Lula chama Bolsonaro de "governo de destruição" a jornal francês
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu sua primeira entrevista exclusiva a um jornal estrangeiro que foi publicada hoje no francês "Le Monde". Ele comentou sobre os episódios recentes envolvendo o presidente Jair Bolsonaro e o francês Emmanuel Macron, e chamou o governo brasileiro de "destruição".
"É um governo de destruição, sem nenhuma visão de futuro, sem programa, que não é qualificado para o poder. É por isso que Bolsonaro diz tantas besteiras, que ele insultou a esposa de Macron e Michelle Bachelet, que ele briga com Maduro. É a loucura total. E, ainda por cima, se submete totalmente a Trump. Nunca vi disso!", disse ao correspondente Bruno Meyerfeld.
Segundo ele, a vitória de Bolsonaro é resultado de uma rejeição política e que discursos reacionários sempre atraíram eleitores. "Bolsonaro é, antes de tudo, o resultado de uma rejeição da política. Nesses momentos da história, nos quais a política é tão odiada, as pessoas se apegam ao primeiro monstro que encontram. É lamentável, mas aconteceu".
Sobre o episódio recente de atrito envolvendo Bolsonaro e Macron, Lula rechaçou a atitude do brasileiro em insultar a aparência da primeira-dama francesa, Brigitte Macron. "Sempre tive excelentes relações com todos os presidentes franceses, de esquerda como de direita, com Chirac, Sarkozy e Hollande. Sou solidário a Emmanuel Macron, depois dos insultos contra sua esposa. Foi uma grosseria injustificável, e isso não tem nada a ver com o povo brasileiro".
No entanto, ele é contra a ideia de Macron de internacionalizar a Amazônia. "A Amazônia é propriedade do Brasil. Ela faz parte do patrimônio brasileiro. É o Brasil quem tem que cuidar dela. Isso não quer dizer que é preciso ser ignorante, que a ajuda internacional não é importante. Mas a Amazônia não pode ser um santuário da humanidade. Lembro que 20 milhões de pessoas vivem lá, precisam comer e trabalhar. Devemos também cuidar deles, levando em consideração a preservação do meio ambiente", diz.
Para Lula, é preciso que os brasileiros reajam e se mobilizem pela defesa da natureza. O líder petista lembra ao "Le Monde" que durante seu governo foram criados fundos, financiados pela Alemanha e a Noruega, para proteger a floresta, além de 144 zonas naturais protegidas, permitindo diminuir o desmatamento ilegal. "Não podemos esperar nada de Bolsonaro e seus ministros sobre essa questão", avalia.
O ex-presidente avaliou com positividade o desempenho eleitoral do PT e não acredita que o partido deva fazer uma autocrítica. "Fernando Haddad obteve 47 milhões de votos. É muito! Sim, perdemos uma eleição, é verdade. Mas perder é normal na democracia. Não podemos ganhar sempre. No Brasil, há muitos antipetistas, mas também muita gente que acredita no partido, e outros ainda que precisam ser convencidos".
Ele voltou a afirmar sua inocência e se diz otimista com o futuro. "Eu me sinto bem, moral e fisicamente. Eu tenho paz de espírito porque sei porquê estou aqui. Eu sei que sou inocente e que aqueles que me colocam na prisão são mentirosos. Eu sou otimista. Minha mãe me disse isso. Então, sim, a prisão é um teste. Mas tenho muita energia, sou muito sereno. Tenho certeza que vou ganhar".
Ao comentar sua esperança de sair da prisão, Lula não poupa críticas a Sérgio Moro, quem acusa de se articular com procuradores e mentir à Suprema Corte. Mas o ex-presidente está convicto de que um dia deixará o cárcere e "que um dia as pessoas serão responsabilizadas sobre o que aconteceu neste país".
Lula também afirma ao "Le Monde" não temer por sua vida, caso seja libertado. "O Brasil é um país de paz, com um povo que ama a vida. (?) Quero sair da prisão e falar com o povo. Sou um homem sem espírito de vingança, sem ódio. O ódio queima o estômago, dá dor de cabeça, dores nos pés! E eu estou bem, justamente, porque estou do lado da verdade. E, no final, é sempre ela que ganha", conclui.
*Com RFI
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