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Witzel pede fim da "intolerância" após novas acusações da família Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro e o governador do RJ, Wilson Witzel - Pedro Ladeira/	Folhapress
O presidente Jair Bolsonaro e o governador do RJ, Wilson Witzel Imagem: Pedro Ladeira/ Folhapress

Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

20/12/2019 13h22Atualizada em 20/12/2019 19h43

Resumo da notícia

  • Após operação do MP-RJ no Caso Queiroz, integrantes do clã Bolsonaro fizeram novos ataques a Witzel
  • O governador pediu hoje em evento "o fim da intolerância", sem citar nominalmente a família Bolsonaro
  • Flávio Bolsonaro acusou ontem Witzel de influenciar em investigações e empregar a filha de um juiz como "funcionária fantasma"
  • Jair Bolsonaro voltou hoje a acusá-lo de empregar a filha do magistrado e influenciar os trabalhos do MP-RJ

Após ter sido acusado por integrantes da família Bolsonaro de influenciar os rumos das investigações do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) que apuram suposta prática de "rachadinha" no gabinete de Flávio Bolsonaro (RJ-sem partido) e de empregar a filha de um juiz do Rio como funcionária fantasma, o governador fluminense, Wilson Witzel (PSC), pediu basta à intolerância, sem citar nominalmente o clã Bolsonaro.

"Vamos unir esse povo, chega de discórdia e intolerância, nós precisamos de fraternidade", disse Witzel ao fim de um discurso em evento na zona norte da capital. O governador fez esta declaração durante evento em que afirmou que pretende reestruturar o programa das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) a partir de 2020.

"Vamos investir em instalações novas. Estive na UPP do Andaraí e fiquei horrorizado com as condições nas quais o policial é obrigado a trabalhar. As UPPs serão reformadas. Todas elas", afirmou Witzel durante o lançamento do programa Segurança Presente para os bairros de Grajaú e Vila Isabel, na zona norte carioca.

Ontem, Flávio divulgou um vídeo nas redes sociais com críticas ao juiz Flávio Itabaiana de Oliveira Nicolau, titular da 27ª Vara Criminal do Rio. O magistrado foi o responsável por autorizar buscas e apreensões e quebras de sigilo bancário, fiscal e de dados telefônicos de uma série de investigados no caso envolvendo o filho do presidente.

Em sua gravação, o senador criticou o vazamento de informações sigilosas à imprensa. No vídeo, Flávio insinua que o próprio magistrado poderia ser um dos responsáveis pela divulgação do conteúdo em questão.

Flávio pediu também atenção ao que classificou como um "pequeno detalhe". Segundo ele, a filha do juiz trabalha no gabinete do governador do Rio, com quem a família Bolsonaro rompeu ao longo de 2019. As alegações tentam ligar as decisões do magistrado a Witzel.

"Sabe onde a filha desse juiz trabalha, a Natália Nicolau? Trabalha com o governador Wilson Witzel. Está lá até hoje. Olha, é uma boquinha que parece ser boa, Ministério Público, vocês podem investigar. Inclusive, eu ouço falar - não sei se é verdade - que ela não aparece muito por lá, não. É bom vocês investigarem se não tem um funcionário fantasma dentro do gabinete do governador, que é filha desse juiz Flávio Itabaiana", insinuou.

Flávio Bolsonaro se defende e critica operação do MP-RJ

UOL Notícias

Em entrevista realizada hoje, Jair Bolsonaro criticou os promotores, o juiz que autorizou a operação desta semana contra Flávio, a imprensa e reclamou que houve vazamento de um processo em segredo de Justiça.

"Olha só, uma pergunta a vocês. O processo é segredo de Justiça ou não é? Respondam? Respondam, porra."

Na entrevista, Bolsonaro também atacou Witzel. "Você já viu o MP do Estado do Rio de Janeiro investigar qualquer pessoa, qualquer corrupção, qualquer deslize, qualquer agente público do Estado? E olha que o Estado mais corrupto do Brasil é o Rio de Janeiro", disse.

"Vocês já perguntaram para o governador Witzel por que a filha do juiz Itabaiana está empregada com ele?", acrescentou.

Sobre as declarações, o UOL procurou a assessoria de imprensa do governo do Rio, que ainda não se manifestou.

O juiz Flávio Itabaiana também foi procurado através do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro), mas ainda não houve resposta.

Associação de Magistrados repudia fala de Flávio

A Amaerj (Associação dos Magistrados do Estado do Rio de Janeiro) publicou na noite de ontem uma nota de repúdio às declarações de Flávio contra o juiz Flávio Itabaiana Nicolau. O texto diz que o ataque ao magistrado é descabido e trata-se de uma tentativa de pressionar o Judiciário.

"O descabido ataque ao magistrado representa uma tentativa, que será vã, de pressão contra o Judiciário. As decisões tomadas pelo doutor Flávio Itabaiana Nicolau são absolutamente coerentes com o modo de atuação da Justiça fluminense, a mais produtiva do país há dez anos consecutivos, com os rumos do inquérito e com as investigações desenvolvidas pelas autoridades competentes", disse a Amaerj em nota.

Leia abaixo a íntegra da nota de repúdio da Amaerj:

"A Associação dos Magistrados do Estado do Rio de Janeiro (AMAERJ) repudia as ofensas dirigidas ao juiz Flávio Itabaiana Nicolau, da 27ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), pelo senador Flávio Bolsonaro.

O descabido ataque ao magistrado representa uma tentativa, que será vã, de pressão contra o Judiciário. As decisões tomadas pelo doutor Flávio Itabaiana Nicolau são absolutamente coerentes com o modo de atuação da Justiça fluminense, a mais produtiva do país há dez anos consecutivos, com os rumos do inquérito e com as investigações desenvolvidas pelas autoridades competentes.

As declarações do senador Flávio Bolsonaro atingem a todos os juízes e desembargadores do Estado do Rio de Janeiro.

O Poder Judiciário é um sólido pilar do Estado Democrático de Direito. A Magistratura brasileira é independente. Qualquer tentativa de intimidação à Justiça e a seus magistrados será firmemente repudiada por esta Associação e seus dirigentes.

A AMAERJ manifesta apoio integral ao magistrado titular da 27ª Vara Criminal, de ações, por todos conhecidas, competente, independente, equilibrada e firme."

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