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"Bolsonaro sempre quis legalizar as milícias", diz Maierovitch

Wanderley Preite Sobrinho e Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

19/05/2020 12h37

Ao longo de sua carreira política o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) "sempre elogiou e quis legalizar as milícias". A declaração é do desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo Wálter Maierovitch, conhecido por sua colaboração em uma investigação que localizou mafiosos sicilianos.

Em entrevista aos colunistas do UOL Tales Faria e Chico Alve hoje, Maierovitch afirmou ainda que a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça e a revelação de que o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) foi avisado sobre uma investigação de seu interesse estão relacionados com "uma clareza solar".

Segundo o jurista, as milícias no Rio de Janeiro têm tentáculos na política, assim como a máfia italiana "elegia membros da democracia cristã".

"Não sou hipócrita em achar que milícia não elege ninguém. A máfia elegia membros da democracia cristã. As [milícias], que tem controle de território e social, difundem o medo (...) determinam ordem de fechamento de comércio (...) Eu vou fingir que não tem controle eleitoral? É lógico que tem", disse.

O próprio presidente Bolsonaro sempre elogiou e quis legalizar as milícias como uma forma de segurança pública. Mostra um interesse nas milícias
Wálter Maierovitch, jurista

"Dá para alguém conceber que um [então] deputado estadual pegue a maior comenda da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e vá condecorar um miliciano na cadeia?", questiona.

Ele se refere ao dia 9 de setembro de 2005, quando então tenente da PM Adriano Magalhães da Nóbrega —acusado de homicídio— recebeu na cadeia a Medalha Tiradentes do então deputado Flávio Bolsonaro.

Flávio e Moro

Maierovitch também relacionou a saída de Moro à revelação feita pelo empresário Paulo Marinho de que Flávio Bolsonaro foi avisado com antecedência sobre uma investigação da Polícia Federal em seu gabinete. "A ligação é de uma clareza solar", afirmou o jurista.

"Mostra que sempre a família Bolsonaro, quer o presidente, quer o filho [Flávio] e o outro filho também que é deputado [Eduardo] e o outro que é vereador [Carlos], tem um interesse em assuntos relativos à policia judiciária."

Moro deixou a Esplanada dos Ministérios acusando Bolsonaro de tentar interferir no trabalho da Polícia Federal ao desejar indicar para o comando da PF do Rio de Janeiro um homem de sua confiança.

Maierovitch afirma que a matéria da Folha "vem como uma pedra fundamental para esse quebra-cabeça que eu vou chamar de família Bolsonaro".

"Um indício fortíssimo que reforça a suspeita de interesse do presidente da Republica, privado, em tentar descobrir algo que afete não ao poder Executivo, mas a polícia judiciária, um órgão auxiliar que presta serviço ao Ministério Público e Judiciário e não tem nada a ver com a Presidência da República."

À Folha de S.Paulo, o empresário Paulo Marinho disse que Fabrício Queiroz, que trabalhava no gabinete de Flávio, e sua filha, Natalia Queiroz, empregada no gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro, foram demitidos assim que Flávio soube da operação da PF. Para Maierovitch, as demissões não foram por acaso.

"Queiroz e Natália foram ao mesmo tempo defenestrados tão logo se teve a notícia. Mas quem são eles? Foram defenestrados sem mais? Não. Eram ligados à família. O Queiroz era o braço direito e até botou dinheiro na conta da esposa do presidente. De repente recebe um pontapé. Aí está um indicativo que amarra, é importante. Essa operação foi suspensa, o que deu um prazo para que essas pessoas fossem dispensadas. (...) É uma peça importante, indicativo [de prova], como dizem os juristas, com lastro de suficiência."