Chanceler cita "linha de comando" entre Bolsonaro e invasores de embaixada
Resumo da notícia
- Embaixada da Venezuela no DF foi invadida por apoiadores de Guaidó
- Apesar de Maduro governar o país, Brasil reconhece Guaidó como interino
- Representantes do governo paralelo circulam pelo governo federal em reuniões
- Chanceler venezuelano acusa Bolsonaro de apoiar invasão à representação no Brasil
Houve uma "linha de comando" entre o presidente Jair Bolsonaro e os líderes da invasão da embaixada da Venezuela, em Brasília, na semana passada. A declaração é do chanceler da Venezuela, Jorge Arreaza. Um dos principais homens do governo de Nicolas Maduro e ex-vice-presidente da Venezuela, o chefe da diplomacia de Caracas falou com exclusividade ao UOL sobre os incidentes.
"Entendo que houve uma instrução direta do presidente do Brasil", disse o chanceler, apontando como tal contato teria levado a crise a uma "solução".
Ou seja, há uma linha de comando entre o presidente do Brasil e as pessoas que estavam nessa embaixada.
Jorge Arreaza, chanceler da Venezuela
Ele ainda lembrou que, depois de emitir um comunicado nas redes sociais condenando a invasão, Bolsonaro e seu gabinete de segurança publicaram uma nova mensagem, modificando a anterior. "Retificaram, suavizaram e condenaram os elementos estranhos", disse.
O primeiro texto do presidente citava Juan Guaidó, aliado de Brasília. Mas o nome do opositor de Maduro foi retirado no segundo comunicado.
"Tudo isso é muito grave. Felizmente se solucionou por vias pacíficas. Mas é muito grave e deveria abrir uma investigação não apenas sobre as pessoas, mas sobre os contatos e sobre as relações que essas pessoas tem com o governo do Brasil, especificamente no Itamaraty", declarou Arreaza.
"O país receptor, no caso o Brasil, tem a obrigação de proteger, o que foi a primeira coisa que não ocorreu. As pessoas entraram, apesar da segurança da polícia brasileira no entorno da embaixada", alertou.
Procurado, o Itamaraty não deu respostas ao ser questionado sobre a alegação do ministro venezuelano sobre a existência de uma instrução de Bolsonaro aos invasores.
Visitas ao Planalto e ao Itamaraty
De acordo com apurações realizadas pela reportagem, o vínculo do governo brasileiro com o líder da invasão da embaixada da Venezuela, Tomás Silva, é estreito. Além dos dois encontros realizados com o vice-presidente Hamilton Mourão, no Palácio do Planalto, relevados pelo UOL, o autoproclamado ministro-conselheiro esteve por 16 vezes nas dependências do Ministério das Relações Exteriores, neste ano.
As informações constam em Requerimento de Informação solicitado à pasta pelo deputado Ivan Valente (PSOL-SP) e obtido pelo UOL. Os encontros foram realizados para tratar de assuntos relacionados à cooperação entre os dois países, em agendas oficiais. Muitos deles foram acompanhados por Maria Teresa Belandria Exposito, reconhecida pelo governo brasileiro como embaixadora de Guaidó no Brasil.
No início de abril, por exemplo, Silva esteve com o secretário de Política Externa Comercial e Econômica, Norberto Moretti, para uma "visita de cortesia".
No dia 21 de agosto, o encontro foi repetido, desta vez, para apresentar o "Plano País", formulado por Juan Guaidó.
Neste texto, há medidas que seriam financiadas pela "assistência em massa de organismos internacionais financeiros multilaterais e países interessados na restauração da democracia".
Silva também teve encontros com o chefe da Divisão Controle Imigratório, Erwin Baptista Bicalho Epiphanio, para tratar da emissão de visto oficial, e com o assessor da Secretaria de Assuntos de Soberania Nacional e Cidadania, Francisco Jeremias Martins Neto, para discutir a extensão da validade de passaportes venezuelanos.
Com a chefe da Divisão de Cooperação Jurídica Internacional, Fabiana Arazini Garcia Kanadoglu, Silva discutiu temas relacionados à cooperação jurídica internacional. Já a pauta com o segundo-secretário da Carreira de Diplomata Marcelo Adrião Borges foram "atualizações sobre temas de política interna da Venezuela".
Itamaraty cita "representantes de Guaidó"
Na resposta enviada ao deputado Ivan Valente, o ministro Ernesto Araújo disse que Silva e Maria encontram-se credenciados junto ao governo brasileiro como "representantes do governo legítimo do presidente Juan Guaidó".
Afirmou também que o governo brasileiro não possui informações sobre a origem dos recursos que custeiam a permanência dos representantes venezuelanos.
"Não houve gastos por parte do governo para custear reuniões, deslocamentos ou a permanência de representantes do presidente encarregado da Venezuela, Juan Guaidó", diz o documento.
Já Arreaza deixa claro que, durante a invasão, o diplomata enviado pelo Itamaraty à embaixada "não ajudou nada".
"A chancelaria também enviou um funcionário do Itamaraty, bastante pouco útil. O que ele fazia era defender o fato de que essas pessoas estivessem ali. Porque o governo supostamente não reconhece o governo legítimo da Venezuela", disse.
O ministro de Maduro ainda indicou que, durante a crise, contatos também foram realizados entre militares brasileiros e militares venezuelanos, na busca por soluções.
Persona Non Grata
Arreaza insiste que prefere manter uma relação respeitosa com o governo brasileiro. Mas indicou que está considerando opções legais que poderão ser tomadas diante da invasão contra os autores dos atos.
Ele ainda indica que, se tal gesto voltasse a ocorrer, Caracas teria de tomar medidas.
"Se ocorresse outra vez, evidentemente teríamos de aplicar medidas diplomáticas proporcionais, através da convenção de relações diplomáticas", explicou. "E teríamos que decidir expulsar, declarar persona non grata os diplomatas brasileiros na Venezuela, coisa que não queremos, pois deixaria desprotegidos os brasileiros na Venezuela. E esse não é o espírito da diplomacia ente países vizinhos", disse.
Sobre as visitas de Tomas Silva ao Itamaraty, o governo deu sua versão. "Reuniões entre diplomatas estrangeiros, devidamente acreditados junto ao governo brasileiro (como é o caso do Ministro-Conselheiro da Embaixada da Venezuela mencionado em sua mensagem), e funcionários do Ministério das Relações Exteriores são frequentes e fazem parte da rotina de trabalho de qualquer chancelaria", disse.
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