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Marinho pede a MPF investigação por suposta devassa em contas bancárias

Após depor por 5 h na PF, Marinho é ouvido no MPF sobre suposto vazamento - JOSE LUCENA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Após depor por 5 h na PF, Marinho é ouvido no MPF sobre suposto vazamento Imagem: JOSE LUCENA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

21/05/2020 17h19

O empresário Paulo Marinho deixou o MPF (Ministério Público Federal) após quase três horas de depoimento na tarde de hoje. No local, ele voltou a falar sobre suposto vazamento de informações envolvendo a Operação Furna da Onça, em 2018 —um delegado da PF teria vazado para o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) a existência de uma investigação contra o ex-assessor Fabrício Queiroz.

Ao sair do MPF, o empresário disse ter repetido as informações dadas ontem em depoimento à PF e afirmou que pediu à procuradoria que investigue uma suposta devassa feita em suas contas bancárias por retaliação à entrevista dada ao jornal Folha de S. Paulo, no último domingo (17).

"Fiquei impressionado com tudo isso e solicitei ao procurador que apurasse a veracidade da informação", resumiu.

À jornalista Mônica Bergamo, que publicou a informação sobre a possível retaliação, a defesa de Marinho se disse "impressionada". Já o Banco Central afirmou que não comentaria "casos específicos".

Marinho também afirmou que no depoimento de hoje pôde reapresentar os fatos com "maior riqueza de detalhes".

De acordo com ele, a PF solicitou informações relativas a um período específico. "Meu depoimento [de hoje] é mais rico em detalhes. Na PF, determinaram uma determinada data do interesse deles à investigação. Aqui, o depoimento foi ilimitado. Houve riqueza de detalhes e maior noção de tempo em que os fatos ocorreram", concluiu.

Marinho também fala sobre ameaças

Questionado sobre as ameaças que vêm recebendo desde que relatou os fatos, o empresário disse "ter coragem". "Um sujeito que toma a decisão que tomei precisa ter coragem, depois ser casca grossa", resumiu.

Desde o último domingo, Marinho conta com proteção especial concedida pelo governador Wilson Witzel (PSC). "Não tenho informações da origem dessas ameaças, elas se dão sempre nas redes sociais. Eu tenho quatro filhos e uma neta que vai nascer. Eu preferi não tomar conhecimento disso [das ameaças]. Sou uma pessoa analógica, meu filho é quem me informa", disse.

Logo depois, em entrevista à CNN, o governador afirmou que concedeu proteção emergencial ao empresário, mas que ele deve formalizar o pedido de segurança ao serviço de proteção à testemunha.

"Para o senhor Paulo Marinho, que fez graves denúncias contra o senador Flávio Bolsonaro, envolvendo alguns agentes da Policia Federal, é importante que os fatos sejam esclarecidos, mas todo esse contexto vem corroborando para interferência política na PF. A testemunha Paulo Marinho, se precisar, terá que pedir ao programa de proteção à testemunha"

Empresário irá depor mais uma vez

Marinho voltou a prestar esclarecimentos em menos de 24 horas, já que o MPF também abriu um procedimento investigatório criminal e pediu o desarquivamento do inquérito policial. Há dois anos, o caso foi arquivado depois que a própria PF considerou não ter evidências.

Mais cedo, o empresário afirmou que é o principal interessado em esclarecer os fatos e que foi orientado pela PF a não fornecer mais detalhes sobre os seus relatos.

O coordenador do Núcleo de Controle Externo da Atividade Policial do MPF, Eduardo Benones, acompanhou o depoimento de ontem na sede da PF. No entanto, na visão do órgão, é necessária uma oitiva do empresário sem a presença de policiais federais.

O silêncio do empresário tem motivo: ouvido como testemunha do inquérito, ele chegou a solicitar uma cópia do seu depoimento. No entanto, foi alertado por policiais federais que teria que solicitar formalmente o documento e que, como o caso envolve um senador da República, qualquer vazamento seria considerado crime.

O empresário ainda deverá falar uma terceira vez. A PGR (Procuradoria-Geral da República) solicitou que ele seja ouvido no âmbito do inquérito aberto no STF (Supremo Tribunal Federal), que apura acusações do ex-ministro Sergio Moro ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Empresário não conseguiu imagens de reunião

Como UOL mostrou na tarde de ontem, Marinho apresentou à PF os comprovantes de reserva de uma sala de reunião e estadia no Hotel Emiliano, nos Jardins, região nobre de São Paulo, no dia 14 de dezembro de 2018. No entanto, a defesa dele não conseguiu reunir as imagens de segurança do hotel, que já havia descartado os registros em vídeo de entrada e saída de pessoas na data em questão.

No local, ele diz ter se reunido com os advogados Ralph Hage Vianna, Antônio Pitombo e Victor Alves (que trabalha até hoje com o senador Flávio Bolsonaro), além do ex-ministro Gustavo Bebianno, morto em março deste ano. Segundo o empresário, na ocasião teria ocorrido a segunda reunião para tratar de suposto vazamento envolvendo a Operação Furna da Onça.

Com as imagens, o empresário esperava comprovar quem esteve presente no encontro. Porém, fontes ligadas ao empresário e funcionários do hotel informaram ao UOL que o único registro da reunião é uma Ordem de Serviço emitida naquela data para reserva da sala de videoconferência da unidade informando a presença de até seis pessoas, sem especificar quem seriam os convidados.

Intimações ocorrem depois de entrevista

As intimações para depoimentos acontecem depois de o empresário —que é suplente de Flávio Bolsonaro no Senado— ter declarado ao jornal Folha de S.Paulo que o filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi alertado com antecedência pela PF sobre a Operação Furna da Onça, que prendeu deputados da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro). O filho mais velho não era, contudo, alvo da ação da Lava Jato.

Em razão dos fatos narrados na entrevista, a corregedoria da PF abriu um inquérito que também deve ouvir policiais federais e delegados para apurar os fatos.

A denúncia de Paulo Marinho

Segundo o empresário, que apoiou a candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência e hoje é pré-candidato do PSDB à Prefeitura do Rio de Janeiro, Flávio Bolsonaro teria sido avisado da existência da operação entre o primeiro e o segundo turnos das eleições por um delegado da Polícia Federal que era simpatizante da candidatura de Jair Bolsonaro.

De acordo com o que relatou à Folha, os policiais teriam segurado a operação, então sigilosa, para que ela não ocorresse no meio do segundo turno, evitando prejuízo à então candidatura de Bolsonaro.

A Operação Furna da Onça tornou público relatório do antigo Coaf que aponta movimentação atípica na conta de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio. O documento também apresenta indícios da prática de rachadinha no gabinete do filho mais velho de Jair Bolsonaro.

O delegado-informante teria aconselhado ainda Flávio a demitir Queiroz e uma das filhas dele, Nathália Queiroz, que trabalhava no gabinete de deputado federal de Jair Bolsonaro em Brasília.

Em nota, Flávio Bolsonaro disse que Marinho, ex-aliado da família Bolsonaro, se deixou tomar pela ambição e o acusou de querer sua vaga no Senado.

"O desespero de Paulo Marinho causa um pouco de pena. Preferiu virar as costas a quem lhe estendeu a mão. Trocou a família Bolsonaro por Doria e Witzel, parece ter sido tomado pela ambição. É fácil entender esse tipo de ataque ao lembrar que ele, Paulo Marinho, tem interesse em me prejudicar, já que seria meu substituto no Senado", afirmou Flávio, em nota à imprensa.