Witzel defende investigar deputado de sua base suspeito de encomendar morte
O deputado estadual Vandro Lopes Gonçalves (Solidariedade-RJ) aparava as madeixas num cabeleireiro ontem quando ficou sabendo pelo noticiário da TV que uma equipe da polícia estava na porta de sua casa, no bairro Fragoso, em Magé (RJ), para cumprir mandado de busca e apreensão.
Vandro Família, como é conhecido, é suspeito de ter encomendado o assassinato do rival político Paulo Henrique Dourado Teixeira, o Paulinho P9, em março passado. Enquanto era procurado, o político fez uma live no Facebook para dizer que vai processar o delegado responsável pela investigação e ainda sugeriu ao governador Wilson Witzel (PSC) que "não coloque pessoas [na polícia] que deixem a velha política reinar".
No início deste mês, o deputado estadual divulgou em suas redes sociais um vídeo onde aparece ao lado do governador, que anuncia o aumento no valor do Regime Adicional de Serviço (RAS) pago aos policiais militares e civis. Vandro Família é sargento da Polícia Militar (PM) e faz parte da base do governo do ex-juiz na Assembleia Legislativa do Rio.
Deputado nega ligação com crime
Na manhã desta terça (22), o deputado negou envolvimento no assassinato do rival político e disse estar sendo vítima de uma perseguição política.
Na vizinhança, Vandro já deu início à campanha pela sucessão de Rafael Tubarão na Prefeitura de Magé. No município de pouco mais de 60 mil habitantes, localizado a 50 quilômetros da capital, Vandro Família usou o vídeo gravado ao lado do governador para mostrar que conta com o apoio do ex-juiz Witzel na eleição municipal. "Rumo à vitória", fala na gravação.
Procurado pelo UOL, o Núcleo de Imprensa do Governo do Estado esclarece que o aumento do RAS era uma reivindicação antiga de policiais civis e militares e que, no dia em que foi assinado o decreto com o reajuste, foram gravados vídeos com vários deputados estaduais com atuação na área de segurança, além dos secretários das polícias Civil e Militar. Ainda segundo a assessoria, o governador não tem acesso a investigações sigilosas.
O caso mostra que as polícias, em meu governo, têm liberdade para investigar. Como já disse, as investigações são feitas sobre quem quer que seja.
Wilson Witzel, governador do RJ, em nota ao UOL
Vandro já foi preso em 2012
A trajetória política de Vandro Família se entrelaça à carreira de policial e às suspeitas de envolvimento em um grupo de extermínio que atua em Magé.
Em abril de 2012, o sargento PM foi preso na Operação Roma. No trabalho conjunto da Subsecretaria de Inteligência, da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) e do Ministério Público estadual, ele era acusado de chefiar uma organização criminosa responsável por uma série de assassinatos na localidade.
Na ocasião, Vandro Família foi citado em três denúncias do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público. Numa das denúncias, os promotores apontaram Vandro e dois outros suspeitos como os matadores de Joelson Carlos Sutério em frente à casa da vítima, em Fragoso, em 2009.
À época, o promotor Bruno Gangoni disse em entrevistas que a quadrilha chefiada por Vandro se caracterizava pela extrema violência. Os processos foram arquivados. O UOL enviou mensagem ao Ministério Público, solicitando informações sobre o arquivamento das denúncias, mas não obteve resposta.
Vandro Família não foi condenado e, com isso, pôde seguir na política, onde em 2016 foi eleito vice-prefeito de Magé na chapa encabeçada por Rafael Tubarão (PPS), que obteve 63% dos votos válidos.
No ano passado, o político renunciou ao cargo após ter sido eleito deputado estadual pelo Solidariedade com 33,3 mil votos. Na trajetória política, o sargento trocou de partido ao menos três vezes -- já esteve no Psol e no PT do B.
Segurança do deputado foi preso em flagrante
Em meio à operação de busca e apreensão desta terça, o PM Alexander Moura Silva, que atua como segurança de Vandro Família, foi preso em flagrante. As informações são do delegado Moyses Santana, da DHBF (Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense)
Silva foi detido pelos crimes de posse ilegal de arma de fogo, artefato explosivo, e tráfico de drogas. O material foi encontrado na casa do policial. Por meio de sua assessoria, o deputado informou ter ficado surpreso com a descoberta feita pelos policiais na casa de seu segurança. O político acrescenta que "deixa a cargo da Justiça a apuração do fato".
De acordo com o delegado, a vítima Paulo Henrique Dourado Teixeira, o Paulinho P9, foi morto após denunciar um esquema de licitações fraudulentas na Prefeitura de Magé, envolvendo o então vice-prefeito Vandro Família e o empresário Fabiano Florim. Paulinho P9 foi ameaçado de morte pelo empresário, crime à época registrado na delegacia da área.
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