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OPINIÃO

Trevisan: "Ao se recusar a negociar, Bolsonaro faz a velha política"

Do UOL, em São Paulo

25/04/2020 04h00

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi eleito se apoiando no discurso contrário à velha política e ao toma lá dá cá, com a negociação de cargos em busca de uma base de apoio no Congresso. Mas na última semana o presidente se aproximou a partidos do chamado centrão com a oferta de cargos de segundo escalão em troca de apoio.

No podcast Baixo Clero #33, os jornalistas Diogo Schelp e Maria Carolina Trevisan comentam as movimentações de Bolsonaro em busca de uma base de apoio enquanto tenta tirar protagonismo do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

"Tem essa questão dele desse embate com o Rodrigo Maia. Na verdade, foi uma coisa que aconteceu logo depois da saída do ministro Luiz Henrique Mandetta. Era como se o Bolsonaro no momento em que ele deixa de ter um saco de pancadas, ele precisa escolher outro rapidamente", afirma Schelp (disponível no arquivo acima a partir de 40:45).

"A questão da velha política, Bolsonaro passou um ano inteiro, o primeiro ano de mandato dele, se negando a fazer política, o que não significa toma lá dá cá. Ele confunde política com politicagem ou com fisiologismo no caso. Política é negociar, buscar consenso. Velha politica, não na maneira como ele define, seria por excelência o fisiologismo que ele começou a fazer na semana passada quando começou a oferecer cargos do segundo escalão do governo para deputados do centrão. Isso é balcão de negócios, é justamente o que o Bolsonaro tinha prometido que não faria no governo dele", completa o jornalista.

Maria Carolina Trevisan vê o presidente perdendo sua base de apoio com as medidas de seu governo durante a pandemia do novo coronavírus e concorda com Schelp em relação ao presidente interpretar negociações com velha política.

"Ao se recusar a fazer política, ele passa a fazer a velha política", responde Trevisan.

"Ele primeiro perde o Congresso, aí ele perde o apoio do judiciário, o PSL, os governadores e perde os médicos com a saída do Mandetta. E aí ele começa a perder os militares também. O que sobra? Ele está ficando só com a bancada da bala e com os evangélicos. E aí os policiais estão começando a morrer. A doença é mais forte que tudo isso e o Bolsonaro vai ter que lidar com a doença em algum momento porque ele está perdendo toda a base dele. Para mim é o que fica mais evidente na hora em que ele começa a fazer essas negociações, até porque tem eleições para prefeito e ele vai ter de lidar com o congresso", conclui a jornalista (disponível no arquivo acima a partir de 37:52).

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