De 'conje' a 'Franz Kafta', governo novo mantém velha tradição de 'pérolas'
Novos tempos, antiga tradição. Em pouco mais de cinco meses de governo, a equipe de Jair Bolsonaro (PSL) tem demonstrado disposição em manter em alta a produção de gafes.
No passado, Lula virou notícia ao dizer que o 'comércio exterior é uma mão de duas vias', Dilma saudou a mandioca, e Temer até incentivou ministros a treinarem para diminuir as "bolas fora".
Agora, o governo que se propôs a acabar "com tudo isso que tá aí" renova o repertório nacional de "pérolas" com termos como "conje", em vez de cônjuge, dito pelo ministro Sergio Moro (Justiça e Cidadania). E Kafta, no lugar de Franz Kafka, em deslize do ministro da Educação, Abraham Weintraub.
Relembre:
Ídolo ou fã?
Em meio às disputas entre a ala militar e Olavo de Carvalho, o presidente foi às redes defender o legado do escritor. Mas confundiu duas definições complementares - a de "fã" e a de "ídolo":
"Olavo, sozinho, rapidamente tornou-se um ícone, verdadeiro fã para muitos. Seu trabalho contra a ideologia insana que matou milhões no mundo e retirou a liberdade de outras centenas de milhões é reconhecida por mim".
A reação veio rápida nas redes sociais - e muitos culparam Carlos Bolsonaro, a quem é atribuído o controle da conta do pai.
Dias antes, o ministro já havia trocado as letras, ou melhor, os números: anunciou que um exame custaria R$ 500 mil, em vez de R$ 500 milhões.
Conje
Sergio Moro foi alvo de ironias por parte de Ciro Gomes por conta da dicção e do domínio da língua.
"Se os filhos do Moro forem aprender português com ele em casa, é preciso chamar o Conselho Tutelar", disse Ciro.
O próprio ministro da Justiça fez piada com as críticas em entrevista a Pedro Bial.
Isso por ter pronunciado "conje" em vez de cônjuge durante sessão na Câmara de Deputados e ter dito "sobre violenta emoção", em vez de "sob violenta emoção" (para justificar policiais que atiram contra suspeitos).
Nas redes, usuários também notaram que o ministro omite "r" com frequência: diz 'coupção' e 'pcisa', por exemplo.
O suicídio literário de Carlos Bolsonaro
Responsável pela comunicação do pai nas redes, Carlos Bolsonaro exagerou na figura de linguagem para manifestar o seu cansaço no Twitter:
"Vejo uma comunicação falha há meses na equipe do Presidente. Tenho literalmente me matado para tentar melhorar, mas como muitos, sou apenas mais um e não pleiteio e bem quero máquina na mão", escreveu.
Como "literalmente", na língua portuguesa, expressa "de modo exato, de forma total, absoluta", segundo o dicionário Houaiss, o vereador dificilmente deveria estar terminando com sua vida enquanto postava nas redes.
Os números... inúmeros complexos
Bolsonaro se atrapalhou ao comemorar cem dias de governo, quando lia o discurso em um teleprompter, um monitor que exibe o texto a ser lido, comum em estúdios de TV.
Assim que iniciou com um "senhoras e senhores", o presidente, acostumado a falar de improviso, demonstrou dificuldade com o aparelho. Cerrou os olhos como se não estivesse enxergando direito.
Depois continuou: "É com muita honra que estamos aqui neste evento para prestar contas dos primeiros cem dias de governo". Em meio à fala, Bolsonaro foi aos poucos fechando o sorriso inicial e esfregou uma mão na outra.
Ao fim da primeira frase, tirou os óculos para ver se a leitura melhorava, mas logo os colocou de volta, dando sequência ao discurso de forma bastante truncada.
"Os números com... os números... os inúmeros complexos", disse, interrompendo com um "calma lá", abrindo novamente o sorriso, meio desconcertado, e tentando seguir, porém errando a frase.
"Os desafios são os inúmeros e complexos neste grandioso Brasil. O quinto maior [pausa] produtor do mundo", disse.
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