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Presidente do STF, Dias Toffoli diz que Brasil vive uberização da política

Do UOL, em São Paulo

11/05/2020 22h49

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Dias Toffoli, disse que o Brasil enfrenta aquilo que ele definiu como "uberização da política", durante entrevista ao "Roda Viva", da TV Cultura.

"Hoje, nós temos que pensar que as pessoas estão fazendo uma 'uberização da política'. O que está ocorrendo é que nessa 'uberização', as pessoas querem fazer política diretamente, querem o serviço na hora", avaliou ele, fazendo trocadilho com o nome do aplicativo Uber. (Assista ao vídeo acima)

Toffoli citou a nova maneira de fazer política que surgiu com as novas tecnologias e deu como exemplo o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que fala diretamente para o seu eleitor.

"Não há como negar que o presidente Bolsonaro foi eleito pela direita com uma proposta política liberal na economia e conservadora nos costumes. Ele colocou essa proposta pelos meios digitais e obteve a vitória nas urnas, quando 57 milhões de eleitores votaram nele.
(...) Ou seja, temos que pensar que hoje a forma de se fazer política com as novas tecnologias está mudando."

Durante a entrevista, Toffoli foi questionado ainda se a democracia no Brasil estaria em risco após atos antidemocráticos promovidos por apoiadores de Bolsonaro que pediam o fechamento do STF e do Congresso Nacional.

"A democracia é fruto da cultura humana e tem de ser defendida. Outra, o que está em jogo hoje não é a democracia em si, é a democracia representativa."

Toffoli disse também que Bolsonaro "dialoga" com extremos, "embora nunca tenha ouvido dele nada contra o Supremo".

"Ele dialoga com esse eleitor falando com os extremos, para tentar puxar o centro para lá. É uma linha política centrífuga, e evidentemente, que acaba havendo por parte de apoiadores —nunca ouvi diretamente dele, por exemplo, a respeito de algo contra o Supremo—, mas ele sim tem uma base que votou nele, e uma base de extremistas que defendem fechar o Supremo, o que é antidemocrático".

Relação turbulenta com Bolsonaro

Em abril, o ministro Alexandre de Moraes determinou a suspensão da nomeação de Alexandre Ramagem para a direção-geral da Polícia Federal.

Bolsonaro acatou a decisão, mas reclamou da interferência do poder judiciário e disse, publicamente, que não havia engolido aquela decisão.

Sobre a relação, muitas vezes turbulenta, entre o presidente Jair Bolsonaro e o STF, Toffoli disse que "o poder que não é plural, é violência"

"Como eu disse, inclusive numa manifestação pública sobre os atos: 'A Constituição governa os que governam, e ao Supremo, cabe ser o guarda da constituição e garantir os direitos e liberdades das minorias'. E isso, fizemos durante o último ano e meio" (...) Toda vez que o Supremo sofreu algum ataque, eu respondi, não por notinha, mas dentro do plenário do Supremo. Nos últimos dois meses fiz isso várias vezes. Tenho sempre agido com firmeza nisso", disse.

Aberto em março do ano passado por determinação do próprio presidente do Supremo, o STF investiga atualmente a criação de fake news em redes sociais. A investigação teria identificado que empresários bolsonaristas estariam financiando ataques contra ministros da Corte.

"Quando esse inquérito surgiu se deu a falsa ideia que o supremo iria investigar, acusar e julgar, não. Se faz a coleta daquilo que são os elementos e encaminha para os órgãos competentes. O dr. Aras, atual procurador-geral da República, inclusive, pediu acesso e até onde sei ele já teve acesso", disse Toffoli.

Trajetória

José Antonio Dias Toffoli foi o oitavo e último ministro nomeado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele chegou à corte em setembro de 2009, aos 41 anos, depois que uma vaga foi aberta com a morte do ministro Carlos Alberto Menezes Direito, vítima de um câncer. Na época, era o ministro mais jovem dos 11 que compunham o Supremo.

Bacharel em direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Toffoli foi da AGU e subchefe de assuntos jurídicos da Casa Civil antes de chegar ao STF.

Ele assumiu a presidência do STF em 2018, no lugar da ministra Cármen Lúcia.