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Witzel repudia convite de Crivella a Bolsonaro para inaugurar obra

Dikran Junior/Estadão Conteúdo
Imagem: Dikran Junior/Estadão Conteúdo

Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

02/04/2020 14h46Atualizada em 02/04/2020 14h51

O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), afirmou "lamentar muito" que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) seja aguardado amanhã na capital fluminense para participar da inauguração de um hospital de campanha ao lado do prefeito da cidade, Marcelo Crivella (Republicanos). O convite foi feito, mas Bolsonaro ainda não confirmou a presença.

"Neste momento, o exemplo que devemos dar é justamente o de não fazer política em cima de uma situação dramática como a que temos vivido. Os respiradores têm que funcionar nos hospitais, isso sim é fazer política em um momento como esse. Lamento profundamente [que Bolsonaro seja aguardado no evento]. Espero que o presidente coloque a mão na consciência e mude de postura", afirmou.

Crivella ainda aguarda o resultado de um exame que vai comprovar se ele foi ou não contaminado pelo novo coronavírus. O teste foi realizado depois de a secretária municipal de Saúde, Beatriz Bush, ter tido confirmada a infecção.

Witzel também aproveitou a oportunidade para comentar a publicação de um vídeo nas redes sociais do presidente na manhã de hoje. Na gravação, uma entusiasta de Bolsonaro pede para voltar a trabalhar e afirma que os governadores que seguem as recomendações de isolamento feitas pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e do Ministério da Saúde estão "fazendo política".

"Ele [Bolsonaro] está na contramão da história que temos vivido, na contramão dos líderes internacionais. Está completamente isolado nas suas manifestações e dificultando os trabalhos de prefeitos, governadores e ministros. Ontem mesmo, ele falava de desabastecimento em Minas Gerais, mas foi desmentido pela própria ministra da Agricultura Tereza Cristina", lembrou.

E continuou: "Manifestações confrontando povo e governadores são extremamente prejudiciais. O chefe de Estado tem liberdade de expressão, mas a responsabilidade do que se fala é muito grande para um presidente. A população não pode estar confusa nesse momento. Ela precisa acreditar nos seus governantes, já que estamos adotando medidas para salvar vidas. Ainda há tempo de reconsiderar as suas atitudes para evitar um mal maior a ele próprio."

Aproximação de Crivella e Bolsonaro

Isolado politicamente por se opor ao confinamento como estratégia para combater o novo coronavírus, Bolsonaro tem visto em Crivella a sua "tábua de salvação". Em meio a embates com governadores como Witzel e João Doria (PSDB), de São Paulo, Bolsonaro é aguardado amanhã na cidade, onde deve participar da inauguração de um hospital de campanha montado pela prefeitura.

De olho no apoio para as eleições municipais deste ano, Crivella pretende surfar no discurso da cooperação entre União e os municípios e recebe Bolsonaro de braços abertos.

Na última semana, o prefeito fez mais um aceno de parceria com o governo federal: poucas horas depois de Bolsonaro defender o isolamento vertical —no qual apenas grupos de risco ficariam reclusos, prática vista com ressalvas para o caso do Brasil— Crivella publicou um decreto autorizando a volta do funcionamento de alguns estabelecimentos do Rio.

Na mesma semana, em uma postagem na internet, o chefe do Executivo carioca celebrou a filiação do vereador Carlos Bolsonaro e do senador Flávio Bolsonaro (RJ) ao Republicanos, partido do qual faz parte.

Além de se mostrar próximo ao eleitorado evangélico —Crivella é bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus e sobrinho do bispo Edir Macedo—, Bolsonaro acredita que a parceria pode se contrapor ao discurso adotado pelo governador Witzel, que reclama frequentemente da falta de diálogo com a União.

Berço do bolsonarismo, o Rio de Janeiro tem se mostrado um suspiro para a popularidade do presidente. Sem poder lançar candidatos para concorrer pelo Aliança pelo Brasil (partido criado por ele, mas com registro ainda não aprovado pelo Tribunal Superior Eleitoral), Bolsonaro vê seu apoio ser disputado no Rio por Crivella e pelo deputado federal Otoni de Paula (PSC).

Governadores prometem ir ao STF contra Bolsonaro

Witzel também afirmou, na manhã de hoje, que os governadores das regiões Sul e Sudeste do País pretendem apresentar uma petição conjunta no STF (Supremo Tribunal Federal) contra Bolsonaro.

O documento já estaria redigido e seria apresentado na próxima semana, caso Bolsonaro não atenda às solicitações econômicas de combate ao coronavírus apresentadas em uma carta já entregue pelos governadores. De acordo com Witzel, o documento também pode ganhar a adesão dos governantes do Centro-Oeste.

"O Brasil não pode virar um grande banco. Nós precisamos de um pacto federativo. É necessário injetar nas regiões Sul e Sudeste, imediatamente, algo em torno de R$ 50 bilhões. Eu já apresentei uma proposta de judicialização, caso não tenha uma sinalização concreta nessa semana. Temos uma petição conjunta para ser protocolada no STF para fazer prevalecer o pacto federativo. O Supremo terá que mediar esse conflito", disse o governador durante entrevista coletiva.