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PSL rompeu com Witzel por 2022 e manda quem não concordar se desfiliar

Flávio Bolsonaro (PSL) e Wilson Witzel (PSC) em evento de campanha eleitoral em 2018 - Reprodução
Flávio Bolsonaro (PSL) e Wilson Witzel (PSC) em evento de campanha eleitoral em 2018 Imagem: Reprodução

Pauline Almeida

Colaboração para o UOL, no Rio

18/09/2019 12h06

O líder da bancada do PSL na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), Dr. Serginho, confirmou que um dos motivos da ruptura do partido com o governador Wilson Witzel (PSC) foi a possível rivalidade com Jair Bolsonaro (PSL) nas eleições presidenciais de 2022. "Existem motivações políticas para isso [rompimento], obviamente que também passa pelo processo eleitoral de 2022, que o governador se coloca como candidato a presidente, mas não só isso", admite.

O partido enquadrou suas bancadas fluminenses em nível estadual (12) e federal (12): em nota assinada pelo senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) na manhã de hoje, recomendou aos parlamentares que quiserem permanecer com cargos no governo Witzel que peçam desfiliação, o que acarretaria a perda de seus mandatos.

"A direção da executiva estadual do PSL-RJ, representada pelo seu presidente Flávio Bolsonaro, comunica que filiados ao partido não devem exercer cargos no governo Wilson Witzel. Aqueles que quiserem permanecer devem pedir desfiliação partidária. Nossa oposição não será ao Estado do Rio, mas ao projeto político escolhido pelo governador Wilson Witzel", diz o comunicado.

Com saída do PSL, Witzel perde maioria na Alerj

O anúncio da saída do PSL da base de apoio a Witzel se deu na última segunda-feira (16), também por meio de uma nota em que a legenda disse "discordar de posicionamentos políticos do governador".

Com a mudança, o governo perde os 12 votos da maior bancada do Legislativo. Dr. Serginho tentou minimizar o desembarque e diz que não significa uma entrada no bloco de oposição. "O PSL tem compromisso com o estado do Rio de Janeiro e naquilo que for importante para o estado, o PSL vai estar alinhado nessas pautas", declarou.

O líder do governo na Alerj, Márcio Pacheco (PSC), disse ao UOL que vinha contando com mais de 40 dos 70 votos da Casa. Sem a bancada do PSL, perde a maioria, mas prefere não prever neste momento os efeitos políticos. "É muito prematuro, precisamos avaliar quando tiverem votações mais emblemáticas", apontou.

Dois projetos polêmicos são aguardados para o segundo semestre: a renovação do regime de recuperação fiscal e ainda uma proposta para desvincular fundos e dar mais agilidade ao orçamento.

PSL ainda não entregou cargos

Apesar do anúncio do desembarque do PSL do governo Witzel, apenas o deputado estadual Alexandre Knoploch confirmou a entrega de seu cargo de vice-líder do governo na Alerj. Procurado pela reportagem, ele não quis se manifestar.

Até ontem, o governo não havia recebido qualquer carta de exoneração, mas a major Fabiana Silva de Souza, que deixou a Câmara dos Deputados há pouco mais de um mês para assumir a Secretaria Estadual de Vitimização e Amparo à Pessoa com Deficiência, deve retomar o mandato como deputada federal.

Já o secretário estadual de Ciência e Tecnologia, Leonardo Rodrigues (PSL), que inclusive é 2º suplente do senador Flávio, decidiu permanecer.

O deputado estadual Dr. Serginho disse que, no caso de Leonardo, trata-se de uma decisão pessoal porque ele havia recebido um convite direto de Witzel, sem passar pela bancada.

Outra incógnita é a entrega das dezenas de cargos nos demais escalões. O líder da bancada na Alerj argumenta que o PSL nunca vinculou nomeações para estar na base, mas orientou que qualquer indicado de políticos da legenda entregue o cargo.

O vice-governador do Rio, Cláudio Castro (PSC), confirmou que existem indicações do PSL entre comissionados e negou um "toma lá da cá". "A gente nunca fez troca de cargos por nada. A gente estava em montagem de governo, apareciam pessoas qualificadas e a gente colocava, não tem porque tirar", declarou ao UOL.

Atritos começaram no 1º mês de governo

A primeira polêmica entre Witzel e o PSL surgiu já no primeiro mês de mandato, com a aproximação entre o governador e o presidente da Alerj, André Ceciliano (PT), o que rendeu uma "indireta" da deputada estadual Alana Passos, uma das mais próximas a Carlos e Jair Bolsonaro.

"O isentão venceu as eleições com discurso de direita e com ideologia. Após a vitória senta com a esquerda e diz que seu estado não tem partido", publicou à época.

Apesar de ter sido um dos principais trunfos de Witzel na eleição, o PSL ganhou apenas uma das secretarias, a de Ciência e Tecnologia, não expressiva para articulação política, mas importante para as lutas ideológicas do PSL, por controlar as universidades.

O ex-juiz federal se elegeu na "onda Bolsonaro", posicionando-se dentro do mesmo espectro ideológico conservador. Apesar de nunca ter recebido o apoio oficial de Jair, teve a campanha movimentada pelos demais candidatos da legenda e até uma fala de apoio de Flávio, a quem agradeceu nominalmente após a vitória.

Um dos principais entusiastas foi o deputado estadual Rodrigo Amorim, eleito como o substituto de Flávio na Alerj e pré-candidato à Prefeitura do Rio pelo PSL. Se as eleições presidenciais de 2022 foram a gota d'água, o pleito municipal do ano que vem também contribuiu.

Witzel chegou a ser cobrado pelo deputado Alexandre Knoploch para apoiar Rodrigo Amorim. Ao lado do secretário Leonardo Rodrigues, Amorim e Alexandre Knoploch são alguns dos nomes mais próximos ao governo, frequentemente vistos ao lado do Witzel em eventos.

Procurado ontem pela reportagem, Rodrigo Amorim disse ter relação de amizade com o governador e negou que vá passar a uma oposição dura. "O meu líder do partido disse que saiu da base, não usou a palavra oposição", justificou. A nota emitida hoje, no entanto, deixa claro que a oposição do PSL será ao "projeto político escolhido pelo governador Wilson Witzel".

Questionado sobre como vai ser a relação do partido com o governo, Amorim afirmou que ainda espera orientações mais claras de Flávio, que está na China. Mas o deputado adiantou que vai continuar votando com o governo as pautas de segurança pública e austeridade.

Vice-governador tenta conter mal-estar

Ao UOL, o vice-governador Cláudio Castro disse que Witzel é mal compreendido. "Talvez esteja sendo deturpado o que o governador tem falado. Eu sempre leio o governador falando que ele está se preparando para uma hora ser [presidente]. Mas é da base do governo [federal], faz parte dos governadores alinhados, fez reunião aqui pedindo voto para a reforma da previdência", argumentou.

Porém, a ambição de Witzel pela Presidência da República vem aliada a ácidas críticas ao presidente, em uma tentativa de se descolar do PSL e mostrar autonomia.

Em agosto, à revista Época, ele disse que o presidente "anima as redes, e o Brasil não sai do lugar". Já neste mês, em viagem a São Paulo, questionou a relação de Bolsonaro com o Congresso e levantou a necessidade de uma melhor articulação. Além disso, passou a confirmar sua vontade de concorrer à presidência, o que o colocaria em atrito direto com Bolsonaro em 2022.

Sobre as críticas, Castro brincou que Witzel não poupa sequer seus secretários e amigos, por isso, não as vê como uma tentativa de se afastar de Jair Bolsonaro. E tentando conter o atrito, disse ainda ver o PSL como um aliado.

"A política de segurança que o PSL defende nós temos muitas convergências de opinião. Fica muito difícil fazerem uma oposição daquelas que vão votar contra tudo. Eu não consigo enxergar o PSL como nossa oposição", afirmou.