Flávio lucrou R$ 728 mil em transações com 2 investigados do caso Queiroz
O senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) lucrou ao menos R$ 728 mil em transações imobiliárias com dois dos alvos das quebras de sigilo bancário e fiscal do caso Queiroz, conforme documentos aos quais o UOL teve acesso. Os registros obtidos em cartórios da cidade do Rio de Janeiro dizem respeito a nove transações envolvendo a empresa MCA Participações e um norte-americano.
Eles figuram no rol de 95 pessoas físicas e jurídicas que tiveram os sigilos quebrados por decisão do juiz Flávio Itabaiana, da 27ª Vara Criminal do Rio.
Com a MCA, Flávio Bolsonaro negociou 12 salas comerciais no Barra Prime Offices --um centro comercial de alto padrão na Barra da Tijuca, na zona oeste carioca. A reportagem teve acesso à documentação de sete delas. Os registros revelam que Flávio, à época deputado estadual, obteve um lucro significativo em apenas 43 dias.
Todas as salas foram adquiridas por ele no dia 16 de setembro de 2010, por valores entre R$ 192,5 mil e R$ 342,5 mil. No total, os sete imóveis custaram ao político pouco mais de R$ 1,5 milhão. Menos de dois meses depois, no dia 29 de outubro, Flávio vendeu as salas à MCA, com um ágio de aproximadamente 20%. Os imóveis renderam a ele R$ 1,85 milhão --um lucro R$ 318 mil.
Flávio obteve ganhos ainda maiores nas negociações com o norte-americano Charles Anthony Eldering, de quem comprou uma sala comercial na avenida Prado Junior, em Copacabana, zona sul do Rio. Mesmo em um período de mercado imobiliário aquecido no Rio por conta da expansão das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) e pela proximidade da Copa do Mundo e Olimpíada, Flávio adquiriu a sala de Eldering em novembro de 2012 por R$ 140 mil --valor R$ 60 mil abaixo do que foi pago pelo americano em março de 2011.
A aquisição do imóvel se revelaria um negócio ainda melhor para o filho mais velho de Jair Bolsonaro. Em fevereiro de 2014 (um ano e três meses depois), ele vendeu a sala por R$ 550 mil, obtendo um lucro de R$ 410 mil no período.
Em fevereiro, a "Folha de S. Paulo" informou que Flávio adquiriu outro imóvel em Copacabana na mesma época que se tornou dono da sala da avenida Prado Junior. Neste, pagou R$ 170 mil em novembro de 2012, revendendo-o por R$ 573 mil um ano depois. Nos negócios, obteve um lucro de R$ 403 mil.
Procurado através de sua assessoria, Flávio Bolsonaro afirmou que não se pronunciaria sobre o assunto.
Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", o senador justificou que o lucro obtido com o imóvel de Copacabana, segundo ele, é "totalmente compatível". "Foi um investimento. O Brasil estava na iminência de Olimpíada, esta é uma região que começava a valorizar. Totalmente compatível. Mais uma vez: querem criar uma fantasia onde não tem. As oportunidades apareciam", alegou.
Caso Queiroz
As transações imobiliárias de Flávio Bolsonaro são um dos focos da investigação do Ministério Público do Rio em torno de Flávio e do policial militar da reserva Fabrício Queiroz, que atuou por mais de uma década como motorista e chefe de gabinete informal de seu gabinete na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio).
Em dezembro, veio a público um relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) sobre movimentações atípicas de Queiroz. O ex-assessor teve movimentações de R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017 apontadas como suspeitas pelo órgão.
Oito servidores e ex-servidores do gabinete de Flávio --que empregava as filhas, a mulher e a enteada de Queiroz-- fizeram depósitos na conta de Queiroz.
Queiroz foi chamado ao MP para prestar esclarecimentos, mas faltou quatro vezes. Nas duas primeiras, no começo de dezembro, alegou que sua defesa não havia tido acesso a toda documentação referente ao caso. Ele foi chamado ao MP novamente no fim do mês, mas não compareceu ao encontro com os promotores nos dias 19 e 21 de dezembro. O ex-assessor afirmou que estava tratando um câncer em São Paulo.
Um novo relatório do Coaf identificou depósitos atípicos na conta de Flávio Bolsonaro. Entre junho e julho de 2017, foram registrados 48 depósitos em dinheiro vivo, feitos em uma agência do Banco Itaú na Alerj, sempre no valor de R$ 2.000. Ao todo, as movimentações renderam R$ 96 mil.
Também em janeiro, o jornal "O Globo" mostrou que Flávio empregou a mãe e a mulher do miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, o capitão Adriano, em seu gabinete. Adriano foi expulso da Polícia Militar e é apontado como chefe do Escritório do Crime, grupo de matadores de aluguel investigado pela morte da vereadora Marielle Franco (PSOL) em março do ano passado.
O ministro Luiz Fux, do STF (Supremo Tribunal Federal), chegou a suspender as investigações do caso Queiroz em janeiro, mas a decisão foi derrubada pelo ministro Marco Aurélio Mello, relator do caso.
Anteontem, na entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", Flávio fez críticas ao Ministério Público. Segundo ele, alguns integrantes do órgão querem lhe "sacanear". Ele ainda atribuiu ao MP vazamentos de informações a seu respeito.
Ontem o MP reagiu e defendeu a isenção das investigações. "O referido parlamentar não adota postura similar à de outros parlamentares, prestando esclarecimentos formais sobre os fatos que lhe tocam (...). O Senador é presença constante na imprensa, mas jamais esteve no MPRJ, apesar de convidado", disse o MP em nota.
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