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Pezão recebeu propina desde o primeiro momento do meu governo, diz Cabral

29.nov.2018 - Governador Luiz Fernando Pezão (MDB) deixa sede da Policia Federal no centro do Rio de Janeiro - Adriano Ishibashi/Framephoto/Estadão Conteúdo
29.nov.2018 - Governador Luiz Fernando Pezão (MDB) deixa sede da Policia Federal no centro do Rio de Janeiro Imagem: Adriano Ishibashi/Framephoto/Estadão Conteúdo

Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio de Janeiro

03/02/2020 15h38

O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (MDB) afirmou hoje que o seu sucessor no cargo, Luiz Fernando Pezão (MDB), participou do esquema de arrecadação de propina liderado por ele, através da Secretaria Estadual de Obras, "desde o primeiro momento do meu governo".

Em depoimento ao juiz federal Marcelo Bretas —responsável pelas ações em primeira instância da Lava Jato no Rio— nesta tarde, Cabral explicou o funcionamento de uma espécie de "escritório da propina" montado nos primeiros dias do seu mandato, em 2007.

"Pezão participou da estruturação de benefícios indevidos desde o primeiro instante do nosso governo. Desde a campanha eleitoral que me elegeu governador pela primeira vez, e durante os oito anos em que fui governador. Ele vinha da gestão Rosinha Garotinho, era auxiliar do Garotinho na Secretaria de Governo, havia sido prefeito da cidade de Piraí, no sul fluminense e o chamei para ser meu vice", detalhou.

"Assim que vencemos a eleição, o nomeei secretário de Obras e, desde o primeiro momento, tocamos os investimentos em infraestrutura. Ali, estabelecemos a propina da Secretaria de Obras: dos 5% que seriam cobrados, 3% viriam para o meu núcleo, 1 % núcleo do Pezão [Secretaria de Obras] e 1% para membros do TCE [Tribunal de Contas do Estado], que trabalharia para a aprovação das licitações. O piso era esse", completou.

De acordo com Cabral, além do percentual de 1% sobre as obras estaduais que Pezão recebia e distribuía para a sua estrutura, também era paga uma espécie de "mensalidade" por parte de empreiteiros. O ex-governador afirmou que quem coordenava esses pagamentos era Hudson Braga, que viria a ocupar a Secretaria de Obras, posteriormente.

"Hudson, Carlos Miranda e Luiz Carlos Bezerra faziam esses repasses R$ 150 mil por mês. Foi o Pezão quem estabeleceu a nomenclatura "taxa oxigênio" para a propina que circulava na Secretaria. Eventualmente, ele ainda recebia pagamentos extras que variavam, uma espécie de bônus", disse.

Segundo o ex-governador, o esquema era atrativo para os donos da empresa, já que o percentual cobrado era inferior ao praticado nos governos anteriores. Nos mandatos de Rosinha e Anthony Garotinho, seriam cobrados até 30% sobre os valores arrecadados com obras.

O depoimento de Cabral foi dado no âmbito da Operação Boca de Lobo —um desdobramento fluminense da Lava Jato. Pezão foi preso por este desmembramento da Lava Jato em novembro de 2018, apontado como líder de um esquema de recebimento de propina herdado de Cabral.

A Sexta Turma do STJ (Superior Tribunal de Justiça) determinou a revogação da prisão preventiva de Pezão em 10 de dezembro. Ele responde em liberdade, com uso de tornozeleira eletrônica, a processo por corrupção, lavagem de dinheiro, participação em organização criminosa e fraudes em licitações.

O UOL tenta contato com as defesas de Pezão, Anthony e Rosinha Garotinho, Hudson Braga, Carlos Miranda e Luiz Carlos Bezerra. Deflagrada em 29 de novembro de 2018, a Operação Boca de Lobo teve como principal alvo o ex-governador Pezão.

De acordo com as investigações, ele teria herdado do seu antecessor, Sérgio Cabral, o controle de uma rede de recebimento de propina a partir de fraudes em obras públicas. No total, Pezão teria embolsado mais de R$ 30 milhões no esquema.

Após ser solto no mês passado, o ex-governador está morando na cidade de Piraí, no sul fluminense, onde começou a sua trajetória política.Pezão nega envolvimento em esquema de fraudes em obras públicas e diz não ter recebido propina.