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Gritar "fora, Mourão" é uma burrice, diz general em evento pró-Bolsonaro

18.mai.2019: General da reserva do Exército Paulo Chagas concede entrevista em churrasco do Movimento Direita Brasil - Eduardo Militão/UOL
18.mai.2019: General da reserva do Exército Paulo Chagas concede entrevista em churrasco do Movimento Direita Brasil Imagem: Eduardo Militão/UOL

Eduardo Militão

Do UOL, em Brasília

21/05/2019 12h36

Resumo da notícia

  • General da reserva, Paulo Chagas critica estratégia do governo Bolsonaro
  • O militar foi alvo de mandado de busca e apreensão em investigação do STF
  • Para Chagas, Olavo de Carvalho é "louco", e Carlos Bolsonaro, "desequilibrado"
  • Militantes de encontro de direita cobraram do general uma intervenção militar

Ao assumir o microfone, o general da reserva Paulo Chagas foi aplaudido com efusividade pela plateia no clube da Associação dos Servidores do Tribunal de Contas da União (TCU), em Brasília, no último sábado. Militantes se reuniam no churrasco de lançamento do Movimento Direita Brasil.

Ex-candidato a governador do Distrito Federal e alvo de mandado de busca e apreensão por ter criticado o Supremo Tribunal Federal (STF) na internet, o homem foi assediado no evento, ouviu críticas aos militares e não deixou barato -- desferiu golpes sem pensar em agradar a todo o público.

Com a palavra, afirmou que os partidários do governo têm que "cobrar" de Bolsonaro um comportamento de um presidente da República. A tônica do encontro foi a manifestação de apoio conclamada pelo atual chefe da nação para o próximo domingo.

"Nós conseguimos eleger o presidente que nós queríamos eleger. A situação que nós estamos vivemos não é a que queríamos viver", iniciou o general, que se desfiliou do PRP. Hoje, Bolsonaro vive uma crise de governabilidade e tem criticado a "classe política", da qual faz parte.

Temos que cobrar do presidente que ele seja o nosso presidente e não o nosso deputado. O nosso deputado ele já foi. Ele tem que provar agora que é um bom presidente. Vestir a carapuça, a farda, o chapéu do presidente da República. Ele não é o nosso presidente, ele é o presidente do Brasil."

Diante de uma plateia com 120 dos 1.700 integrantes do Movimento Direita Brasil, o militar destacou que os ativistas não votaram em em um candidato, mas na "proposta do candidato Bolsonaro". Em entrevista ao UOL, Chagas ainda criticou ministros e o escritor Olavo de Carvalho, a quem chamou de "louco" (veja mais abaixo).

18.mai.2019 ? O general do Exército e ex-candidato a governador de Brasília, Paulo Chagas, discursa em churrasco do Movimento Direita Brasília - Eduardo Militão/UOL - Eduardo Militão/UOL
18.mai.2019: Paulo Chagas discursa em churrasco com simpatizantes de Bolsonaro no DF
Imagem: Eduardo Militão/UOL

De acordo com anúncio no churrasco, o evento pregará o impeachment de três ministros do STF --- Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes ---, o pacote anticrime do ministro Sergio Moro e aprovação da reforma da Previdência.

"Nós vamos à rua no dia 26 com uma pauta única, com uma pauta nossa, uma pauta que não tenha nenhum evento que seja divisor entre nós", destacou o general, defendendo o vice-presidente Hamilton Mourão e o ministro e general Carlos Alberto Santos Cruz.

Ir pra rua pra dizer 'Fora, Mourão", 'Fora, Santos Cruz?' Isso é uma burrice inominável. Nós não podemos ser burros como nossos adversários foram. Foram tão burros que não foi tão difícil derrotá-los. Nosso partido não é o PSL, não é qualquer outro partido. Nosso partido é o Brasil.

Linguiça, política e Bíblia

O evento reuniu simpatizantes de direita de diferentes matizes e idades. Numa mesa, havia um caminhoneiro, uma professora de escola pública, um empresário com a camisa da seleção brasileira, um estudante da Universidade de Brasília (UnB), um funcionário do Ministério da Agricultura e um pastor evangélico. Uma Bíblia marrom grande repousava em cima da mesa.

Mais ao lado, um prato com pão, outro com vinagrete e outro recheado de carne de boi, linguiça e frango em espetinhos. Uma senhora simpática e sorridente servia a todos e a ela mesma.

O estudante, 19 anos, dizia como era difícil estudar na UnB e ser de direita. Comentava sobre a fumaça que subia do centro acadêmico de Sociologia, que ele suspeitava ser maconha. O caminhoneiro reclamava do fato de a direita não ter, segundo ele, uma qualidade da esquerda: acolher com cargos as pessoas que ajudaram na campanha. "Os caras mudam de número de telefone", protestou.

Bolsonaro atrapalha os ministérios, diz general

De volta à conversa com Paulo Chagas, o UOL ouviu que Bolsonaro é um "cérebro" que, de alguma forma, atrapalha os projetos dos ministérios.

O militar da reserva ainda reclamou dos três filhos do presidente -- os parlamentares Flávio, Eduardo e Carlos Bolsonaro. Comentou negativamente sobre os ministros da Educação, Abraham Weintraub, e das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Disse que os dois destoam da equipe de Bolsonaro.

Também chamou de "louco" o polemista Olavo de Carvalho, guru do presidente e de Araújo. E defendeu o ex-ministro Gustavo Bebianno, demitido após crise com Carlos Bolsonaro.

"Estamos vivendo um momento difícil", afirmou Chagas, logo depois de chamar Araújo de "idiota" por defender uma guerra contra a Venezuela. "O inimigo estava dentro das nossas trincheiras. O que adianta nossos ministérios terem esses projetos maravilhosos se o cérebro está pensando... Quem é o cérebro? É o presidente, o Palácio do Planalto. O Palácio está brigando com isso, com aquilo, com o filho, com o olavete, com o [ministro e general Carlos Alberto] Santos Cruz, com o pobre do Bebianno, a primeira vítima desse troço."

O cara mais leal que eu conheci na minha vida, ao Bolsonaro, chama-se Gustavo Bebianno. Foi o primeiro cara que o filho dele destruiu com a reputação, por ciúmes do pai dele. O Carlos é desequilibrado, é bipolar."

A reportagem questionou Chagas sobre o que deveria ser feito então. Para ele, é preciso que o presidente se reúna com seus principais ministros neste momento de crise, como Paulo Guedes (Economia) e Sergio Moro (Justiça), para melhorar a comunicação. "É reunir com o presidente e traçar uma maneira de se comportar, de fazer as coisas", explicou o militar.

O presidente dizer lá nos EUA que os caras que estão se manifestando é um bando de 'idiotas úteis'... Era mais fácil ele dizer: Olha, manifestação popular é um direito do povo, estamos numa democracia. Só precisamos saber quem é que está se manifestando, com que objetivo. Essas pessoas representam efetivamente os estudantes e a educação no Brasil?

Chagas afirmou não acreditar que haverá impeachment de Jair Bolsonaro. No entanto, afirma que, na eventualidade de o vice-presidente e general Hamilton Mourão (PRTB) tomar posse, os projetos de governo continuam. "Se for ficar o Mourão, não se perde nada", avaliou.

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UOL Notícias

Tem que fechar STF e Congresso, dizem militantes

Duas mulheres defendendo uma espécie de golpe militar interromperam a entrevista que o general Paulo Chagas concedia ao UOL numa mesa. Uma reclamou que o Exército seria "frouxo". Dizia ser necessário que o Congresso e o STF, um "poleiro", fossem fechados por uma intervenção solicitada pelo presidente Jair Bolsonaro.

Mulher 1 - "Estou preocupada. Estou achando o Exército muito frouxo."
Chagas - "Muito frouxo, é?"
Mulher 1 - "É. O povo está pedindo que o Exército tome uma posição."
Chagas - "Mas o Exército é uma instituição para defender a Pátria e não se meter na política."
Mulher 1 - "Mas não é isso. Olha a situação que está. Ele não vai conseguir aprovar nada."
Mulher 2 - "Nada."
Chagas - "Sim, mas o Exército vai entrar lá e botar uma baioneta no pescoço do cara e dizer: 'Aprova'. Aí é democracia?"
Mulher 2 - "Acho que, se ele não conseguir, tem que chamar uma intervenção."
Mulher 1 - "Mas eu acho que ele vai chamar. Tem que chamar."
Mulher 2 - "Tem que chamar."
Chagas - "Quem vai chamar quem?"
Mulher 1 - "Bolsonaro."
Chagas - "Pra fazer o quê?"
Mulher 1 - "Intervenção militar. Fechar o poleiro do STF, né? Tá um poleiro"
Mulher 2 - "Congresso, né, porque a maior parte ali é traidor."
Chagas - "Vamos fazer uma intervenção. É papel das Forças Armadas? Não. Vão receber uma ordem. A ordem é constitucional?"
Mulher 1 - "Eu acho que é constitucional."
Chagas - "Não é. Tá escrito na Constituição fechar o Congresso? O STF? Não está escrito isso. Está escrito: estado de defesa, de sítio, e elas dependem sempre do Congresso. Para você fazer o que você quer que faça, pega a Constituição e rasga. Chega o presidente e diz às Forças Armadas: "Vão lá e fechem aquele treco". Tá errado. Eles vão lá e cumprem. Aí, não dá certo. Quem vai pra cadeia? O presidente que deu a ordem ou o comandante que cumpriu a ordem errada? Ordem errada não se cumpre."
Mulher 1 - "E a vontade popular?"
Chagas - "Vamos fazer um plebiscito. E o plebiscito vai dizer: "Fechem o Congresso" [irônico]"
Mulher 1 - "Sim... Pronto olha aí. Nós já vamos começar um agora contra o STF."

Chagas foi alvo de mandado de busca e apreensão pelo Supremo por supostas ameaças ao tribunal por meio de redes sociais. Ele diz que apenas alertou o órgão. A investigação prossegue num inquérito aberto no tribunal.