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Além do centrão, Bolsonaro buscará Podemos e Solidariedade para criar base

Desde o começo do mês, governo Bolsonaro já se reuniu com comandantes do PP, Republicanos, PSD e MDB  - Lucio Tavora / Xinhua
Desde o começo do mês, governo Bolsonaro já se reuniu com comandantes do PP, Republicanos, PSD e MDB Imagem: Lucio Tavora / Xinhua

Guilherme Mazieiro e Carla Araújo

Do UOL, em Brasília

23/04/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Jair Bolsonaro aumentou diálogo com partidos do centrão; nas próximas reuniões, conversará com partidos que já votaram com o governo
  • Movimento cria linha direta de partidos com o governo, mas líderes de Bolsonaro negam intenção de isolar Rodrigo Maia
  • Bolsonaro acusou o presidente da Câmara de "enfiar a faca" no governo federal

Na tentativa de criar uma base no Congresso, o governo Jair Bolsonaro (sem partido) vai ampliar as negociações e deve buscar aproximação com Podemos e Solidariedade. Desde o começo do mês, o presidente tem se reunido com os partidos de centro (atualmente as maiores bancadas, com ao menos 200 parlamentares). O objetivo agora é abrir uma segunda rodada de negociações junto às siglas que já votaram pautas do governo.

A ação de Bolsonaro estabelece pontes diretas entre os partidos e a articulação política do governo, sob responsabilidade de Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo). Essa proximidade busca enfraquecer o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), alvo de ataques do presidente e de seus correligionários.

O UOL apurou, junto a parlamentares e articuladores do governo, que nas tratativas não existe negociação por ministérios ou reforma ministerial. Mas há possibilidade de partidos indicarem nomes para cargos no Banco do Nordeste, Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação e secretarias do Ministério da Saúde.

"Governo está iniciando uma nova fase de diálogo político, mais próximo, que vai criar condições para que se possa ter definição ou não de formação de base. Todos os partidos que têm alguma afinidade com agenda econômica, como Solidariedade e Podemos, que já apoiaram pautas do governo, certamente poderão ser convidados", disse o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE).

Bezerra nega que haja tentativa de isolar Maia. Sobre os cargos, o senador disse que, "se dessas conversas vai se alcançar participação dos partidos no governo, precisamos aguarda os próximos dias".

Velha Política

Desde o começo do mês, Bolsonaro já se reuniu com comandantes do PP, Republicanos, PSD e MDB e deve se encontrar hoje com o presidente do DEM, ACM Neto. Todos integram o chamado 'centrão', grupo informal com pelo menos 200 parlamentares.

Bolsonaro já foi filiado ao PP, mas se elegeu pelo PSL, acusando esses partidos de fazer a "velha política" e praticar o "toma lá dá cá". Nos últimos dias, Bolsonaro também fez aceno ao presidente do PTB, Roberto Jefferson, delator do "mensalão", durante o governo do PT, e condenado a sete anos pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.

Porém, não há consenso em relação à formação de uma base. Desde o começo do mandato, a articulação de Bolsonaro contou com ajuda indireta de Maia, que tem afinidade com a pauta econômica da equipe de Paulo Guedes (Economia).

Nas últimas semanas, com o pano de fundo da ajuda fiscal a estados, Maia se desentendeu com o governo e acusou a equipe econômica de usar dados falsos para chamar projetos da Câmara de "pauta-bomba".

Crise do coronavírus motivou aproximação

O líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO), considerou que a aproximação de Bolsonaro com o Congresso se dá pelo tamanho da crise do novo coronavírus e o seu impacto na sociedade. A avaliação entre os articuladores políticos de Bolsonaro é de que não há ambiente para o Congresso avançar com um pedido de impeachment.

"Devemos elogiar a capacidade do governo para retomar o diálogo e a articulação e pelo lugar exato, pelo Congresso. Temos projetos para além da crise na área da infraestrutura, por exemplo. Quanto mais diálogo aberto e conversa com bancadas, tanto mais fácil ter previsibilidade", afirmou Gomes.

Nos bastidores, parlamentares relatam que, desde o final do ano, o governo contemplou deputados com cargos em estados e agora oferece participação maior em órgãos da administração, como fundos e secretarias.

"Não dá para comentar a conversa dos partidos com o presidente. Posso elogiar o diálogo. Jair Messias Bolsonaro foi o presidente que mais tempo atuou no Congresso, ficou 28 anos como parlamentar. Ele tem a forma dele fazer política, mas ninguém pode dizer que não conhece o Congresso", acrescentou o líder do governo no Congresso.