Pauta radical é de "lobo solitário", diz organizador de ato pró-Bolsonaro
O CEO do Movimento Avança Brasil, Eduardo Platon, refutou qualquer ligação das manifestações deste domingo em defesa de pautas do governo de Jair Bolsonaro (PSL), como a reforma da Previdência e o pacote anticrime, com causas radicais como o fechamento do STF (Supremo Tribunal Federal) e do Congresso Nacional, assim como uma intervenção militar.
O Avança Brasil é um dos movimentos que organizam os atos de rua deste domingo e, nas redes sociais, é um dos maiores: tem 1,4 milhão de seguidores no Facebook. Também participam grupos como Nas Ruas, Ativistas Independentes e Direita São Paulo, entre outros. Segundo Platon, não há registros de qualquer integrante destes grupos defendendo tais pautas.
"Não houve em qualquer momento essas pautas de intervenção, isso não existiu. Pelo menos não nos grupos em que nós estamos trabalhando", afirmou em entrevista ao UOL por telefone na quinta-feira (23).
Na semana passada, o MBL (Movimento Brasil Livre) informou em nota que não iria aderir às manifestações de domingo pelo fato de "um setor" que convocava os atos ter divulgado hashtags como #OPovoVaiInvadirOCongresso e #Artigo142Já --uma alusão ao artigo da Constituição que, para alguns apoiadores de Bolsonaro, permitiria uma intervenção militar. Especialistas em direito consideram que tal interpretação, na verdade, viola a Constituição.
Ao longo da última semana, a reportagem verificou que imagens e áudios de tom similar circularam em grupos pró-Bolsonaro no WhatsApp. O material foi reunido por meio do Monitor do WhatsApp da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), que coleta conteúdo de centenas de grupos públicos do aplicativo --os grupos públicos são aqueles nos quais é possível entrar por meio de links diretos e abertos, que podem ser encontrados em buscas na internet, sem necessidade de autorização de administradores.
Uma das imagens traz uma foto de Bolsonaro acompanhada da frase: "Bolsonaro vai acabar fechando Congresso e Supremo". Também foram compartilhados áudios em que homens que se identificam como caminhoneiros, mas não dizem seus nomes, se manifestam no mesmo sentido.
Para Platon, do Avança Brasil, a divulgação deste tipo de conteúdo fica por conta de "lobos solitários".
"Lobo solitário na política sempre existiu, em qualquer lugar do mundo, existem os lobos solitários que têm acesso a wi-fi e se colocam. Eu tenho que me posicionar sempre colocando qual é a nossa bandeira. Em nenhum momento o nosso movimento teve essa bandeira", afirmou. "Isso não está dentro do que a gente faz. É difícil até falar de uma coisa que está fora do escopo de trabalho do movimento Avança Brasil."
Platon também cobrou a apresentação de provas que liguem a convocação dos protestos de domingo com a promoção de pautas radicais.
"Eu acho preocupante a gente fazer essas acusações sem ter minimamente as provas. Talvez algumas pessoas que têm falado isso publicamente precisam provar de onde é que vem isso. E essas provas têm que ser legítimas. É muito preocupante defender o que você não tem como provar", disse.
A favor da reformas e contra o "centrão"
Segundo o CEO do Avança Brasil, o intuito das manifestações de domingo é defender pautas do governo que são de interesse da população e estão sendo freadas pela atuação do "centrão" -- grupo informal formado por partidos como DEM, PR, PP, PSD, entre outros, que reúnem centenas de parlamentares.
O centrão tem sido percebido pelo povo brasileiro como o grande opositor das pautas do governo
Eduardo Platon, CEO do Avança Brasil
De acordo com Platon, é necessário pressionar os parlamentares para atuar "na direção do anseio da população". Questionado se tal pressão não poderia gerar uma reação contrária dos parlamentares à pauta do governo, ele disse que este cálculo cabe aos partidos e movimentos que não estão participando da agenda de reformas.
Mesmo com a afinidade de pautas, o CEO do Avança Brasil declarou que a atuação do movimento não tem relação com o governo, nem com partidos.
"Nós estamos apenas, de maneira espontânea, dando voz ao que a população brasileira acredita e defende", afirmou.
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