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Bolsonaro e PM-RJ ignoram ministério da Saúde diante de atos da direita

Manifestações pró-Bolsonaro em Brasília - Felipe Pereira/Divulgação
Manifestações pró-Bolsonaro em Brasília Imagem: Felipe Pereira/Divulgação

Luciana Amaral, Pauline Almeida e Carlos Madeiro

Do UOL e com colaboração em SP, RJ, Brasília e Maceió

15/03/2020 12h08

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido), postando vídeos exortando manifestantes, e a Polícia Militar do Rio de Janeiro, ao não coibir os atos em Copacabana, avalizaram as manifestações da direita no país hoje e ignoraram nota técnica do ministério da Saúde, que diz que as infecções por coronavírus duplicarão a cada três dias se o contato social não for reduzido no Brasil.

Alguns com máscara, outros desdenhando do coronavírus, os manifestantes vão às ruas de diversas capitais com palavras de ordem contra o Congresso e o Judiciário e demonstrando apoio a Bolsonaro.

"Não tem preço", disse Bolsonaro, sem máscara hoje no Planalto, diante de milhares de seguidores, sobre os atos.

Veja a cobertura dos atos em tempo real e entenda o que está em jogo:

Como Bolsonaro se contradiz e mostra apoio aos atos

Apesar de ter pedido em rede nacional que seus apoiadores adiassem os atos, os perfis do presidente da República nas redes sociais estão ativos desde hoje de manhã e compartilham vídeos de atos que aconteciam em capitais como Belém do Pará e Brasília.

Em um dos posts, Bolsonaro escreveu: "Devemos lealdade ao povo brasileiro". Em nenhum deles até as 12h, ele havia citado os riscos que esses atos representam para a saúde pública.

PMs celebrando no RJ

Na última sexta-feira, o governador Wilson Witzel (PSC) afirmou que poderia usar a Polícia Militar para impedir aglomerações na praia. Porém, neste domingo ensolarado, os policiais militares não fizeram intervenções na praia ou no protesto.

Os PMs inclusive eram tietados por manifestantes e alguns comemoraram quando parte da avenida Atlântica foi fechada pelo público, que não parecia assustado com o Covid-19.

"O coronavírus, para mim, tem que ser respeitado, que é uma doença que tem sido falada no mundo todo. Mas teve o carnaval aí, povo tudo na rua e o ninguém pensou nisso. Agora, a gente tem que vir pra rua independente [do coronavírus] ".
Marcos Gaygher, 45, taxista vestia uma máscara com os dizeres "canalha vírus".

Para ele, como a manifestação é ao ar livre, não traz risco à saúde pública. Ao seu lado, um amigo taxista gritava "o vírus vai passar, o Bolsonaro vai ficar".

15.mar.2020 - O taxista Marcos Gaygher (dir.) e um colega de profissão foi a protesto em favor do presidente Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro - Pauline Almeida/Colaboração para o UOL - Pauline Almeida/Colaboração para o UOL
15.mar.2020 - O taxista Marcos Gaygher (dir.) e um colega de profissão foi a protesto em favor do presidente Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro
Imagem: Pauline Almeida/Colaboração para o UOL

Após a publicação desta reportagem, em nota, a polícia do Rio afirmou que é de "fundamental importância que a população entenda o momento crítico e de sacrifícios, onde o bom senso e responsabilidade devem prevalecer".

"Neste momento, os Secretários de Polícia Militar, Polícia Civil e Defesa Civil estão reunidos no Palácio Guanabara para traçar uma estratégia de ação conjunta e fazer com que as restrições do Decreto possam entrar em vigor", disse a nota.

Por que parte da direita protesta hoje

Os participantes dos atos acreditam que os parlamentares e os ministros do Supremo não têm colaborado com o governo de Bolsonaro — embora os Três Poderes sejam independentes entre si.

Os atos ganharam força também com a disputa entre Congresso e Bolsonaro por R$ 30 bilhões do Orçamento — os parlamentares querem ter o poder de decidir como e quando esses valores serão gastos. Bolsonaro chegou a fazer um acordo para reduzir essa fatia para R$ 15 bilhões, mas passou a usar as redes sociais e agora os protestos nas ruas para garantir que toda a verba seja coordenada pelo Executivo.

"Como o poder emana do povo, o povo entendeu que nós temos que estar aqui sim", disse no Rio a empregada doméstica Sônia Regina Oliveira, 64. Para ela, o governador Wilson Witzel, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), principais alvos dos manifestantes, queriam impedir os atos, mas não conseguiram.

Por que aglomerações ameaçam a saúde pública agora?

Com o crescimento de casos de coronavírus no Brasil, o ministério da Saúde recomendou que estados e municípios adotem medidas para restringir o contato físico no país e, assim, diminuir o ritmo das transmissões.

A ideia é dar tempo para que os hospitais tenham tempo para absorver os pacientes. A maior parte dos infectados desenvolvem sintomas leves ou não percebem que contraíram o vírus, mas podem transmiti-lo para idosos ou portadores de doenças crônicas. Nesses casos, a doença pode levar à morte.

A nova cepa do coronavírus, surgida na China no fim do ano passado, se espalha rapidamente pelo mundo e é transmitida pelo contato. Por isso, os países mais afetados pela crise estão fechando escolas e cancelando eventos públicos para evitar a propagação da doença.