Ataque de Bolsonaro à imprensa é típico de líderes autoritários, diz Abraji
Resumo da notícia
- Ao comentar uma reportagem do UOL, Bolsonaro disse que os jornalistas são "uma raça em extinção"
- Em nota, a Abraji condenou o discurso de Bolsonaro: "Típico de líderes autoritários"
- Associação ainda afirmou que Bolsonaro deveria deixar de lado "declarações irresponsáveis e retaliações"
A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) condenou hoje os mais recentes ataques do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) à imprensa. Mais cedo, ao comentar uma reportagem do UOL que o denunciava por usar dinheiro público na campanha eleitoral de 2014, Bolsonaro disse que os jornalistas são "uma espécie em extinção".
"Novamente, Jair Bolsonaro usa um discurso típico de líderes autoritários: diante de uma notícia que o desagrada, ataca o mensageiro, sem se preocupar em esclarecer o fato noticiado", escreveu a entidade em nota.
A associação ainda afirmou que o presidente, "como já é habitual", não apresentou contraposições à reportagem e deveria deixar de lado "declarações irresponsáveis e retaliações".
Leia na íntegra a nota da Abraji:
"Em mais uma demonstração de ignorância sobre o papel da imprensa e seu próprio status de presidente da República, Jair Bolsonaro acusou meios de comunicação de publicar desinformação a seu respeito nesta segunda-feira (6.jan.2020). Na entrada do Palácio da Alvorada, declarou, enquanto cumprimentava eleitores: 'Quem não lê jornal não está informado. E quem lê está desinformado. Tem de mudar isso. Vocês são uma espécie em extinção. Eu acho que vou botar os jornalistas do Brasil vinculados ao Ibama.'
O presidente comentava uma reportagem do UOL, segundo a qual ele usou recursos públicos em sua campanha a deputado federal em 2014: 'É de uma imbecilidade. (...) Não sabe nem mentir mais'. Acusou, ainda, a Folha de S. Paulo de 'usar mentiras'. Em nenhum dos casos - como já é habitual - Bolsonaro apresentou fatos para contrapor a reportagem ou demonstrar o uso de mentiras.
Novamente, Jair Bolsonaro usa um discurso típico de líderes autoritários: diante de uma notícia que o desagrada, ataca o mensageiro, sem se preocupar em esclarecer o fato noticiado.
Se quer mesmo preservar o jornalismo e os jornalistas, basta o presidente obedecer a Constituição sob a qual governa e respeitar a liberdade de imprensa, deixando de lado declarações irresponsáveis e retaliações.
Diretoria da Abraji, 6 de janeiro de 2020."
O que disse Bolsonaro
O novo ataque à imprensa aconteceu hoje pela amanhã, na entrada do Palácio da Alvorada, onde Bolsonaro costuma cumprimentar eleitores. O presidente disse que cada vez menos pessoas confiam na mídia e que a leitura de jornais "envenena e desinforma".
"Quem não lê jornal não está informado. E quem lê está desinformado. Tem de mudar isso. Vocês são uma espécie em extinção. Eu acho que vou botar os jornalistas do Brasil vinculados ao Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente]. Vocês são uma raça em extinção", declarou.
A reportagem do UOL à que Bolsonaro fez referência lembra que, apesar de incentivar os eleitores a não votarem em quem utiliza o fundo eleitoral, o então deputado federal usou dinheiro público para a campanha de 2014.
"O UOL falou: Bolsonaro falou para não votar em candidatos que usem o fundão, mas ele usou em 2014. O fundão é de 2017. É de uma imbecilidade. Não vou dizer todo mundo aqui, para não ser processado pela ANJ [Associação Nacional de Jornais] e não sei o quê, mas é de uma imbecilidade.", disse.
Ainda que Bolsonaro afirme que a matéria o acusa de ter utilizado o fundo eleitoral, o texto, na verdade, fala sobre o repasse de verba pública ao PP, partido ao qual ele era filiado.
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