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Presidente da OAB: Alvim ultrapassou o limite ao fazer apologia ao nazismo

Retrato de Felipe Santa Cruz, Presidente da OAB - Fernando Moraes/UOL
Retrato de Felipe Santa Cruz, Presidente da OAB Imagem: Fernando Moraes/UOL

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

17/01/2020 12h42

O presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz, afirmou hoje que o secretário de Cultura do governo Jair Bolsonaro, Roberto Alvim, ultrapassou "todos os limites" ao fazer apologia ao nazismo.

Ontem, Alvim divulgou um prêmio usando trechos de um discurso de Joseph Goebbles, o ministro de Propaganda nazista e braço direito de Adolf Hitler. O secretário foi exonerado do cargo pela manhã.

Para Santa Cruz, a demissão de Alvim era condição para que o governo não se enquadrasse "internacionalmente como inimigo da democracia e da civilização".

O secretário Alvim ultrapassou todos os limites ao optar pela clara e aberta apologia ideológica do regime nazista. Os milhões de cadáveres das vítimas do autoritarismo nos cobram imediata e firme reação
Felipe Santa Cruz, presidente da OAB

Para o presidente da OAB, o discurso de Alvim parece nova provocação do governo. "Setores do governo testam há meses os limites democráticos. Para nossa perplexidade, flertam com as ditaduras de hoje e do passado."

A diretoria do Conselho Federal da entidade também divulgou nota de "total repúdio e indignação com a fala do secretário da Cultura".

"A fala (...) evoca referências claras a uma pessoa que promoveu o genocídio, a divisão racial e tantos outros crimes", diz.

Santa Cruz X Bolsonaro

Santa Cruz já se envolveu em polêmicas com o governo no ano passado, quando foi provocado pelo próprio Bolsonaro, que em julho usou o assassinato do pai de Santa Cruz —Fernando Santa Cruz— durante a ditadura militar, para criticar a OAB.

"Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, eu conto. Ele não vai querer ouvir a verdade. Eu conto para ele", disse o presidente.

Ainda no ano passado, Santa Cruz afirmou que "há em Bolsonaro um ditador enrustido".

Compare as frases

O diretor teatral Roberto Alvim encontra-se com o presidente Jair Bolsonaro - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Roberto Alvim com o presidente Jair Bolsonaro
Imagem: Reprodução/Facebook
No vídeo de divulgação do Prêmio Nacional das Artes, publicado pela Secretaria Especial da Cultura nas redes sociais na noite de ontem, Alvim diz que a premiação vem para reconhecer que a arte brasileira da próxima década, que será "heroica, nacional e imperativa".

"A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada", afirmou Alvim no vídeo.

"A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada", disse o ministro de cultura e comunicação de Hitler em um pronunciamento para diretores de teatro, segundo o livro "Goebbels: a Biography", de Peter Longerich.