Racha no PSL e desfecho da Previdência dão fôlego a líder do governo
Resumo da notícia
- Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), ex-ministro de Dilma, está reforçado como líder do governo Bolsonaro no Senado
- Ele é tido como um dos articuladores para que a reforma da Previdência tenha saído
- O Planalto chegou a cogitar afastá-lo da função após operação da PF
- Mas se mantém, já que o partido do presidente, PSL, também está fragilizado
O líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), recuperou a confiança do Planalto para continuar na função, segundo parlamentares que atuaram na construção do acordo que selou a aprovação da reforma da Previdência esta semana.
O congressista chegou a colocar o cargo à disposição, em setembro, depois de ter sido alvo de mandados de busca e apreensão da Polícia Federal na Operação Desintegração. Ele foi ministro da integração do governo Dilma (PT) e líder de Temer (MDB) no Senado ano passado.
Desde então, seu nome passou a ser visto com insegurança. O presidente Jair Bolsonaro (PSL) cogitou afastá-lo tão logo fosse confirmada a indicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para embaixador do Brasil em Washington. A informação foi revelada pelo blogueiro do UOL Tales Faria.
Bezerra era visto até o mês passado como peça fundamental na construção da candidatura de Eduardo. Em função disso, logo após a ação da PF, o emedebista foi mantido como líder do governo, mesmo com Bolsonaro dizendo a aliados que se sentia "desconfortável".
Passado um mês da Operação Desintegração, nem uma coisa, nem outra. Devido aos ecos do racha no PSL, o filho do presidente conhecido como "03" desistiu da ideia de pleitear a embaixada. A crise no partido, por outro lado, ajudou a fortalecer Bezerra.
Em meio ao turbilhão provocado pela disputa interna entre os leais a Bolsonaro e a ala "bivarista", ligada ao comandante da sigla, o deputado federal Luciano Bivar (PSL-PE), a então líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), foi destituída. Na Câmara, Eduardo se mobilizou para derrubar Delegado Waldir (GO) da liderança do partido e assumir o posto.
Por esse motivo, não seria conveniente para o governo realizar uma nova troca de liderança, sobretudo no Senado, onde projetos importantes como a reforma da Previdência e o da partilha dos recursos do megaleilão do pré-sal foram aprovados com facilidade. Em ambos, Bezerra atuou de forma significativa na construção de acordos, segundo parlamentares ouvidos pela reportagem.
No caso da Previdência, o governo conseguiu 11 votos além do necessário, em segundo turno, para garantir a reforma que, mesmo com as mudanças ocorridas no texto durante a tramitação no Parlamento, vai gerar economia de R$ 800 bilhões em dez anos, segundo cálculos do governo. Na última terça, o placar no plenário do Senado foi de 60 votos favoráveis e 19 contrários no aval ao texto-base da proposta.
Bezerra também foi decisivo na mediação do acordo da cessão onerosa, projeto que define a distribuição dos lucros do megaleilão do pré-sal, previsto para 6 de novembro. O rateio será feito da seguinte forma: União (67%), estados (15%) e municípios (15%). O Rio de Janeiro, onde estão as jazidas de petróleo, tem uma parcela especial (3%).
O projeto foi aprovado por unanimidade no Senado em 15 de outubro, dando fim a uma novela que se arrastava desde o primeiro semestre. Deputados atuavam em favor de municípios, e senadores brigavam por interesses dos estados. O motivo da queda de braço era garantir a maior fatia do bolo.
Segundo estimativa do governo, o potencial de arrecadação é de R$ 106,5 bilhões. Desse montante, será descontado o valor devido à Petrobras (R$ 33,6 bilhões). Os R$ 73 bilhões restantes serão partilhados entre União (R$ 48,9 bilhões), estados e Distrito Federal (R$ 10,95 bilhões) e municípios (R$ 10,95 bilhões). O RJ, na condição de produtor, ficará com um extra de R$ 2,19 bilhões.
Mudança de imagem
Após a operação da PF, que realizou buscas no gabinete de Bezerra no Senado, o congressista chegou a ser visto como um "estorvo para os planos eleitorais do bolsonarismo", segundo informou o blogueiro do UOL Tales Faria, em setembro.
Isso aconteceria especialmente em 2020, quando as eleições municipais devem antecipar a campanha presidencial de 2022.
À época, a avaliação dos interlocutores do governo era que a situação de Bezerra seria difícil de explicar durante a campanha, pois o parlamentar seria tido como representante típico da "velha política" e, para piorar, sob a mira da Operação Lava Jato.
A polícia realizou buscas em endereços ligados a Bezerra e ao filho, o deputado federal Fernando Coelho Filho (DEM-PE). A Operação Desintegração foi um desdobramento da Operação Turbulência, e os mandados autorizados pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luis Roberto Barroso.
A PF apura suposto esquema de propinas pagas por empreiteiras que executaram obras custeadas com recursos públicos e que, supostamente, beneficiaram os parlamentares.
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