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Advogado é denunciado à OAB por cooptar clientes da Lava Jato no Rio

Escritório do advogado Nythalmar Filho, em Campo Grande, na zona oeste do Rio - Italo Nogueira/Folhapress
Escritório do advogado Nythalmar Filho, em Campo Grande, na zona oeste do Rio Imagem: Italo Nogueira/Folhapress

Marcela Leite

Do UOL, em São Paulo

27/03/2019 04h00

Os advogados Carlo Luchione, Daniela Laboragine e Michelle Costa, da Luchione Advogados, denunciaram à OAB/RJ o colega de profissão Nythalmar Dias Ferreira Filho por cooptação indevida de clientes da Operação Lava Jato que já tinham defesa constituída, "vendendo facilidades" para atraí-los.

Segundo a representação ético-disciplinar, o advogado de Fernando Cavendish - ex-presidente da construtora Delta e acusado de participar de esquema de corrupção com o governo do Rio - é acusado de sugerir uma aproximação com o juiz Marcelo Bretas, responsável pela Lava Jato no Rio, e com promotores para "alcançar seus objetivos".

Desta forma, ele teria oferecido "delação premiada fulcrada em um inovador 'sistema americano' que só ao representado estaria disponível aos 'interessados'".

No documento, o escritório diz ter presenciado três casos em que Nythalmar teria cooptado indevidamente investigados e réus que já tinham advogados. Em uma dessas situações, um dos clientes teria dito ao profissional do Luchione que Nythalmar o teria advertido a mudar a estratégia de defesa ou então seria condenado a 25 anos de prisão.

Os clientes levados do escritório são Marco Aurélio Pereira Leite e Marco Aurélio Vianna Pereira Leite, presos temporiamente na Operação Pripyat, desdobramento da Lava Jato que investiga esquema de fraudes em licitações, corrupção e lavagem de dinheiro em contratos entre Eletronuclear e as empresas Andrade Gutierrez e Engevix para as obras da usina de Angra 3.

OAB analisa denúncia

Em nota enviada ao UOL, a OAB/RJ disse que a denúncia está sob análise do presidente do Tribunal de Ética e Disciplina, Marcos Bruno, que "vai avaliar se existem na representação elementos que justifiquem a abertura de um processo ético-disciplinar contra o advogado".

Caso esse processo seja aberto, o advogado será notificado para apresentar sua defesa, testemunhas serão ouvidas e provas serão produzidas até a análise final do caso, pelo Conselho Seccional da OAB/RJ.

O UOL procurou o advogado Nythalmar Filho, mas não teve retorno até a publicação desta matéria.

Advogado novato

Nythalmar, de 28 anos, atua desde agosto de 2016 na 7ª Vara Federal Criminal, no Rio de Janeiro, e viu sua fama aumentar entre os presos da Lava Jato depois de conseguir a soltura do ex-diretor da Eletronuclear Edno Negrini em abril de 2017.

Ele se formou em 2010 no Centro Universitário da Cidade (UniverCidade), descredenciado pelo Ministério da Educação por baixa qualidade acadêmica e comprometimento financeiro da mantenedora.

Apesar de um escritório pequeno no bairro de Campo Grande, zona oeste do Rio, ele conseguiu clientes como Fernando Cavendish, o ex-deputado Pedro Corrêa e o genro dele, Laudo Zianni.