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Lula não pediu licença ao Brizola, diz Boulos sobre busca por novos líderes

Guilherme Boulos (PSOL) participa de protesto pró-Lula na avenida Paulista - Téo Takar/UOL
Guilherme Boulos (PSOL) participa de protesto pró-Lula na avenida Paulista Imagem: Téo Takar/UOL

Do UOL, em São Paulo

14/08/2019 14h24

O coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), Guilherme Boulos, citou a consolidação de Luiz Inácio Lula da Silva como protagonista da esquerda no Brasil no lugar de Leonel Brizola na década de 1980 como exemplo de que novas lideranças precisam se firmar, e não pedir licença à anterior.

Em entrevista ao programa "Morning Show", da "Rádio Jovem Pan", Boulos disse ainda que é injusto culpar o ex-presidente pelo seu protagonismo há três décadas dentro da esquerda brasileira.

"Sucessão não se faz pedindo licença, as pessoas se afirmam. No meu ponto de vista essa (de que Lula não deixa novas lideranças surgirem) não é uma avaliação correta, novas lideranças se constroem. Nos anos 80, quando Lula se firmou, a principal liderança da esquerda era o Brizola. O Lula não pediu licença a ele, concorreu contra ele em 1989... Jogar nas costas do Lula que ele está impedindo a renovação da esquerda não acho correto", disse.

Guilherme Boulos se candidatou à presidência da República nas Eleições do ano passado pelo PSOL. Após a derrota de Fernando Haddad (PT) para Jair Bolsonaro (PSL) no segundo turno, discutiu-se a necessidade de renovação de lideranças na esquerda brasileira depois da primeira derrota do PT em eleições presidenciais desde 1998, quando Fernando Henrique Cardoso foi reeleito. Lula foi eleito em 2002 e deu início a um período de mais de 13 anos com a esquerda no Governo.

Para Boulos, a prisão de Lula e a sua impossibilidade de disputar as últimas Eleições criaram um cenário incerto em todo o cenário político brasileiro. "A sombra do tamanho da liderança do Lula não é só para a esquerda. Ele foi tirado (do processo eleitoral) quando estava na liderança das pesquisas, normal que paute a política. Enquanto ele continuar preso por um processo que considero armado, não tem como jogar de lado e ignorar. Isso não quer dizer que a esquerda não tenha o dever de se renovar com outras agendas", disse.

"Lula é a maior liderança política do Brasil, alguém que construiu sua trajetória com uma liderança sindical e popular, presidente da República mais bem avaliado desde que se faz pesquisa na Nova República. Natural que tenha um peso e expressão, mas não podemos confundir o peso dessa figura a uma injustiça que tem sofrido por um processo judicial, no meu ponto de visto armado. Não podemos confundir com a ideia de que o futuro tem que ser a repetição do passado. Acho que houve méritos nos programas do PT, mas também tiveram erros. O futuro que uma esquerda precisa não pode ser apenas repetição do passado, tem que reconhecer os acertos e ver os erros", completou.

Entre os assuntos que Boulos defende na agenda de uma nova esquerda é o debate do modelo de desenvolvimento do Brasil. Ele aproveitou o tema para fazer críticas ao Governo Bolsonaro.

"Uma delas é o debate do modelo de desenvolvimento. Está chegando a um limite. O planeta está sendo destruído. Vimos o absurdo que é ter um presidente que nos fazer passar vergonha internacionalmente, dizendo que (a solução) para problema de sustentabilidade é de fazer coco um dia e outro não, enquanto isso liberando agrotóxicos, envenenando nossa comida, contaminando a água... O Brasil não pode ser a fazenda da China, da União Europeia exportando só soja. A nossa pauta exportadora é mais primária de agronegócios e minério do que era nos anos de 1980, precisamos pensar um modelo que não seja predatório, que não produza tragédias como de Mariana e Brumadinho, que não envenene comida, que não mate índio... A esquerda tem a responsabilidade de pensar", disse.

Guilherme Boulos ainda fez críticas ao ministro da Educação Abraham Weintraub, que recentemente não reconheceu importância no Método Paulo Freire de alfabetização no ensino público do país.

"Vamos falar o português claro Weintraub: mentiu descaradamente, é um mentiroso. Ele desinformou porque disse que em nenhum país do mundo se adota o Método Paulo Freire. posso citar vários, mas vou citar de um só, que é o que ele mais admira: Estados Unidos. A escola de ensino médio público melhor avaliada, ganhou premiação em 2014, usa o Método Paulo Freire no Massachusetts. Na Alemanha o método está sendo usado para refugiados", afirmou Boulos.