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Sem Brasil ter atingido pico, Bolsonaro quer "última semana" de quarentena

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

20/04/2020 10h57

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou hoje esperar que esta seja a "última semana dessa quarentena" e repetiu que, inevitavelmente, "70% [da população] vai ser contaminada" durante a pandemia do coronavírus

Ao deixar o Palácio da Alvorada, na manhã de hoje, Bolsonaro disse ter expectativa de que a medida de isolamento seja abandonada mesmo sem o Brasil ter atingido o pico de casos de covid-19.

Estimativas feitas pelo Ministério da Saúde indicam que isso deve ocorrer entre o fim de abril e meados de maio.

Ainda na visão do mandatário, o confinamento tem gerado mais problemas do que soluções. Uma das supostas sequelas seria o aumento da "violência dentro de casa".

Reportagem publicada hoje pela "Folha de S.Paulo" indica que as ocorrências de violência doméstica cresceram 20% em São Paulo durante a quarentena.

Para Bolsonaro, a violência dentro de casa aumenta porque, "onde falta pão todos, brigam e ninguém tem razão".

Problemas têm aparecido por aí. Tem aumentado a violência dentro de casa. Onde falta pão, todos brigam e ninguém tem razão, essa é uma máxima verdadeira
Jair Bolsonaro

Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, a promotora Fabíola Sucasas, do grupo de enfrentamento à violência doméstica do Ministério Público de São Paulo, e assessora de Direitos Humanos da Procuradoria-geral de Justiça, há duas vertentes do impacto do confinamento, que juntas multiplicam a vulnerabilidade da vítima.

"O confinamento amplia o acirramento das tensões de um relacionamento abusivo e reduz as condições da mulher de conseguir ajuda", diz.

Bolsonaro tem sido um defensor contumaz da flexibilização da quarentena e atacado os governadores e prefeitos que divergem dele em relação ao assunto. A argumentação do presidente é que a reclusão social tem um efeito devastador para a economia e resultará no desemprego em massa. A postura vai na contramão das autoridades sanitárias em todo o planeta.

"Eu espero que essa seja a última semana dessa quarentena. Dessa maneira de combater o vírus: todo mundo em casa. A massa não tem como ficar em casa porque a geladeira está vazia."

Sem citar nomes, o presidente também disse que "um ministro" chegou a defender que o governo editasse um decreto para multar os indivíduos que furassem a quarentena. A sugestão foi prontamente rechaçada, segundo Bolsonaro.

"Há algum tempo atrás, algum ministro meu queria que eu colaborasse em um decreto para multar quem está na rua. Eu falei: não. Não. Quem vai para a rua está atrás de emprego, ganhar um pão e levar um prato de comida para o filho em casa."

"Devemos falar para o povo: calma, tranquilidade. 70% vai ser contaminado. Ou vocês querem que eu minta aqui? Vamos ficar em casa dez anos, em casa preso, que está tudo bem? Não está bem."

Em sua fala, Bolsonaro, que ontem participou de ato em defesa de um golpe de estado, rebateu críticas e defendeu que o Congresso Nacional e o STF (Supremo Tribunal Federal) estejam "abertos e transparentes".