MDB resiste a cargos de Bolsonaro, mas enfrenta divergências internas
Sob pedidos de impeachment, crise na saúde, na economia, e com aumento dos índices da reprovação pública, Jair Bolsonaro (sem partido) abriu negociações com o centrão para tentar garantir governabilidade.
Entre os partidos que se sentaram para dialogar, o MDB tenta ficar próximo ao poder e distante da indicação de cargos e investidas do presidente, mas enfrenta resistência interna de parlamentares que cobram espaço na máquina pública.
No dia 22 de abril, Baleia se reuniu com Bolsonaro para discutir "propostas", mas não cargos, segundo afirmou o emedebista. O partido que desde a redemocratização esteve próximo ao poder evita o elo com o bolsonarismo na sua estratégia de renovação.
Um dos motivos para isso é que já tem bom trânsito dentro do Planalto. Além disso, não vê razão para participar do movimento de Bolsonaro que tenta enfraquecer o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
A bancada está alinhada a projetos econômicos liberais e tem dois senadores como líderes que trabalham pelo presidente. No Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), e no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO).
"O MDB é plural e, sobretudo, democrático. Na democracia, ouve-se a opinião de todos, mas respeita-se a decisão da maioria. A maioria do MDB quer o partido independente. Tenho de presidir o partido nessa direção", disse Baleia ao UOL.
A bancada ruralista, uma das bases de apoio de Bolsonaro, indicou Tereza Cristina para pasta da Agricultura. O líder do frente na Câmara, Alceu Moreira (MDB-RS), é outro braço do MDB que tem abertura junto ao governo e à estrutura da pasta.
"Não podemos trocar cargos por apoio político. Devemos fazer o que já fazemos desde 2019: votar os projetos de interesse do País. Em especial, aqueles que convergem com o que acreditamos, como a agenda de reformas e de recuperação econômica", defendeu Baleia Rossi.
Ao estilo MDB, que evita posições radicais, quem quer cargo no governo adota tom moderado para divergir de Baleia. No partido, há movimentos em setores do Norte e Nordeste que buscam apoio para a sigla ter espaço nas áreas de saneamento, infraestrutura e obras na máquina pública.
"Eu sou defensor de entrar no governo (com cargos). Uma coisa é negociar e entrar para roubar, outra é para construir juntos. E é isso que a gente quer. Então, se assumirmos alguma pasta e entregarmos um trabalho bem feito, o carimbo desse mérito vai para o MDB", disse Hildo Rocha (MDB-MA), sem indicar em quais cargos poderia atuar.
O nome do parlamentar do Maranhão chegou a ser cotado para a vice-liderança do governo na Câmara, mas não avançou.
O líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (AM), considerou que o partido não pode fazer um alinhamento automático a Bolsonaro.
"Acho que o [ex-presidente do MDB] Ulysses [Guimarães] vai chamar São Pedro e falar 'me dá uma chance de ressuscitar'", disse.
Segundo Braga, os que querem manter a independência hoje são a maioria no Senado. "Isso não quer dizer que não tenhamos diálogo, que não conversamos, que não ajudemos o Brasil. Mas sermos coniventes, não", falou.
Alinhado à visão de Hildo Rocha, Isnaldo Bulhões Jr. (MDB-AL), afirma que a melhor maneira de entregar resultados para o eleitorado é dentro da máquina pública.
"Se o governo partir para política de coalizão, que parece que é o caminho que está buscando, acho válido participar com indicação. Não vejo problema, de maneira republicana, em atuar conjuntamente. Mas essas discussões são naturais da bancada, sem racha", afirmou Bulhões.
Por fora do Congresso, corre o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, que é simpático a Bolsonaro. Ele promoveu a reconciliação do mandatário com o ex-deputado bolsonarista Aberto Fraga (DEM-DF) e prometeu benesses ao governo da capital.
Mudança ao centro
Baleia, que assumiu a presidência da agremiação em outubro do ano passado tenta mudar a cara do partido para deixá-lo mais distante de escândalos de corrupção e com ar de renovação. As redes sociais da legenda ficaram mais ativas e, por ela, divulga -se a campanha #PontodeEquilíbrio como mote de atuação política.
O deputado afirma que o partido não faz parte do centrão, mas o grupo tem composições junto aos partidos que barganham postos no governo como PP, Republicanos, Solidariedade, PL e Avante.
O líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), lembrou que o partido tem a maior quantidade de prefeitos no Brasil. Em 2016, das 5.570 prefeituras, elegeu-se em 1.028 delas. Gomes entende que é preciso ponderar a eventual aproximação de acordo com o programa de governo. Ele avaliou que, a cada momento, a dinâmica política muda. Hoje, Bolsonaro está mais aberto, pondera.
"O MDB tem senso crítico. Se tiver essa aproximação, será natural. Em política, você tem três posições. Ou você está no meio, indeciso, lugar sempre criticado. Ou está na oposição, ou está no governo. O partido sempre foi de tomar uma posição", considerou Gomes.
Osmar Terra
Voz contrária à condução discreta, Osmar Terra (MDB-RS) é apoiador de primeira hora de Bolsonaro. Assim como o presidente, relativiza a pandemia de covid-19 e o isolamento social.
Após a demissão de Nelson Teich do Ministério da Saúde, o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) aparece como um dos cotados a assumir a pasta. O MDB, porém, não apoiará formalmente o deputado se ele for escolhido para o cargo.
O entendimento é de que, se ele for chamado para o ministério, não precisará de autorização do partido. No entanto, a decisão será tomada como "pessoal" e ele será afastado de todas as atividades partidárias.
O movimento pode ser mais uma demonstração de que o partido vai se manter ao centro, tentando se afastar do toma lá dá cá e de manchetes negativas, avaliou uma fonte do partido.
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