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Gilmar Mendes: Lava Jato criou "Estado paralelo" com "projeto de poder"

11.mai.2019 - O ministro Gilmar Mendes, da 2ª Turma do STF, durante o julgamento de habeas corpus coletivo que pede a soltura réus em 2ª instância, além do pedido de habeas corpus da defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
11.mai.2019 - O ministro Gilmar Mendes, da 2ª Turma do STF, durante o julgamento de habeas corpus coletivo que pede a soltura réus em 2ª instância, além do pedido de habeas corpus da defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva Imagem: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

Rodolfo Vicentini

Do UOL, em São Paulo

02/09/2019 18h05

O Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, declarou em entrevista hoje para a rádio CBN que a força-tarefa da Lava Jato criou um "Estado paralelo que integrava um projeto de poder".

"Há uma frase que diz que o trapezista morre quando pensa que voa", disse o ministro. "E acho que os trapezistas aqui pensaram que voavam".

Gilmar Mendes apoia as investigações realizadas pelo The Intercept Brasil e criticou a conduta de membros da Lava Jato e do ministro Sergio Moro, antigo juiz responsável pelos processos da operação em Curitiba.

Para ele, "o combate ao crime não pode ser feito cometendo outro crime" e que "precisamos ter muito cuidado com justiçamentos e justiceiros".

"É preciso separar o que é 'hackeamento', crime que pede punição, do conteúdo das mensagens [vazadas]", afirmou. "E eu acho que isto é um juízo comum, que os órgãos de controle falharam. Isso tem que ser analisado, até para um aprendizado futuro."

Problemas pessoas de Lula

O ministro ainda falou sobre a reportagem divulgada semana passada pelo UOL em parceria com o The Intercept Brasil de que procuradores da Lava Jato ironizaram o luto do ex-presidente Lula.

"É interessante que alguém observava que a população se sensibilizou muito que os procuradores tiveram em torno dos enterros dos familiares de Lula, e da falta de sensibilidade moral", analisou.

"Porque a população entende isto. Talvez não entenda o debate jurídico, que está por trás de todas essas coisas, mas aquilo que ela entende, ela repudia. Ela sabe o que é enterrar um parente, enterrar um neto. E fazer a brincadeira sobre isso mostra uma falta de sensibilidade moral muito grave".

Os diálogos vazados mostram que procuradores divergiram sobre o pedido de Lula para ir ao enterro do irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá, em janeiro passado —quando o ex-presidente já se encontrava preso— e que temiam manifestações políticas em favor de Lula. Na ocasião, alguns membros da Lava Jato disseram acreditar que a militância simpatizante de Lula pudesse impedir a volta dele à superintendência da PF (Polícia Federal), em Curitiba.