Pesquisador do WhatsApp bolsonarista relata ameaça e foge do Brasil
Resumo da notícia
- David Nemer diz ter recebido no último sábado email anônimo dizendo que sabiam onde ele estava e recomendando "cuidado"
- Professor afirma que mensagem trouxe em anexo foto dele em parque que havia visitado dias antes
- Estudioso de fake news fez boletim de ocorrência na polícia e diz que decidiu deixar o país no mesmo dia
Um pesquisador brasileiro que vive nos Estados Unidos estudando o uso do aplicativo WhatsApp por grupos políticos afirma que recebeu uma ameaça em São Paulo e que teve que deixar o país às pressas. David Nemer estava na capital paulista na semana passada e aproveitou para ir a um parque da cidade.
Na manhã de sábado passado (14), ele afirma ter recebido um email anônimo (veja abaixo) dizendo que sabiam onde ele estava e recomendando que ele tivesse "cuidado". Em anexo, enviaram uma fotografia do professor no parque que ele havia frequentado dias antes. O UOL obteve a imagem, mas não a divulga para preservar as investigações da polícia. Foi o quarto email com ameaças em quatro meses, segundo o pesquisador.
"Sabemos que voce esta em Sao Paulo- e melhor voce ter cuidado [sic]", afirmou a mensagem enviada às 5h da manhã de sábado por meio de um serviço de envio anônimo de correio eletrônico.
Para Nemer, a principal suspeita é que o autor das ameaças faça parte de grupos bolsonaristas estudados por ele. "Eu venho pesquisando e monitorando a rede de fake news pro-Bolsonaro. Essa rede de fake news é mantida por um grupo chamado de MAV, Movimento Ativista Virtual, ou milícia virtual", afirmou.
O pesquisador registrou, no mesmo sábado, um boletim de ocorrência na Polícia Civil de São Paulo, que não informou se começou a investigação. E, à noite do mesmo dia, tomou um avião para o exterior, antecipando seus planos de viagem e mudando de destino. O professor conversou com o UOL na tarde de segunda-feira (16) de um país que prefere não revelar.
Tive que sair fugido do Brasil"
David Nemer, pesquisador da Universidade da Virgínia
Nemer trabalha como professor do Departamento de Estudos de Mídia da Universidade da Virgínia, nos EUA. De lá, estuda a ação de grupos de WhatsApp de apoio a políticos de esquerda, centro-esquerda, centro, centro-direita e extrema-direita. Eles atuam em favor do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), do PT, do PSOL, de Ciro Gomes (PDT) ou de autoridades como Rodrigo Maia (DEM). Nemer pesquisa o uso de robôs, discursos de ódio e "fake news" na rede.
"Você acha que tá salvo aí nos EUA?", questiona mensagem
Desde agosto, o professor diz ter recebido quatro emails anônimos com ameaças. Em 24 de agosto, uma mensagem questionava se o professor estava "a salvo" fora do Brasil. "Vc acha que ta salvo ai nos EUA.... Eduardo Bolsonaro, o nosso 03, vai ser o nosso embaixador e voce ta fudido [sic]." O texto menciona a frustrada tentativa, em andamento em agosto, de indicação do filho do presidente da República como diplomata brasileiro em Washington.
Agora, a nova mensagem de intimidação trouxe, segundo Nemer, uma fotografia como prova das ameaças. Ou seja, alguém deveria saber que o professor estava em visita a São Paulo, teria conseguido localizá-lo, além de segui-lo até o parque para fazer a foto.
Ex-eleitores recebiam dinheiro para disparar mensagens, diz professor
Apesar de pesquisar grupos políticos de um amplo espectro partidário e ideológico, os principais "achados" dos estudos do professor se relacionam à extrema direita, que apoia Bolsonaro. Foi lá que ele viu distribuição em massa de boatos e chamadas pelo fechamento do Congresso Nacional ou do STF (Supremo Tribunal Federal).
Nemer identificou grupos de neonazistas e de pedofilia. Também reuniu mensagens em que ex-apoiadores admitem que recebiam de R$ 400 a R$ 600 por semana para produzirem informações falsas e distribuírem pelo WhatsApp durantes as eleições, em favor de Bolsonaro.
Na avaliação do professor, alguns estudos dele podem ter irritado os bolsonaristas, como o que mostra a reação de usuários da rede social twitter a uma live do presidente da República. "Muita gente acha que fake news é brincadeira. Mas não é. É milícia mesmo", afirmou.
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