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As brigas entre Carlos Bolsonaro e Mourão em 7 pontos

Stella Borges

Do UOL, em São Paulo *

24/04/2019 15h51

O vereador carioca Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro (PSL), deu início ontem a uma nova rodada de ataques ao vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB).

Em dois dias, até a tarde de hoje, Carlos publicou 17 tuítes contra Mourão. Em vez de insinuações, o vereador passou a acusar diretamente o vice de estar contra seu pai.

A ofensiva coincide com a escalada na crise entre o escritor Olavo de Carvalho, guru da família Bolsonaro, e Mourão.

O presidente precisou entrar em cena e usou o porta-voz, general Otávio do Rêgo Barros, para tentar debelar a crise ontem. Mas Carlos Bolsonaro não parece disposto a arrefecer os ataques.

Hoje, Carlos retuitou um post que trazia um comentário de Caio Coppola para a rádio Jovem Pan. Segundo ele, "fontes no Palácio do Planalto disseram que poucas vezes detectaram tanta ambição presidencial em alguém como no vice-presidente Mourão".

Depois, compartilhou um vídeo intitulado "General Mourão: o traidor?" e disse que o "vice contraria ministros e agenda que elegeu Bolsonaro presidente".

Mais cedo, Carlos negou que esteja "reclamando do vice só agora". "São apenas fatos que já aconteceram e gostaria de continuar compartilhando", escreveu.

Em entrevista publicada no jornal O Estado de S. Paulo, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), saiu em defesa do irmão e disse que ele está "apenas reagindo a isso tudo que salta aos olhos".

As rusgas entre Carlos Bolsonaro e Mourão não são novidade e começaram ainda na campanha eleitoral. Relembre a seguir os principais pontos da briga entre o vice-presidente e o filho 02 de Bolsonaro.

1. Campanha eleitoral

Após Bolsonaro ser esfaqueado durante um ato em Juiz de Fora (MG), Mourão tentou ocupar espaço na campanha e quis participar dos debates. A ação irritou o clã Bolsonaro, que encarou a atitude como um protagonismo excessivo do então candidato a vice e barrou a ideia.

O mal-estar da campanha foi relembrado por Carlos Bolsonaro ontem. No Twitter, o filho do presidente se referiu ao vice-presidente como "o tal de Mourão" e o acusou de dizer que a facada era uma "vitimização."

A reportagem citada por Carlos, no entanto, não é do mesmo dia em que o presidente sofreu o atentado durante ato de campanha. Bolsonaro foi golpeado por Adélio Bispo dos Santos em 6 de setembro. A declaração de Mourão à imprensa foi dada cinco dias depois, em 11 de setembro, ao defender que a campanha não explorasse o atentado.

2. Demissão de Gustavo Bebianno

Em fevereiro, Mourão chamou de "futriquinha" a crise no governo envolvendo o então Secretário-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno.

Bebianno, que presidiu o PSL durante as eleições de 2018, se tornou o centro de uma crise depois que o jornal Folha de S.Paulo revelou a existência de um esquema de candidaturas laranjas do partido para desviar verba pública eleitoral.

O então ministro afirmou em entrevista que continuava falando normalmente com o presidente após a denúncia, mas acabou desmentido por Carlos.

Em entrevista à Bloomberg na época, Mourão avaliou negativamente a atitude do filho de Bolsonaro.

Diz a velha prática que roupa suja a gente lava no tanque da casa e não da casa dos outros. Esta crise está ligada às denúncias em relação aos gastos de campanha do PSL e a um certo protagonismo do filho do presidente que, no afã de defender o pai, interferiu levando as discussões e debates em rede social que acabam sendo de domínio público, o que não é bom
Mourão, em entrevista à Bloomberg

3. Olavo de Carvalho

A mais nova rodada de ataques de Carlos ao vice-presidente começou depois de Mourão ter respondido as críticas do escritor Olavo de Carvalho aos militares. Carlos, que é seguidor de Olavo, defendeu o escritor no Twitter, e centrou seus ataques em Mourão.

Carlos repostou em suas contas no Twitter e Instagram uma publicação da jornalista Raquel Sherazade em que ela criticava Bolsonaro e elogiava Mourão. O vice-presidente curtiu o post. A atitude do vice é um dos argumentos usados pelo deputado Marco Feliciano (Podemos-SP) em seu pedido de impeachment contra Mourão.

4. Convite para palestra

Ainda ontem, Carlos falou nas redes sociais sobre o convite de uma palestra de Mourão no instituto Wilson Center, nos Estados Unidos.

O texto diz que os primeiros cem dias foram marcados pela paralisia do governo Bolsonaro devido a "sucessivas crises geradas pelo próprio círculo interno do presidente". Acrescenta, ainda, que Mourão vem surgindo como uma "voz moderada" no governo.

"Se não visse não acreditaria que aceitou (o convite) com tais termos", escreveu Carlos.

5. Crise na Venezuela

Carlos também criticou uma fala de Mourão sobre a crise econômica e política vivida pela Venezuela. Na postagem, Mourão aparece dando uma entrevista na qual diz que a população do país vizinho "tem que estar desarmada porque senão nós iríamos para uma guerra civil na Venezuela, o que seria horrível para o hemisfério como um todo".

A fala foi classificada por Carlos como "pérolas que mostram muito mais do que palavras ao vento, mas algo que já acontece há muito tempo".

6. Jean Wyllys

Hoje, Carlos voltou a atacar o vice publicando a chamada de uma matéria sobre uma declaração de Mourão a respeito do ex-deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), que deixou o Brasil após sofrer ameaças de morte. Carlos avalia que Mourão está alinhado com políticos que detestam Bolsonaro e diz que estranha este suposto alinhamento.

Em janeiro, Mourão disse que Wyllys deveria ter ficado no Brasil: "Nosso governo não tem política para perseguir minorias, esse não é o jeito que nós nos comportamos. Poderíamos protegê-lo", disse na época.

7. Redução de pena para Lula

Ontem, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) reduziu a pena de prisão aplicada ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no processo do tríplex de Guarujá (SP). A redução da pena para 8 anos, 10 meses e 20 dias de prisão pode permitir que o petista vá para o regime semiaberto ainda neste ano.

Questionado sobre o tema, Mourão afirmou que "decisão do Judiciário a gente não comenta". A fala também foi alvo de críticas por parte do filho do presidente.

Mourão pediu calma

Hoje, o vice-presidente Hamilton Mourão repetiu que "quando um não quer, dois não brigam". O general buscou minimizar a troca de farpas pública, em consonância com o recado transmitido ontem pelo porta-voz do governo, o de colocar um "ponto final" na "pretensa discussão".

"Pai e filho é pai e filho. Não tem essas desavenças. Vamos aguardar, gente. Falei ontem a frase da minha mãe: dê tempo ao tempo", declarou o vice na chegada a seu gabinete, no Palácio do Planalto.

*Colaborou Marcela Leite, do UOL, em São Paulo

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.