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Perguntado sobre encontro com Onyx, Bolsonaro se esquiva e encerra coletiva

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

31/01/2020 17h44Atualizada em 31/01/2020 19h46

Esvaziado dentro do governo, o ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil) esteve hoje em reunião com Jair Bolsonaro (sem partido), no Palácio da Alvorada, e deixou o local sem saber se continua ou não à frente da pasta. Na versão do presidente da República, o encontro serviu para tratar apenas dos casos suspeitos de coronavírus no país.

"Isso [possível saída] não é assunto. Não foi tratado aqui", disse o mandatário após a reunião, que contou ainda com os ministros Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Fernando Azevedo (Defesa), Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Luiz Henrique Mandetta (Saúde).

Ao ser questionado sobre o futuro de Onyx, Bolsonaro se irritou: "Estava aqui agora pouco [no Palácio da Alvorada]. Já que deturpou a conversa, acabou a entrevista."

Na manhã de hoje, ao retornar a Brasília das férias nos Estados Unidos, o ministro declarou à imprensa que sua permanência no cargo está nas mãos de Bolsonaro, a quem chamou de "meu líder". "Claro que toda decisão dentro do governo é liderada por ele. Aliás, o meu trabalho junto com todos os ministros é preparar todas as matérias e levar a ele, e ele tem a última palavra sempre."

"Quem define é o presidente Bolsonaro. Ele é o meu líder, eu lutei muito para que ele estivesse onde ele está", completou.

O presidente espera ouvir do ministro esclarecimentos sobre a viagem em voo da FAB (Força Aérea Brasileira) de seu principal assessor, Vicente Santini.

Santini foi destituído do cargo em público por Bolsonaro na terça-feira (28), recontratado pela Casa Civil no dia seguinte e, 12 horas depois, demitido de novo por Bolsonaro. O episódio instalou uma nova crise no governo e colocou Onyx na berlinda.

Na moita

Onyx chegou à residência presidencial em um carro sem a placa da Casa Civil, como é de praxe, e ao lado de militares da Marinha e da Aeronáutica. Após a reunião, ele também evitou aparecer ao lado de Bolsonaro em entrevista à imprensa, concedida na portaria do Palácio da Alvorada.

Apesar das negativas de Onyx, o clima é de desgaste entre chefe e subordinado. Bolsonaro ficou irritado com a situação envolvendo o ex-secretário executivo da pasta, considerado o "02" do ministério. Na esteira da demissão de Santini, o ministro também acabou perdendo o controle do PPI (Programa de Parcerias e Investimentos), transferido para o guarda-chuva do Ministério da Economia.

O episódio se somou a frituras que ocorreram no ano passado, como a decisão de retirar a articulação política da Casa Civil e transferir essa atribuição à Secretaria de Governo.

Esvaziado e praticamente sem função no governo, Onyx antecipou o retorno das férias por conta da crise —ele voltaria ao trabalho na próxima segunda-feira (3 de fevereiro), mas deu expediente hoje no Planalto.

Há sinais claros, segundo interlocutores do governo, que o gaúcho está perto de perder o cargo. Aliados tentam nesse momento encontrar uma saída honrosa para o chefe da Casa Civil, que está ombreado com Bolsonaro desde a campanha eleitoral de 2018. O presidente teria com ele uma dívida de gratidão.

Sem o PPI, caberá a Onyx apenas a função de "coordenar" ministérios. Na prática, trata-se de uma competência burocrática e sem relevância estratégica.

Lealdade

O presidente afirmou que todos os ministros do governo chegaram aos respectivos cargos por indicação própria e que devem "lealdade" à Presidência. Tocou no assunto ao falar sobre a necessidade de os ministros estarem disponíveis a qualquer momento para tratar de assuntos importantes ao país, como as suspeitas de coronavírus.

"O nosso ministério conversa entre si, todos os ministros foram indicados por mim, devem lealdade ao presidente, que deve lealdade ao seu povo", afirmou.

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