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Alcolumbre 'ajuda' governo no dia em que Bolsonaro vai a ato anti-Congresso

Presidente do Senado, Davi Alcolumbre - ADRIANO MACHADO
Presidente do Senado, Davi Alcolumbre Imagem: ADRIANO MACHADO

Hanrrikson de Andrade e Eduardo Militão

Do UOL, em Brasília

19/04/2020 16h55

No mesmo dia em que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) discursou para manifestantes que pediam um golpe de estado, o chefe do Congresso Nacional, senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), buscou dar uma ajuda ao governo na tentativa de emplacar a MP (medida provisória) do Contrato Verde e Amarelo.

Pelo Twitter, o presidente do Senado sugeriu hoje que Bolsonaro faça uma reedição do texto proposto em dezembro do ano passado para que, dessa forma, o Parlamento tenha mais tempo de analisá-lo e votá-lo, em cumprimento ao rito constitucional.

A proposta enviada pelo Executivo no fim de 2019 flexibiliza regras trabalhistas a fim de, segundo os argumentos do Ministério da Economia, estimular a criação de empregos formais. A medida, no entanto, tem vários pontos polêmicos e sofre resistência de diversos setores.

Como não há consenso para deliberação, Alcolumbre decidiu na última sexta-feira (17) retirar a MP da pauta do Senado. Na prática, a decisão enterra a possibilidade de que ela seja votada a tempo de não perder a validade. O prazo final é até amanhã (20).

Ciente de que a proposição irá caducar, o chefe do Parlamento apresenta a Bolsonaro uma alternativa. Se ele reeditar o texto, o Congresso terá um novo prazo constitucional (120 dias) para avaliar a proposta e deliberar sobre ela. MPs precisam da aprovação das duas Casas (Câmara e Senado).

O tuíte de Alcolumbre foi publicado por volta de 16h. Até duas horas antes, Bolsonaro estava em frente ao quartel-general do Exército em Brasília discursando para uma multidão de militantes aglomerados em ato pelo fechamento do Congresso e o retorno do AI-5 (Ato Institucional nº 5) —que representou o período mais duro da ditadura militar, entre 1968 e 1985.

"Não queremos negociar nada", afirmou ele, usando camiseta rosa em cima de uma caminhonete branca.

O discurso foi transmitido ao vivo pelas redes sociais do próprio presidente. "Todos no Brasil têm que entender que estão submissos à vontade do povo brasileiro", disse ele, antes de começar a tossir bastante. "Chega da velha política."

Bolsonaro se junta a ato com pauta antidemocracia

Antes do discurso do mandatário, os militantes gritavam "Mito", "AI-5" e "fora, Maia" —uma referência ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Um homem berrou várias vezes "Fecha o Congresso, o STF" e sua voz foi captada pelos microfones dos cinegrafistas do presidente, que faziam a transmissão ao vivo.

Apesar de falar que não quer negociar nada, o presidente não esclareceu exatamente do que falava. Nesta semana, ele entrou em conflito com Rodrigo Maia mais uma vez.

"Eu estou aqui porque acredito em vocês", iniciou Bolsonaro.

"Vocês estão aqui porque acreditam no Brasil. Nós não queremos negociar nada. Nós queremos é ação pelo Brasil. O que tinha de velho ficou para trás. Temos um novo Brasil pela frente. Todos, sem exceção têm que ser patriotas. Acabou a época da patifaria. É agora o povo no poder. Mais do que um direito, vocês têm obrigação de lutar pelo país de vocês. Contem com o seu presidente."

Apesar dos pedidos de volta da ditadura, no discurso, Bolsonaro disse que é preciso "manter a nossa democracia" e a "nossa liberdade".

"Todos no Brasil têm que entender que estão submissos à vontade do povo brasileiro", disse o ex-capitão do Exército, antes de começar a tossir bastante. "Chega da velha política". Ele terminou o discurso tossindo.

Militares e seguranças do Palácio do Planalto, muitos sem máscaras, fizeram um cordão de isolamento para deixar o presidente longe das pessoas. Bolsonaro não apertou as mãos do público, mas acenou de longe.

Na pandemia de coronavírus, é recomendável usar máscaras, não sair de casa e evitar aglomerações.

Presidente discursa em frente ao QG do Exército