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Lula: Bolsonaro é doente! Acha que problemas do país se resolvem com arma

10.mai.2019 - Lula em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, exibida na BBC World News - Reprodução
10.mai.2019 - Lula em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, exibida na BBC World News Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

10/05/2019 23h05

Em sua segunda entrevista na prisão, o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou novamente o atual presidente, Jair Bolsonaro (PSL).

"Ele acaba de fazer um decreto acabando com todos os conselhos populares que foram criados a partir da Constituição de 1988. Ele defende barbaramente um estado armado, um estado policialesco. Ele acaba de autorizar fazendeiro a usar arma e atirar em quem ele quiser. Ele é um doente! Acha que o problema do Brasil se resolve com arma. Os problemas do Brasil se resolvem com livro, com escola", declarou na sede da Polícia Federal em Curitiba ao jornalista Kennedy Alencar.

Trechos da entrevista foram utilizados como parte da reportagem de 30 minutos chamada Lula: Behind Bars (Lula: Atrás das Grades, em tradução livre), exibida hoje no canal fechado BBC World News, por volta das 20h30.

A conversa foi gravada há exatamente uma semana --portanto, antes do decreto assinado na terça (7) por Bolsonaro ampliando o direito ao porte de armas a diversas categorias, como caminhoneiros, advogados, deputados, vereadores e até jornalistas. Ao mencionar que "fazendeiro pode atirar em quem ele quiser", nota-se que Lula se referia, portanto, às promessas que seu oponente havia feito em 18 de abril, remetendo ao decreto de porte.

Exaltado, o ex-presidente declarou que "pelo bem do Brasil" espera que Bolsonaro aprenda a guiar o país. "Em vez de ficar falando bobagens, ele deveria falar que vai terminar o mandato melhor do que o Lula. Vou fazer mais universidade, vou investir mais em ciência e tecnologia, vou colocar mais criança na escola, vou fazer mais casas".

O petista também criticou a postura dos descendentes do atual presidente. "Ele corre atrás dos filhos para apagar um incêndio a cada dia. Não sei como funciona a família, mas o que se apresenta publicamente é um negócio incontrolável", disse Lula.

A entrevista foi solicitada por Alencar no ano passado, mas só foi realizada neste mês por causa de decisões divergentes de ministros do Supremo Tribunal Federal. Declarações do petista a veículos de imprensa estiveram proibidas de setembro de 2018 a abril deste ano, quando o presidente da Corte, Dias Toffoli, liberou que ele fosse entrevistado pelos jornais "Folha de S.Paulo" e "El País Brasil".

Críticas a Moro

Assim como em sua primeira entrevista, Lula insistiu em sua linha de defesa sobre a condenação no caso do tríplex no Guarujá, questionando as evidências apresentadas pelo Ministério Público Federal e chanceladas pelo então juiz federal Sergio Moro - e atual ministro da Justiça e Segurança Pública - e pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região.

"Alguém tem que mostrar (a prova). Esse apartamento, esse maldito apartamento, se ele é meu, tem que ter um documento, tem que ter um contrato, tem que ter um pagamento. Alguma coisa tem que ser mostrada. Não é possível que alguém possa dizer que um apartamento é meu se eu não comprei, não morei, não paguei, não tem escritura. Que negócio é meu?", afirmou.

O ex-presidente voltou a acusar Moro de manipular a imprensa ao vazar seletivamente informações sigilosas:

"O Moro fornecia à imprensa as informações em primeira mão, do jeito que ele entendia, a imprensa transformava a mentira do Moro em verdade, e aí o cara já estava condenado. Por que que você acha que eu resolvi resistir? Porque eu quero provar que eles mentiram."

Para Lula, Moro não vai sobreviver à política. "Ele não nasceu para isso. Ele nasceu para se esconder atrás de uma toga e ficar lendo o Código Penal. É para isso que ele nasceu. Ele tem que se expor a debate. Eu, por exemplo, adoraria se sair daqui fazer um debate com o Moro sobre os crimes que cometi."

Autocrítica

Lula fez uma autocrítica ao admitir que "lamenta não ter sido mais incisivo" com a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) para fazer algumas coisas.

"Uma pessoa cheia de confiança como a Dilma, na hora que o carro começa derrapar nem sempre tem a tranquilidade de parar e falar: peraí, vamos parar, vamos ouvir, vamos conversar".

Sobre a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos Rio-2016, o presidente opinou que "foi uma oportunidade mal aproveitada", porque "o Brasil já estava tomado pelo ódio".

Peso da corrupção

Questionado sobre o peso da corrupção na economia, ele ponderou: "Não é o peso a ponto de atrapalhar o crescimento da economia no Brasil. O que atrapalha o crescimento da economia é que o Brasil nunca pensou efetivamente em se desenvolver. O Brasil se contentou em ser o que é: um país para 35 milhões, e o restante que seja número estatístico".

Casa Civil e impeachment

O ex-presidente também foi questionado se Dilma o nomeou para comandar a Casa Civil, em março de 2016, para que ele tivesse foro privilegiado. Ele nega.

"Eles achavam que eu evitaria o impeachment. Eu, conscientemente, não via nenhuma vantagem em ir para o governo naquela altura dos acontecimentos. Ninguém entra em um carro a alta velocidade para conseguir controlar o carro. Eu aceitei, desde que a gente mudasse a política econômica", relembrou.

Na época, o Palácio do Planalto promoveu uma cerimônia em que a então presidente Dilma Rousseff o empossou como titular da Casa Civil, em uma tentativa de reorganizar a base aliada e conter o avanço do processo de impeachment no Congresso. Investigado pela Operação Lava Jato, Lula também ganharia foro privilegiado na condição de ministro, saindo da alçada do juiz federal Sérgio Moro.

A posse de Lula, no entanto, foi suspensa um dia depois da solenidade por liminar do ministro Gilmar Mendes, do STF.

Mônica Bergamo conta detalhes da entrevista com Lula para a Folha

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