Sem máscara no Planalto, Bolsonaro elogia atos pelo Brasil: 'não tem preço'
Quatro dias após chegar dos Estados Unidos, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), ignorou recomendações do seu próprio governo, que pede isolamento por sete dias após viagem ao exterior e redução dos contatos sociais para desacelerar a propagação do coronavírus, trocou apertos de mão com seguidores, pegou celulares de apoiadores para fazer selfies e elogiou os atos que ocorrem em ao menos 13 capitais do país.
Apesar dos cartazes e dos gritos dos apoiadores contra o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), Bolsonaro afirmou que o povo "não está lutando contra nenhum" presidente dos Três Poderes. "Estão lutando pelo Brasil", afirmou.
Coronavírus no entorno de Bolsonaro
Na última sexta (13), Bolsonaro anunciou que um primeiro exame apontou que ele, ao contrário do secretário de Comunicação com quem viajou aos Estados Unidos, não se infectou com coronavírus. Ao UOL, um dos médicos do presidente, Antônio Luiz Macedo, disse que um segundo exame de Bolsonaro para o coronavírus teve resultado negativo.
Ainda assim, há a expectativa de que Bolsonaro faça outro exame devido ao período de incubação do vírus. Pelo menos seis pessoas da comitiva presidencial aos Estados Unidos estão infectadas.
Contradição
Na última semana, Bolsonaro convocou rede nacional de TV para pedir que os atos fossem adiados. Mas hoje, no Palácio do Planalto, Bolsonaro empurrou uma cerca de proteção para chegar mais perto das pessoas que o chamavam de mito e ofereciam até biscoitos.
Com uma camiseta da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e colete à prova de balas por baixo, Bolsonaro ficou mais de uma hora em contato com os apoiadores.
"Não tem preço o que esse povo aqui está fazendo", resumiu.
Nesse meio período, o Ministério da Saúde publicou nas redes sociais pedido para que pessoas de 60 anos ou mais e doentes crônicos busquem o isolamento para evitar o contágio pelo coronavírus.
Bolsonaro tem 64 anos e teve problemas de saúde recentes, como complicações após facada sofrida em Juiz de Fora em setembro de 2018.
Questionada pelo UOL sobre o passeio de carro pela capital federal, a Presidência disse se tratar de "agenda pessoal". Indagada sobre o fato de o presidente não seguir o protocolo recomendado pelos médicos e pelo próprio Ministério da Saúde, a Presidência ainda não se manifestou.
Objetivo dos atos: apoiar Bolsonaro contra Congresso e STF
As manifestações contam com cartazes contra o Congresso e o STF (Supremo Tribunal Federal). Os participantes dos atos acreditam que os parlamentares e os ministros do Supremo atrapalham o governo Bolsonaro — embora os Três Poderes sejam independentes entre si.
Os atos ganharam força também com a disputa entre Congresso e Bolsonaro por R$ 30 bilhões do Orçamento — parte dos parlamentares quer ter maior poder de decidir como e quando esses valores serão gastos.
Bolsonaro chegou a fazer um acordo para reduzir essa fatia para R$ 15 bilhões, mas passou a usar as redes sociais, e agora os protestos nas ruas, para garantir que toda a verba seja coordenada pelo Executivo.
Ao longo dos apertos de mãos de Bolsonaro com os manifestantes, estes também gritavam "desculpa, presidente, mas eu vim" e "fora, Maia", em referência ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
Presidentes da Câmara, do Senado e do STF em silêncio
Até a última atualização desta reportagem, Rodrigo Maia, o presidente do Congresso e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, ainda não haviam se pronunciado sobre as manifestações deste domingo.
Em Brasília, manifestantes tentaram identificar jornalistas da TV Globo e gritaram que iriam "botá-los para correr". Um carro da Globo chegou a sofrer tentativa de depredação na Esplanada dos Ministérios. Em transmissão ao vivo, Bolsonaro chamou a Folha de S.Paulo de "lixo" por ter relatado que o presidente minimizou o potencial do coronavírus.
Manifestações pelo Brasil e desdém pelo coronavírus
Neste domingo, houve atos em pelo menos 17 estados do Brasil, incluindo 13 capitais.
Faixas, cartazes e discursos feitos durante os atos de hoje pelo país mostraram que muitos manifestantes que foram às ruas ignoraram os riscos do coronavírus e, em alguns casos, minimizaram e até fizeram piada do Covid-19.
No ato na Avenida Paulista, uma das principais vias da cidade de São Paulo, nem todos afirmaram acreditar no potencial fatal do coronavírus.
"Antes de tudo precisamos nos livrar do comuna vírus", avaliou a manifestante Ligia Grande, 64, que compareceu ao protesto na avenida Paulista abraçada na bandeira do Brasil e carregando seu frasco de álcool gel.
Sua irmã Eliana Sposato, 74, e o marido, Paulo Cesar Grande, 65, a acompanhavam. Paulo Cesar afirmou: "esse vírus pode muito bem ser uma ação de guerra da China. Pense a respeito, a guerra para fábricas, para viagens, causa medo, tudo que estamos vendo hoje. Vejo uma ação coordenada pela China comunista para derrubar a economia do planeta".
Em Salvador, pela manhã, o locutor gritou ao público que "quem sobreviveu ao 'Lula vírus', ao 'Dilma vírus', vai sobreviver ao coronavírus".
O ex-governador do Piauí, ex-senador e atual prefeito de Parnaíba, o médico Mão Santa (DEM), participou hoje do ato na cidade que governa. Entretanto, um dia antes ele disse que o coronavírus é "um viruszinho boiola", e que "muito pior é o Congresso."
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