertence ao coronel João Baptista Lima Filho, o coronel Lima, apontado pela Lava Jato como um dos principais operadores financeiros do esquema de recebimento de propina comandado por Temer.

Onze dias antes, a força-tarefa da Operação Lava Jato no Paraná havia feito uma denúncia contra uma organização criminosa que desviava recursos da Eletronuclear. Foi o resultado da Operação Radioatividade, que resultou na condenação de um ex-presidente da estatal, o almirante reformado Othon Luiz Pinheiro da Silva, e de outras pessoas.

"[...] Sendo encerrada a conta nessa última data (12 de setembro de 2015) certamente em razão das investigações da Lava Jato que, àquela altura, já descortinavam, por exemplo, as propinas pagas aos investigados pela obra de Angra 3", diz um trecho da investigação da Lava Jato fluminense.

Entre as outras pessoas condenadas, estava o ex-executivo da Engevix José Antunes Sobrinho. Mais tarde, ele assinaria um acordo de colaboração premiada que serviu de base para a operação de hoje.

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Segundo o Coaf, essa conta da PDA recebeu, entre 2009 e 2015, R$ 26,1 milhões. Os depósitos foram feitos por empresas e pessoas físicas que aparecem na investigação como fazendo parte do esquema de pagamento de propina que beneficiava o ex-presidente.

Entre elas está a Argeplan, outra empresa do coronel Lima que, segundo o delator José Antunes Sobrinho, foi incluída em um consórcio para executar obras na Eletronuclear mesmo sem ter qualificação técnica para o projeto e apenas por conta da influência política do seu sócio.

Outro lado

O advogado Maurício Silva Leite, defensor de João Baptista Lima Filho, declarou estar perplexo com a prisão decretada. Segundo o advogado, "a própria Procuradoria-Geral da República manifestou-se em relação aos mesmos fatos e concluiu que não havia elementos para a prisão do meu cliente". "Surpreendentemente, 2 meses depois, contrariando o entendimento da PGR, a prisão é decretada pela 1ª instância, sem a existência de nenhum fato novo."

Em nota, Eduardo Carnelós, advogado do ex-presidente Michel Temer, disse que a prisão do emedebista "é um dos mais graves atentados ao Estado Democrático de Direito no Brasil".

Segundo a nota, "os fatos objeto da investigação foram relatados por delator e remontam ao longínquo 1° semestre de 2014". Segundo ele, o colaborador não apresentou nenhuma prova comprobatória a respeito dos fatos narrados.

Carnelós atacou a decisão do juiz federal Marcelo Bretas. "Resta evidente a total falta de fundamento para a prisão decretada, a qual serve apenas à exibição do ex-presidente como troféu aos que, a pretexto de combater a corrupção, escarnecem das regras básicas inscritas na Constituição da República e na legislação ordinária", afirmou.

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