Após depor por 5 h na PF, Marinho é ouvido no MPF sobre suposto vazamento
O empresário Paulo Marinho depõe na tarde de hoje, desta vez na sede do MPF (Ministério Público Federal) do Rio de Janeiro. Ontem, o empresário depôs por mais de cinco horas à PF (Polícia Federal) sobre suposto vazamento de informações envolvendo a Operação Furna da Onça, em 2018 —um delegado da PF teria vazado para o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) a existência de uma investigação contra o ex-assessor Fabrício Queiroz.
Marinho volta a prestar esclarecimentos em menos de 24 horas, já que o MPF também abriu um procedimento investigatório criminal e pediu o desarquivamento do inquérito policial. Há dois anos, o caso foi arquivado depois que a própria PF considerou não ter evidências.
Ao chegar à sede do MPF, no centro do Rio, o empresário afirmou que é o principal interessado em esclarecer os fatos e que foi orientado pela PF a não fornecer mais detalhes sobre os seus relatos.
O coordenador do Núcleo de Controle Externo da Atividade Policial do MPF, Eduardo Benones, acompanhou o depoimento de ontem na sede da PF. No entanto, na visão do órgão, é necessária uma oitiva do empresário sem a presença de policiais federais.
O empresário ainda deverá falar uma terceira vez. A PGR (Procuradoria-Geral da República) solicitou que ele seja ouvido no âmbito do inquérito aberto no STF (Supremo Tribunal Federal), que apura acusações do ex-ministro Sergio Moro ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Marinho não fala sobre depoimento
Na noite de ontem, o empresário parou para falar com os jornalistas, mas não deu nenhuma declaração sobre a oitiva. "Por determinação da autoridade policial esse inquérito corre sob sigilo. Para não prejudicar as investigações não posso dar nenhuma declaração a respeito do meu depoimento", afirmou.
Pouco depois, em sua conta no Twitter, ele, se manifestou sobre o tema: "Por mais de cinco horas, trouxe detalhados elementos que vão auxiliar a investigação, indo ao encontro do que Sergio Moro trouxe à tona. Por ordem da autoridade policial, não posso revelar o teor do meu testemunho", afirmou.
O silêncio do empresário tem motivo: ouvido como testemunha do inquérito, ele chegou a solicitar uma cópia do seu depoimento. No entanto, foi alertado por policiais federais que teria que solicitar formalmente o documento e que, como o caso envolve um senador da República, qualquer vazamento seria considerado crime.
Empresário não conseguiu imagens de reunião
Como UOL mostrou na tarde de ontem, Marinho apresentou à PF os comprovantes de reserva de uma sala de reunião e estadia no Hotel Emiliano, nos Jardins, região nobre de São Paulo, no dia 14 de dezembro de 2018. No entanto, a defesa dele não conseguiu reunir as imagens de segurança do hotel, que já havia descartado os registros em vídeo de entrada e saída de pessoas na data em questão.
No local, ele diz ter se reunido com os advogados Ralph Hage Vianna, Antônio Pitombo e Victor Alves (que trabalha até hoje com o senador Flávio Bolsonaro), além do ex-ministro Gustavo Bebianno, morto em março deste ano. Segundo o empresário, na ocasião teria ocorrido a segunda reunião para tratar de suposto vazamento envolvendo a Operação Furna da Onça.
Com as imagens, o empresário esperava comprovar quem esteve presente no encontro. Porém, fontes ligadas ao empresário e funcionários do hotel informaram ao UOL que o único registro da reunião é uma Ordem de Serviço emitida naquela data para reserva da sala de videoconferência da unidade informando a presença de até seis pessoas, sem especificar quem seriam os convidados.
"Não há necessidade de se identificar para chegar à sala de reunião. A solicitação de identidade é feita apenas para acesso aos quartos", diz um dos recepcionistas do hotel da rua Oscar Freire.
Intimações ocorrem depois de entrevista
As intimações para depoimentos acontecem depois de o empresário —que é suplente de Flávio Bolsonaro no Senado— ter declarado ao jornal Folha de S.Paulo que o filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi alertado com antecedência pela PF sobre a Operação Furna da Onça, que prendeu deputados da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro). O filho mais velho não era, contudo, alvo da ação da Lava Jato.
Em razão dos fatos narrados na entrevista, a corregedoria da PF abriu um inquérito que também deve ouvir policiais federais e delegados para apurar os fatos.
A denúncia de Paulo Marinho
Segundo o empresário, que apoiou a candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência e hoje é pré-candidato do PSDB à Prefeitura do Rio de Janeiro, Flávio Bolsonaro teria sido avisado da existência da operação entre o primeiro e o segundo turnos das eleições por um delegado da Polícia Federal que era simpatizante da candidatura de Jair Bolsonaro.
De acordo com o que relatou à Folha, os policiais teriam segurado a operação, então sigilosa, para que ela não ocorresse no meio do segundo turno, evitando prejuízo à então candidatura de Bolsonaro.
A Operação Furna da Onça tornou público relatório do antigo Coaf que aponta movimentação atípica na conta de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio. O documento também apresenta indícios da prática de rachadinha no gabinete do filho mais velho de Jair Bolsonaro.
O delegado-informante teria aconselhado ainda Flávio a demitir Queiroz e uma das filhas dele, Nathália Queiroz, que trabalhava no gabinete de deputado federal de Jair Bolsonaro em Brasília.
Em nota, Flávio Bolsonaro disse que Marinho, ex-aliado da família Bolsonaro, se deixou tomar pela ambição e o acusou de querer sua vaga no Senado.
"O desespero de Paulo Marinho causa um pouco de pena. Preferiu virar as costas a quem lhe estendeu a mão. Trocou a família Bolsonaro por Doria e Witzel, parece ter sido tomado pela ambição. É fácil entender esse tipo de ataque ao lembrar que ele, Paulo Marinho, tem interesse em me prejudicar, já que seria meu substituto no Senado", afirmou Flávio, em nota à imprensa.
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