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Doria fala em lockdown, mas secretário diz não haver "posição clara"

Carolina Marins

Do UOL, em São Paulo

15/05/2020 16h50Atualizada em 15/05/2020 22h03

O secretário dos Transportes Metropolitanos de São Paulo, Alexandre Baldy, afirmou hoje ao UOL Entrevista que ainda não foi acionado para discutir a possibilidade de um lockdown como medida de enfrentamento da pandemia do novo coronavírus.

"Esse aspecto [lockdown] nós ainda não fomos acionados para uma estratégia de fechamento total, uma restrição absoluta, que é o termo lockdown em inglês", afirmou. "Não discutimos até hoje sobre essa possibilidade. Como não discutimos isso até hoje, não temos essa posição clara."

Hoje, o governador João Doria (PSDB) afirmou que o protocolo está pronto, mas que não há previsão de ser adotado no momento.

"Nos protocolos do comitê de Saúde, existe o lockdown local e regional. Neste momento, não será aplicado. Estamos analisando dia a dia, com cuidado, com atenção, com as informações da equipe coordenada pelo Dimas Covas [coordenador do Centro de Contingência ao Coronavírus]. Volto a repetir, o protocolo existe, está pronto, mas não será aplicado neste momento. Se houver necessidade, aplicaremos e informaremos", disse.

Segundo o secretário, a posição do governador até o momento é a de alertar a população para que não seja necessário o decreto de restrições. "O distanciamento social é fundamental, é estratégico. Quanto maior for esse número, se chegarmos a 70%, essa necessidade de atos mais restritivos se torna desnecessária", acrescentou.

Segundo dados do governo de São Paulo, o estado alcançou ontem 48% de isolamento. O secretário ainda fez questão de diferenciar as medidas adotadas até aqui do conceito de um lockdown.

"Para aqueles que não entendem, lockdown é fechamento absoluto para que não haja pessoas percorrendo as ruas, saindo de suas casas. As outras atividades permitidas estariam então, necessariamente, sendo fechadas; e todas as pessoas que estiveram nessas, como indústria e construção civil, e outras que estão permitindo, seriam necessariamente obrigadas a ficar em casa", acrescentou.

Não foi avisado do megarrodízio

O secretário comentou sobre a implementação do megarrodízio na capital paulista e disse que a decisão foi inteiramente tomada pela prefeitura, sem consultar o estado. Mas se mostrou não favorável a medidas que aumentem a demanda pelo transporte público.

"Respeitamos a decisão que foi exclusiva da prefeitura, do prefeito Bruno Covas. Apoiamos a decisão do ponto de vista de aumentar a oferta de trens. A prefeitura tomou a decisão de decretar o rodízio, perfeitamente, houve a nossa interpretação de que haveria o aumento de pessoas no sistema de transporte, nós aumentamos fortemente o número de trens, fortemente o número de ônibus pela EMTU, para que a gente suportasse e desse apoio para a medida tomada pela prefeitura", disse.

"Agora nós, ao fim desta semana, podemos fazer uma reflexão e a prefeitura pode fazer uma análise aprofundada de quais são os impactos da ação da implementação que foi feita e todas as consequências geradas no transporte e em outras áreas de atribuição."

Para ele, as experiências a serem seguidas são de outros países que já passaram pela fase mais crítica da pandemia, como China, Coreia do Sul e alguns que ainda estão passando pelo pico, como Nova York e França.

"Todas essas experiências buscaram que fossem reduzidos o número de passageiros no transporte público, nós hoje temos essa realidade, nós temos em torno de 25 a 27% do número de passageiros de um dia normal, uma redução na ordem de 75% a 73% em média, aproximadamente, do número de pessoas que entram no metrô, que entram nos ônibus que são de responsabilidade do governo do estado", explicou.

"Então, por si só, essas medidas que possam não gerar aglomeração, elas são de efeito positivo no combate da covid-19, portanto aquelas que visam e ocasionam o contrário destas precisam ser bem refletidas."

Ainda assim, ele negou que haja atrito entre a prefeitura e o governo do estado:

"Não existe nada que divide, que rache ou que crie qualquer tipo de dificuldade entre a prefeitura e o governo do estado. Medidas a todo momento são sugeridas pelas equipes, sejam dos prefeitos, em qualquer parte do Brasil, sejam dos governadores."

Questionado sobre a declaração de Bruno Covas na qual ele ironizou o fato de o secretário não ter sido comunicado previamente do rodízio na cidade, Baldy disse ter sido essa uma fala infeliz, mas demonstrou compreender o prefeito.

"Eu compreendo o sentimento do prefeito que vive uma pressão muito grande. É a maior cidade do país, com o maior índice de pessoas infectadas buscando as unidades de saúde e ele fez uma declaração obviamente muito infeliz."

E esclareceu: "A nossa preocupação não era ser avisado ou estar sabendo antes, durante ou depois da medida que foi implementada. Era justamente planejar para compreender quais seriam as consequências e debater para que pudéssemos tomar algumas medidas de forma antecipada da implementação da mesma. Não me vem ao caso ser avisado, mas, simplesmente, que a gente consiga fazer com planejamento as ações que a gente precisa tomar".

Saída de Teich e falta de respiradores

Baldy lamentou a saída de Nelson Teich do comando do Ministério da Saúde e disse que a ação durante a pandemia causa insegurança e medo.

"É uma pena, é de se lamentar a saída do ministro da Saúde pelo fato de que é o momento em que as pessoas precisam ter segurança nas ações, nas atitudes, principalmente nas atitudes do governo federal, que é aquele que comanda verticalmente todas as ações da saúde pública brasileira, o maior programa de saúde pública e proteção social que tem sucesso em todo o mundo. É de se gerar mais insegurança, mais medo em toda a população."

Ele relembrou o tempo em que foi ministro das Cidades, durante o governo Michel Temer:

"O estar ministro é uma função muito desafiadora. São desafios a todo momento em todas as partes do Brasil, sobretudo no Ministério da Saúde, que de longe é o mais desafiador do nosso país. Atuei em um ministério que era muito capilar, o Ministério das Cidades, com programas como o Minha Casa, Minha Vida, de saneamento, mas estar ministro da Saúde em um momento de pandemia é um desafio com pressão e sem um manual, sem um procedimento do que precisamos fazer de acordo com precedentes."

Mas também reclamou do período de gestão de Teich, principalmente devido à falta de respiradores para os estados. "[Vivemos] um momento crítico, muito conflituoso. Veja, a aquisição de respiradores: o governo federal comprou 14 mil respiradores e só distribuiu pelo Brasil em torno de 400", afirmou.

"É realmente de se preocupar pela falta de convergência das políticas públicas e sobretudo porque a função do Ministério da Saúde é muito importante, porque a Unidade Básica de Saúde, aquela de casos de baixa complexidade, ela é de responsabilidade da prefeitura. Ela obviamente é mantida, suportada pelo SUS, que é de gerenciamento e governança total do Ministério da Saúde".

Outro lado

Após a publicação desta reportagem, a assessoria de imprensa do Secretário dos Transportes Metropolitanos de São Paulo procurou o UOL para contradizer a informação dita em vídeo publicado neste link. Leia a íntegra da nota assinada por Alexandre Baldy:

"Tirar do contexto uma única frase para chancelar uma narrativa que inexiste não é aceitável para um jornalismo de qualidade. Nunca houve qualquer discordância entre a minha posição e a do governador João Doria. Pelo contrário, estamos todos em busca das melhores práticas para salvar vidas. A política de lockdown como medida de enfrentamento ao coronavírus é uma possibilidade que, se necessária, a equipe de contingência da covid-19 recomendará aplicar. Polemizar, em um momento em que estamos todos em busca de salvar vidas, não contribui em gerar segurança às pessoas."