Ministro de Educação é acusado de racismo por usar termo "tigrada"; entenda
O Ministro da Educação do governo Bolsonaro, Abraham Weintraub, foi acusado de racismo após se referir ao grupo de assessores do PT que ganhou a Mega-Sena por "tigrada". O termo foi criticado no Twitter porque, de acordo com o professor de história da Universidade Federal Fluminense Rodrigo Elias, "é racista e escravocrata".
"'Tigrada' é um termo racista e escravocrata. Remonta aos escravos que eram obrigados a carregar tonéis com fezes e urina dos senhores para despejar nas valas. O líquido, cheio de ácido e amônia, escorria em suas costas, que o sol encarregava de manchar. [Por isso] eram chamados de "tigres", explicou Elias, na rede social.
Ontem, Weintraub publicou uma crítica aos grupo ligado ao Partido dos Trabalhadores, escrevendo: "Grupo do PT fica milionário sem roubar. Parabéns à tigrada. Agora já podem parar de defender o Lula".
"Nocivo e problemático"
A militante negra e escritora Stephanie Ribeiro vê como nociva e problemática a fala do ministro da Educação.
Em entrevista ao UOL, ela acredita que houve sim uma intenção negativa e violenta na escolha da palavra — o que diz não ser um episódio isolado no governo Bolsonaro.
"Nas minhas pesquisas, o termo ["tigrada"] aparece não só como uma associação escravocrata, mas também ligado a pessoas de baixa renda, que não são parte da elite", conta.
"Há um viés de raça e classe, que tem sido muito utilizado por pessoas ligadas a este governo. Eles acham que estão combatendo o que chamam de 'censura' do politicamente correto ofendendo, oprimindo e reforçando palavras racista, sexista e elitista sempre que podem".
De fato, essa não foi a primeira vez que Weintraub usou a palavra "tigrada" para se referir a adversários políticos do espectro da esquerda. Em agosto, também no Twitter, ele chamou da mesma forma o ex-candidato à presidência pelo PSOL Guilherme Boulos.
Stephanie Ribeiro cita, como exemplo de falas que reforçam o racismo, uma publicação feita hoje pelo General Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional. No Twitter, ele que disse que a ex-presidente Dilma Roussef iria denegrir a imagem do Brasil fora do país — outro termo que vem sendo criticado por ativistas do movimento negro e está caindo em desuso.
"Para muita gente pode ser só um termo, mas se pararmos para pensar porque esse termo existe, como ele nasce e qual é o histórico do nosso país, percebemos que não são termos banais", explica.
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